As Crônicas Da Guerra [Livro 1] Revolta por Sangue.

Capítulo 1

Otrin, o senhor chefe da Cidade Laranja, levava seu neto para aprender a caçar. O senhor chefe era um homem de trinta e sete anos, com cabelo ruivo-alaranjado e pele branca. Em suas costas ele carregava um arco e suas flechas para a caçada. Diferente do seu neto, que montava a cavalo, Otrin montava um urso gigante e de pelagem negra.

— Yoko! Vai devagar! — gritou. Seu neto era um garoto de 12 anos. Um jovem com a pele mais morena do que a do Senhor chefe e possuía olhos azuis cristalinos, que chegava a brilhar em noite de plena escuridão. Vestia roupas de couro escurecido e usava uma grande capa azul. — Vai acabar se perdendo. Anda. É por aqui.

Yoko puxa as rédeas do seu cavalo, com uma pose desajeitada.

— Eu sei, vô. — O menino se aproxima desajeitadamente. — Viu? Já estou aprendendo a dominar o Relâmpago. — Seu neto acabara de ganhar seu cavalo, o Relâmpago, um jovem potro dado pelo Sor Gandal, o braço direito de Otrin.

— Dá para perceber — ironizou Otrin. — Mais um pouco e seu cavalo vai desaparecer igual um relâmpago de verdade.

Os dois partem em direção a floresta de caça, seguindo pelo caminho das Colinas de Fúria, colina essa famosa pela batalha contra um dos últimos Vaniryons, Meitrix, que havia descido com uma serpente alada para dominar a Cidade Laranja. A paisagem era um pouco deformada, sem muitas vegetações rasteiras, apenas um rastro de uma enorme queimadura. O cheiro de grama queimada ainda perdurava o ambiente, o terror daquele dia ainda se fazia presente. "Vaniryons...", pensou Otrin, "Meus antigos guerreiros teriam vergonha de mim..". Seus olhares acham seu neto Yoko.

Yoko nota os olhares pensativos.

— O que foi, vô? perguntou.

— Já ouviu falar sobre os Sangue Dragão? — O senhor chefe para seu urso negro. — Sabe quem foram os maiores guerreiros deste mundo?

— Já ouvi alguns guerreiros e escravos contando sobre — respondeu Yoko. — São heróis ou vilões?

— São descendentes da antiga serpente. — Otrin segue caminho com seu urso. — É apenas isso.

Eles chegam ao seu destino, a Floresta Vermelha, que possui duas grandes árvores fazendo a vanguarda da estrada que dava acesso a ela. Os troncos eram brancos com detalhes marrom na base, suas folhas tinham um tom carmesim bem forte. Ao passar das vanguardas de copas carmesim, eles se deparam com um local bem iluminado e agradável. O sol repousava suavemente em suas peles, trazendo uma sensação reconfortante para eles. As folhas sangue, que antes caíram, formavam um fino tapete vermelho natural que se estendia por uma imensa área.

Yoko coloca Relâmpago a galope e adentra a floresta mais a fundo, levantando o fino tapete vermelho. Otrin entendia essa atitude do seu neto, era sua primeira vez ali. Por mais que fosse famosa em todo o território de Mytraãn, a Floresta Vermelha não era recomendada para pessoas comuns e nem para guerreiros fracos e sem treinamento. Contos rodeiam aquela região carmesim, contos esses que falam de um enorme pássaro vermelho com uma calda feita de ruby. Dizem que é a serpente alada do Meitrix Vaniryon, que havia se escondido na floresta após a morte do seu dono.

Otrin dá uma forte balançada nas rédeas da sela de seu urso, alcançando Yoko.

— Vai com calma, rapazinho. Não conhece os contos desta floresta? — Otrin desse da sua montaria. — Anda, vamos caminhar um pouco.

Yoko desce do seu potro, quase caindo da sela.

— Já chegamos em nosso local de caça? — indagou, puxando o Relâmpago para acompanhar seus passos.