Coração de Cristal

Quem precisa se curar?

RED POV

Não conseguia dormir, não tinha como. Se revirava de um lado para o outro, em busca de achar em si respostas. Bem, agora entendia que a forma na qual se sentia era normal, mas não significava que Chloe também acharia isso. Ela mesmo disse. 

"É errado. Isso é errado." 

As palavras da amiga ecoaram, ou melhor, da ex-amiga. Não, não queria pensar assim. Red decidiu se levantar, e caminhar. Não dormiria de qualquer forma. 

Fugiu do castelo de copas, como sempre fazia num passado que se apagou diante ao relógio de bolso. O qual, Andava sempre consigo. Em sua caminhada, não pode deixar de olhar para ele a cada minuto, segurava o objeto, passando os dedos sobre ele, pensando que seria melhor se aquele presente não existisse. 

Mas algo é ouvido. Um guarda? Não, um galho se quebra atrás dela. 

- Quem está ai?

Nada. Silêncio. Red tenta prender a própria respiração. A noite é silenciosa, mais que o normal, mas mesmo assim. Suspirou. Nada. Não ouvia nada, devia ser um animal silvestre. Andou com cautela até chegar num riacho que cruzava as terras do País das Maravilhas, estava perto da Toca do Coelho, mas não pretendia voltar. Sentou-se perto do rio.

- Bem que eu não gostaria de estar sozinha agora. 

Acariciava com pesar o Relógio.

Não passou segundos, ouviu passos atrás dela.

Ela levantou com presa, escorregando, molhando os pés na agua do riacho, mas se manteve em pé.

- Desculpe.. - Saio das sombras uma garota, mais alta que Red, mais bonita que Red.. mais.. atraente. 

- Ah, não, não. Tudo bem eu acho. - Red nota que está no riacho e tenta voltar para a terra. A garota misteriosa estende a mão. Red não sentiu maldade, e suspirou ao sentir o toque e ser puxada para cima.

Elas pararam de frente uma para outra, um sorrio envergonhado saiu da menina e ela se afastou.

- O que faz aqui no meio da noite? - Red perguntou e guardou o relógio.

- Ah, bem, comecei a ouvir um tic-tac infernal.. E minha mãe disse que se eu ouvisse deveria seguir o barulho.

- Que estranho, porque ela diria isso?

- Bem, foi assim que ela viveu uma grande aventura. - A garota sorriu. Red começou a observa-la melhor.

A garota era mais alta, usava um vestido longo azul escuro. Era loira com um corte no queixo, suas feições eram suaves, e seus olhos eram verdes.

- Você é filha da Alice? Aquela que cruzou a barreira da Toca de Coelho.

- Eu mesmo, me chamo Allison, pode me chamar de Ally se preferir. Minha mãe e eu moramos aqui. 

- Ah é.. eu também moro aqui.

- Deu para notar, essas roupas e corações, você é a princesa Red. É uma honra. 

Allison se curvou, Red ficou com vergonha. 

- Não precisa disso.. Não curto essas coisas de realeza.

- Ah, claro, sem etiqueta então.

Red assentiu e se sentou na grama, Allison fez o mesmo, alguns passos de distância.

- E então? É a aventura que esperava?

- Não, mas pode ser o começo dela.

Red sentiu seu rosto corar. Ela estava flertando?

- Por que saiu do castelo esse horário? - Allison pergunta, sem malicia na voz, parecia uma preocupação genuína. 

- Ah, bem, nem era para eu estar aqui. Eu estudo em Auradon..

- Já ouvi falar, então você fugiu?

- Sim.. he, é. - Red colocou o cabelo atrás da orelha. 

- Que coisa feia, princesa. - Allison sorriu, brincando com a ruiva. 

- Sabe como é, muitas coisas reais para fazer.

- Quem me dera, a única coisa "real" que tenho que fazer é limpar meu quarto. 

Red riu, estava precisando.

- Pelo menos é alguma coisa. 

- Sim, não é elegante como seus afazeres, aposto.

- Eu só faço lição de casa, ah, e vejo minha mãe cozinhar.

- A Rainha? Bem, parece ótimo. 

Red concordou e se aproximou. Sentia o corpo virar um imã. Seu medo a paralisou não tão longe de Ally, a mesma notou e também se aproximou de Red, sem esse medo que a ruiva carregava. Suas mãos se tocaram. 

- Desculpa. - Red tira a mão e segura a própria. 

- Não tem problema pra mim. - Ally falava com um tom suave. 

Red sentia o corpo se arrepiar, existia uma conexão estranha ali.

- Tudo bem pra você? - Allison estendeu a mão.

Foi instantâneo, o que deixou Red surpresa. Suas mãos se entrelaçaram com facilidade, encaixando os dedos. Era tão fácil com ela. 

Muito fácil, até demais. Seus corpos se juntaram mais. O braço de Ally vagou até chegar na cintura de Red, segurando com delicadeza, Red não foi para trás, e apoiou-se contra o ombro de Allison. Suas mãos continuaram unidas mesmo com o aumento das caricias. Allison começou a vagar com os dedos pelas costas de Red que permitiu. Logo, tudo se tornou um abraço, e o que o abraço se tornaria, apenas os impulsos conseguiriam descrever. Os imãs dentro das duas, positivo e negativo. Era perfeito. Era quente.

Seus lábios se encaixaram, um selinho. 

O Silêncio tomava as duas, mas era cortado com a respiração pesada e com o som das aguas no rio. Outro beijo, mais demorado, mais encaixado. Sem recuos. Sem perder tempo. A mão de Red foi ao rosto de Allison. Outro beijo.

Outro beijo. E depois outro. Suas bocas eram como fogo, tocavam-se procurando mais calor, seus lábios se encaixavam, roçavam contra a pele. Logo, Allison buscou passagem de língua, Red se arrepiou, e houve permissão. Não houve fuga, somente suspiros. Red passou os braços ao redor do pescoço de Allison, aprofundando tudo. As mãos da loira iam para as coxas de Red, acariciando com as unhas pintadas de azul real. 

Red se afastou primeiro, buscando fôlego. Allison a encarou, no escuro, buscava os olhos de Red, buscava saber se estavam fechados ou não. Se a olhavam ou não.

Mas não. Não a olhavam. Red segurava o relógio dentro do bolso ao se afastar. 

- tudo bem? - A testa de Ally se encontrou com a de Red. 

- uhum. - murmurou Red. Largou o Relógio dentro do bolso. 

Os toques continuavam, os corpos entrelaçavam-se como numa dança. Era muito fisico, mas nada além disso. Pelo menos era o que Red sentia. Era atração. Paixão carnal. Mas mantivera sua dignidade, elas se abraçaram e Após um outro selinho, Red desejou boa noite a loira. Que paralisada deixou a ruiva ir.

Red voltou para o castelo, com a certeza de que sentia.

Apenas atração não curaria nada.

Apenas beijos não a fariam esquecer.

Apenas o tempo, a faria.