A chave estava pendurada na ignição do carro, enquanto o veículo prateado trafegava com certa velocidade pela estrada.

Christopher ajustava a eficiência dos painéis e parabrisas, que pareciam embaçar o vidro, atrapalhando ainda mais a visão do trânsito.

Uma vista cinza e nublada era tudo que Chris conseguia ver.

A chuva não estava forte, apenas uma leve e fina garoa que cortava na diagonal.

O céu havia fechado, com nuvens carregadas e escuras, entoando sons sísmicos e gulturais.

Relâmpagos e trovões começaram a ecoar, com raios e zumbidos elétricos.

A noite seria úmida e tempestuosa mais tarde.

"A calmaria vem antes de uma tempestade.", Recordou Chris de uma frase dita em um dos seus livros célebres.

Christopher era um autor de renome, com uma carreira acadêmica sólida e de um relativo sucesso.

Apesar dos best-sellers publicados, Chris sabia que ser um escritor consagrado e minimamente louvável não era nada fácil.

A necessidade quase que constante e mercadológica de se provar para uma indústria editorial desvalorizada tornava o processo de escrita difícil.

Ainda mais agora que precisava superar um demônio chamado bloqueio criativo e pôr algo decente no papel, se quisesse se destacar entre seus pares do nicho prolixo.

A casa ficava afastada do grande centro, nos arredores da cidade.

Uma cabana de madeira antiga, próxima a estrada e no meio da floresta.

Por sorte, a corretora do imóvel havia estipulado um preço generoso e satisfatório na internet.

A residência fora um bom arranjo para as necessidades pessoais e financeiras que Chris almejava.

Haviam histórias e boatos envolto a floresta, lendas antigas que remontavam o século passado.

Os antigos e algumas pessoas mais velhas diziam que o lugar e a floresta eram habitados por bruxas, lobisomens e fantasmas.

Ele não acreditava nessas crenças e superstições dos habitantes da cidade, que pareciam ter o propósito de assustar e afugentar forasteiros.

Apesar de ser o estímulo e inspiração que Chris buscava.

Finalmente iria pôr as mãos na já antiga máquina de escrever que jazia meio empoeirada ao lado, no banco do carona.

Já estava mentalizando as ideias dentro da mente, formando letras e palavras que logo seriam escritas no subconsciente.

Quando Chris avistou a casa da estrada, assumiu pra si que era a hora de parar.

Virou levemente o volante para um lado da estrada, desacelerando aos poucos, reduzindo a marcha e diminuindo gradualmente a velocidade do carro, até estacionar no acostamento próximo.

De início, Chris fitou a casa e ponderou que, apesar do custo-benefício, o valor tachado não era condizente com aquela peça de imóvel em questão.

Por fora, parecia grande e puída, com a frente coberta de ervas e raízes baixas.

Havia também um bosque no terreno atrás da casa.

Apesar da paisagem verde e exuberante, a natureza poderia atrair muitos insetos peçonhentos e animais soturnos da floresta para dentro de casa.

O aroma de relva e planta era predominantemente, o cheiro de seiva infestava o ar.

Era um lugar silencioso, Chris sentia a paz interior necessária para conceber suas histórias.

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