Aquela dor de cabeça tumoral tinha voltado.

O cérebro urrava e parecia aberto, cortado no meio com uma serra.

Algo parecia crescer e se desenvolver dentro da caixa craniana, como um câncer maligno.

Cada pontada de dor era uma sensação insuportável de navalhas penetrando e rasgando o interior da mente.

"Maldita enxaqueca!", digitou sem querer no parágrafo seguinte do texto, perdido em meio a dor de cabeça e o fluxo de consciência.

Chris havia descido a cartela inteira de analgésicos goela abaixo com a ajuda do copo de água, que não fez efeito.

A dor era tão intensa que sentiu vontade de explodir os próprios miolos com uma escopeta de alto calibre.

Aquela agonia o consumia, pegando fogo por dentro.

Chris conseguia escutar a voz do Djïnn, contudo ele não parava de falar.

Sussurrando coisas sinistras e incompreensíveis, numa língua morta e desconhecida que Chris supôs ser um latim arcaico em seus tímpanos durante a noite.

A voz ecoava dentro dos meandros do subconsciente, martelando a cabeça com uma marreta de aço.

Christopher nunca esteve tão próximo de enlouquecer, sendo perturbado pelo zumbido ruidoso do demônio que testava sua tenacidade e dureza mental.

Uma vez ele deu um grito maligno e estridente em seu ouvido, o que fez cair assustado para trás e derrubar a máquina de escrever que se espatifou na madeira do chão.

O desejo havia se tornado um pesadelo e Chris, numa noite, saiu da porta dos fundos da casa, para trás do bosque.

Seguindo o caminho de terra e prosseguindo consternado em direção ao topo da colina ingrime.

Lá em cima, ele iria buscar tirar satisfação com aquela bruxa canalha e ordinária que havia lhe enganado com uma maldição infernal.

Ao menos era o que pensava.

***

__ O que você quer? __ indagou, indignada com o abuso daquele homem que havia entrado a força em sua casa, dessa vez sem permissão.

__ Eu quero que você tire isso de mim! __ Exclamou, sobressaltado.

"Bruxa maldita", "velha macumbeira", e "Preta cigana", Eram o foco dos insultos e ofensas atribuídos a ela.

__ Muitos adjetivos para quem não pode escrever. __ Ressaltou a mulher de cabelos trançados, com certo ar de cinismo e deboche na voz obstruída pelo Malboro.

A provocação só aumentou a raiva de Chris que fumegava entredentes, com os olhos vermelhos de fúria.

__ Quero que desfaça o que você fez comigo, sua bruxa! __Cuspiu, pondo peso nas palavras, batendo o pé e bufando como um boi selvagem.

Ela riu, uma risada cômica e hilária de segundos, o que já foi o suficiente para Chris ceder e avançar em cima dela.

A velha fez um gesto sincronizado com os dedos das mãos e ele parou naquele instante, antes de chegar em seu pescoço ressecado

Parado no mesmo lugar, duro e imóvel.

__ Como ousa vir até aqui me agredir? __

A cabeça latejava, fisgando a todo momento.

O sangue fervia e o corpo de Christopher começava a tremer, com os ossos sacudindo no interior.

__ O que está acontecendo comigo? __ disse à bruxa ali de pé, esperando o horror que viria logo a seguir.

O tremor rastejante se transformou em movimentos vibrantes e epiléticos, como se uma corrente de mil volts tivesse atravessado Chris.

Cada parte do homem contraia, torcendo e comprimindo vertiginosamente, como a calda de uma serpente.

Até não conseguir se sustentar mais, caindo numa queda vacilante.

Chris se contorcia no assoalho, como se algo quisesse sair de dentro dele.

"Vou colocar um gênio dentro de você.", retomou a fala da bruxa de relance, vindo de um lugar distante e oportuno.

Chris se lembrou da imagem terrível pausada na aba de pesquisa, da coisa inumana de chifres cascuda que impregnou uma mancha na mente.

Causando noites mal dormidas.

Então começou a convulsionar, espumando pela boca e gorfando um pouco de sangue pelo nariz.

Enquanto isso, a bruxa gargalhava maléficamente, satisfeita.

Filetes grossos de sangue escorriam das orelhas, fios escarlate.

Os olhos estavam brancos e inchados, com os globos revirados.

Então a barriga se abriu, com as tripas penduradas para fora como cordas de salsicha do açougue, rasgando e umedecendo o tecido da camisa com sangue que jorrava profusamente.

Os órgãos internos se estrebuchavam, formando uma pilha de entranhas e vísceras repugnantes numa poça molhada.

Uma mão viva e vermelha, com unhas pontudas e pretas, começava a sair da boca escancarada de Christopher.

Ploc! Ploc!, os dois olhos estouraram, deixando uma massa clara e pastosa no lugar das concavidades.

A criatura asquerosa e grotesca dilacerava Chris por dentro, abrindo espaço entre os músculos e a carne num ato de desmembramento.

Rompendo camadas de fibras e artérias, espalhando uma gordura amarela misturada com outros fluidos corpóreos.

Track! Track! Ossos quebrando, cujo volume ósseo era semelhante ao estalo de gravetos.

O corpo de Chris de súbito se partiu, emitindo um som líquido e hediondo, tombando desfalecido para o lado, totalmente retalhado e ensanguentado.

Algo ali havia florescido, assim como uma flor abre suas pétalas para o sol, ou uma borboleta deixa seu casulo na natureza.

Do mesmo jeito que um bebê sai do útero da mãe.

Tinha chifres enormes e encaracolados despontando das têmporas, com uma cor escura levemente amarronzada.

Tum, tum, tum, fazia o som do casco na madeira, vibrando por todo o assoalho.

As pernas peludas terminavam em horríveis patas de bode.

O demônio fumegava pelas ventas, com um cheiro de cálcio e enxofre.

A coisa ergueu a cabeça tourina e soltou um berro fulminante que ecoou pelo ventre da floresta.

TCHUMMM!

A VOZ DO DJÏNN ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora