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O fim de semana antes das férias foi tranquilo, quer dizer, ainda havia a preocupação com a possibilidade de descobrirem o que fizemos na sexta, mas não voltamos a receber olhares curiosos, e os diabinhos se acalmaram, talvez seja a apreensão de serem descobertos, mas eles não incentivaram comportamentos autodestrutivos e aproveitaram o tempo com os amigos.
Confesso que esse lugar parece vazio e sem vida apesar da maioria dos campistas terem ficado, em momentos assim é evidente que aqui é um depósito de jovens indesejados pelos pais. Vou ao refeitório e me sento com os meus colegas, o bom das férias é que podemos escolher onde queremos ficar.
- Esse lugar está tão vazio e sem graça ( Percy exprime o meu pensamento em palavras)
- Saudades da sabidinha? ( Jason pergunta enquanto olha a mesa de Hades)
- Tanta que chega a ser ridículo. Só faz dois dias que ela se foi.
- Está com saudades do Nico? (Ele pergunta acompanhando seu olhar)
- É mais preocupação, espero que ele não esteja fazendo nada idiota.
- É claro que ele está, afinal é o Nico (o filho do mar da de ombros) Às vezes não acredito que aquele garoto tagarela e ingênuo virou essa peste.
- Vocês se conhecem a muito tempo? (Pergunto curioso)
- Crescemos juntos basicamente, somos primos.
- Por que vocês vierem para cá?
- Eu vim porque meu pai queria que eu ficasse de olho no Nico, ele tinha 12 e eu 14. E o cabeça de alga aqui veio depois de ser expulso da quarta escola.
- Em minha defesa eu não fiz nada absurdo para ser expulso.
- Até imagino o que o Nico pode ter feito para vir para cá (digo pensativo)
- Na verdade, ele não fez nada ( Jason o defende) Meu tio que achou melhor colocar o filho em um internato ao invés de ajudar ele a passar pelo luto.
- Ele era bem tranquilo, só começou a aprontar depois...
- Depois que o Cris teve a overdose (Jason complementa) Ele não é um cara ruim, só é um pouco problemático.
- E você? (Percy pergunta depois de um tempo em silêncio)
- Meus pais reataram e eu estava atrapalhando a lua de mel deles.
- Que droga!
- Queria que o Léo estivesse aqui (Jason reclama)
- Quando você vai se declarar hem? Já faz dois anos que ele veio para cá e todo mundo menos ele sabe o que você sente.
- Cuida da sua vida, Jackson!
- Aqui fica muito chato sem os diabinhos (suspiro)
- O dia do baile dos renegados está chegando, cara.
- Dia do que?
- É uma festa que o pessoal que ficou para trás faz durante as férias. Costuma ser no sábado porque por ser fim de semana e férias o acampamento fica com menos harpias e podemos aproveitar mais.
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Dias calmos e longos demais se passam, o acampamento oferece muitas atividades durante as férias e ainda há muitos campistas,  mas nada me distrai do fato dele não estar aqui. Pensei muito na conversa que tive com os primos dele, e imaginei como ele era antes, quem foi seu amigo que teve uma overdose, e porquê seu primo está preocupado com o que ele pode estar fazendo. Confesso que estou um pouco obcecado e até tentei fazer eles falarem mais sobre ele, mas não tive mais grandes revelações. E no tempo em que não pensei nele, refleti sobre a minha situação, ser abandonado aqui porque meus pais me rejeitam, saber que não serei bem recebido quando voltar para casa, tentar administrar a confusão de sentimentos dentro de mim. Não! Prefiro não pensar nisso. Preciso me distrair, mas a única coisa que foi capaz de prender a minha atenção e me ajudar a fugir de mim não está aqui. Quando ele vai voltar?
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O sábado chega de forma arrastada, não tenho grandes expectativas para o baile dos renegados, mas a animação dos meus colegas me contagia.
A festa é na clareira como de costume, a luz é pouca e colorida, a música é mais alta do que nas outras festas, também parece ter mais bebida e vejo pessoas usando drogas. Bebo e me divirto com os meus amigos, até o Jason me parece mais tolerável, vejo pegação sem pudor, mais um pouco e eles tiram a roupa. Meus amigos recusam alguns pretendentes, e eu penso em fazer o mesmo, mas não há nada realmente me impedindo e eu nem sei o que ele pode estar fazendo.
Beijo uma garota ruiva e deixo nossas mãos passearem um pelo outro. Danço algumas música e minha cabeça roda, um garoto negro me beija e eu me deixo levar, ele suga meu pescoço e aperta minha cintura me colando no seu corpo, é bom, mas quando fecho os olhos imagino Nico no seu lugar, é o meu diabinho quem está sugando meu pescoço e apertando a minha bunda, é ele quem está segurando nossos membros juntos enquanto faz uma massagem torturante.
Na manhã seguinte eu sinto que vou morrer, minha cabeça dói, estou enjoado e parece que vou desmaiar, nunca me senti tão mal, e por isso eu sei apesar de não lembrar de muita coisa, que a festa foi incrível.
Outra semana se passa de maneira torturante por ser tão lenta, tento conhecer mais alguns campistas, faço as atividades do acampamento, tento me aproximar e tirar informações sobre o Nico com os amigos dele, infelizmente penso nos meus pais, e sinto falta do moreno, constantemente relembrando nossa pegação na festa que eu sei que foi só a minha imaginação.
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"Há males que vem para bem" eu nunca acreditei nesse ditado ou fui adepto a acreditar em qualquer outra frase genérica que só são ditas para tentar nos confortar em situações em que realmente não existe muito como ser confortado. No entanto, ao descer as escadas em direção ao refeitório e escutar o som da sua risada indicando que ele finalmente voltou, eu me torno crente, acreditando em qualquer coisa e ditado genérico, porque ser esquecido nesse acampamento me fez conhecer ele, e talvez eu esteja obcecado mas não há nada além dele que eu queira mais nesse momento.
Nunca estive tão feliz por ser segunda, estou tão alegre por ele ter voltado que preciso me segurar para não o agarrar, mas tem algo que está me preocupando, por que o seu rosto está machucado?

Acampamento Meio sangue Onde histórias criam vida. Descubra agora