Notas da Autora

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Tal final alternativo veio como uma metáfora para mim.

Ele surgiu quando a autora estava em um leito de hospital ainda drogada e sentindo-se uma completa inútil por falhar até mesmo em morrer.

Lembro-me do quanto minha família ficou em choque já que para eles tudo estava bem.

Lembro-me do quanto doeu vê-los lutando por minha vida quando eu mesma já havia desistido.

Infelizmente, para alguém cheio de dor a esperança não vem nem mesmo do pós-vida.

Lembro-me de voltar para casa e desejar mais uma vez matar aquilo dentro de mim.

Tudo aquilo que me fez tentar várias vezes tentar deixar de existir.

Foi quando corri para Mentiras.

Quando decidi que se eu não era capaz de morrer, que ao menos pudesse servir para matar alguém cuja dor assemelha-se com a minha.

Pete.

Pete é a minha maior dor.

É ele quem carrega todas as mentiras das quais vivi a minha vida inteira, principalmente por um pai mentiroso, manipulador e tóxico.

Em parte, as dores das quais tentei me livrar eram culpa dele.

Tudo começou a piorar depois que ele se foi e as verdades surgiram.

Ah, as verdades são piores que as mentiras e para alguém fatigado demais, elas são o gatilho perfeito para decisões cruéis.

Entendi que Pete estava no mesmo caminho que o meu.

Alguém perdido e cheio de reflexos de traumas que lhe foi dado, mas que também é taxado de louco por reagir.

Ele também é a maldade que eu sempre sentir ser, ainda que me digam que eu não a carrego.

Matá-lo foi como tentar pegar as dores dele e me livrar das minhas.

Poder fazer a escolha que não me deixaram fazer.

Ainda que familiares e amigos se mobilizaram para me impedir, eu já não aguentava mais.

Era tudo o que eu desejava.

Doía demais vê-los me cobrando vida quando foram eles que a tiraram de mim.

Passei a viver a base de medicações, terapia e psiquiatra.

De repente tudo parecia mais caótico.

Eu fui obrigada a encarar a verdade da qual eu não desejei.

E mais uma vez, não foi uma decisão minha.

Me empurraram para a vida.

Ter alguém te vigiando 24 horas era sufocante.

Só poder sair acompanhada era uma tortura.

Não era sobre ser ingrata por ter alguém cuidando de mim, apenas sufocante quando o cuidado veio quando eu já não o desejava mais.

Vegas é realmente admirável, sempre que o Pete o diz isso sou eu mesma para o personagem.

Ele carrega algo lindo do qual, assim como Pete, eu também desejo ter.

E assim como eles, eu espero superar.

Cuide-se. Cuide-se muito para não chegar ao fundo do poço.

Para alguém que conheceu a quase morte por escolha e por não escolha, saiba que ainda que ambas sejam assustadoramente tenebrosas, a morte por escolha é pior.

Mentiras - Alternative endingOnde histórias criam vida. Descubra agora