𝐿𝑎𝑐̧𝑜𝑠 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑜𝑖𝑡𝑒𝑐𝑒𝑟 - 𝐿𝑒𝑒 𝑆𝑜𝑜 𝐻𝑦𝑢𝑘

𝑺𝑬𝑻𝑬

— Realmente os Romenos tem um senso melodramático fora do comum.

Já se passava das quatro da tarde e pilha de livros em cima da mesa só crescia conforme eu fazia as anotações necessárias. Nikolai estava na biblioteca, sentado em outra mesa. Hoje ele decidiu que passaria um tempo na biblioteca comigo, caso eu tivesse algo para perguntar. Também estava com uma pilha de papéis sobre a mesa e uma testa franzida em cansaço.

Ele levanta seu olhar do papel em mãos e me encara, erguendo a sombrancelha — Por que diz isso?

Pego meu caderno, lendo uma das anotações que fiz enquanto pesquisava, com uma voz séria — "A lenda sobrenatural de Radu Negru, considerado um herói romeno, envolve elementos místicos e os poderes extraordinários que ele possuía. Ele é descrito como capaz de ver o futuro, curar os doentes e controlar os elementos naturais. Um aspecto marcante da lenda é sua severidade com os inimigos, amaldiçoando suas famílias, trazendo infortúnio e desgraça. Embora historicamente não comprovado, a lenda popular associa Radu Negru ao Castelo de Bran, um local que ele supostamente usava para rituais secretos e comunicação com forças sobrenaturais. Diz-se que ele lançou feitiços para proteger a Valáquia, e sua morte ou desaparecimento foi envolto em mistério, sugerindo que ele foi levado pelos deuses ou transcendeu para outra dimensão."— Encaro ele de volta, dando uma risada — Controlar elementos naturais? O cara era o que, um X-Men?

Nikolai ri, uma risada rouca descrente, mas que de algum modo eu consigo captar um outro sentimento que não posso identificar. Ele se encosta na cadeira, com uma caneta rodando em mãos e me encara — Se acostume com isso, as pessoas adoram engrandecer seus heróis, tanto que possa ficar cômico — Ele da de ombros — Radu Negru é para nós os romenos o que o rei Arthur é para vocês ingleses.

Penso em suas palavras, levando seus argumentos em consideração.

— Acho que é isso que dá graça as nações — Nikolai continua — A capacidade de transformar suas histórias em lendas que envolvam todo o tipo de coisa, que possam ou inspirar suas crianças ou dar pesadelo a elas.

Faço uma careta — Dar pesadelos é uma das coisas que a Romênia faz com maestria — Rio, tentando trazendo ironia em minha voz. Afinal, pesadelos são quase o meu sobrenome. — Vocês são esquisitões cara! — Brinco.

Nikolai sorri e consigo ver formar uma linha de expressão se formar em sua testa, como se estivesse tentando entender a minha fala. Ele se espreguiça na cadeira e aproveitando faço o mesmo.  Olho pela janela, vendo os raios do sol de final de tarde passar pelas folhas das árvores do lado de fora. — Já vai anoitecer.

Nikolai acompanha meu olhar — Sim... — Sinto sei olhar voltar para mim, me analisando. Olho para ele — O que foi?

— Quer fazer uma pausa? Tem uma coisa que eu quero te mostrar — Diz já se levantando e me encara, esperando uma resposta.

Fico em pé — Olha, eu quero sim viu? Já estava vendo a hora da minha bunda ficar quadrada nessa cadeira.

Ele ri e abre a porta da biblioteca, dando espaço para que eu passe. Quando saímos ele me guia pelo enorme corredor, passando por diversas salas fechadas. No final, há uma espécie de escada de ferro ornamentada, que sobe em espiral. Subo meu olhar para ver até onde ela se estende e suspiro — A gente vai ter que subir isso aqui tudo, não é?

Nikolai apenas sorri sem mostrar os dentes, começando a subir os primeiros degraus, indicando com a cabeça para que eu o acompanhe.

Suspirando, começo a subir degrau por degrau. O barulho dos rangidos é o único som que se pode ouvir, junto com minhas respirações pesadas. Passamos um bom tempo subindo, e quando eu penso que não poderia acabar mais, vejo uma porta surgir no final da escadaria. Nikolai põe a mão em um dia bolsos da calça, sacando o mesmo molho de chaves no qual ele usou para abrir os portões da propriedade. Ele escolhe uma chave de aspecto antigo e destranca a porta.