✿︎ Chapter One.

22 4 1
                                    

ˢᵃˡᵛᵃᵗᵒʳᵉ
-ᵈᵘⁿᵇᵃʳ⁰⁹



Eli Backster.

✿︎

“Please don't let them look through the curtains”


     O caminho para o sucesso sempre é dado como fracasso. Sabe quando parece que sua respiração causa dor? é exatamente o que acontece comigo toda vez que aquelas mãos me tocam agressivamente. Ser um bailarino sempre fez parte dos meus sonhos e pra alcançá-lo é claro que haveria obstáculos assim como qualquer prova que a vida nos traz. Aos quinze na minha primeira transformação foi um choque para minha família descobrir que sou um ômega, exatamente isso que leram, um ômega. Ômegas geralmente são conhecidos como garotas com sua beleza de encantar os alfas, corpos com curvas, aparência delicada, cheiro adocicado e o principal... ômegas devem engravidar para gerar a família dos alfas.

É fácil imaginar o preconceito e desgosto que outros lobos e até a minha própria família sentiriam por eu ser “defeituoso”, para piorar se eu for um bailarino. Todas as escolas que tentei me matricular para as aulas sempre me dispensaram sem ao menos me verem dançar e mesmo apresentando um físico exemplar como o das garotas.

Meu pai é um grande símbolo da justiça sendo o melhor delegado de Miami, sempre sendo bondoso e o herói pelas ruas. Menos onde ele realmente deveria ser, na nossa casa. É como naqueles filmes uma família feliz para o mundo mas um desastre atrás das cortinas. Minha mãe nunca foi uma boa referência na minha vida e tudo piorou após a descoberta de uma traição, bebidas e cigarros se tornaram presentes na minha vida junto das violências e os abusos. Meus pais não eram de demonstrar amor um pelo outro, mas sim, apenas palavras agressivas porém havia uma coisa em comum entre eles. O nojo.

Nojo de terem me criado e eu ter me tornado o maior problema em suas vidas. Como a maior referência nas delegacias o delegado Kyle – meu pai –, deveria ser o primeiro a seguir normas, direitos, limites e espaços. Pelo menos era o que eu achava.

Um pobre garoto no seu primeiro cio sofrendo dores e chorando tentando se livrar das sensações que seu corpo transmitia não foi algo que Kyle pensasse em resolver de forma mais amigável. Afinal, ter um ômega com um cheiro encantador em sua casa foi um gatilho para seu alfa se atiçar. Eu tinha apenas 16 anos.

Ainda me lembro dos toques nojentos e brutos contra meu corpo, dos beijos e das palavras sujas.

“você é uma puta como qualquer outra ômega, não será diferente por ser um garoto!”

“abre bem a boca pro papai.”

“faça silêncio, sua mãe está fazendo o jantar!”

“se contar isso a alguém, na próxima farei pior!”

Como me manter quieto quando havia marcas roxas, mordidas, marcas de mãos e olheiras – resultado de noites chorando – , em meu corpo? Eu tinha amigos nos quais eu podia pedir ajuda, mas depois de tudo eu era o garoto sujo. E por muito tempo eu me senti assim. Sujo. Nada adiantava. Nem banho, nem as lágrimas e nem as vezes em que me tranquei no quarto para as coisas não se repetirem. Eu ainda estava sujo e permaneci assim.

Quando e finalmente entrei para uma academia que não havia desigualdade por ser um garoto e um ômega, pela primeira vez senti que havia realizado um dos meus sonhos. Eram treinos puxados para brilhar nos palcos, eram figurinos nos quais eu devia ralar para paga-los e o pior, era a cobrança para manter o perfeccionismo. Ballet nunca foi e nunca será uma dança fácil, pode parecer que sim nas telas dos celulares e das TV's... até que você entrar nas coreografias e tenta se manter firme para não desabar.

𝑺𝑨𝑳𝑽𝑨𝑻𝑶𝑹𝑬 // ʳᵒᵐᵃⁿᶜᵉ ᵍᵃʸOnde histórias criam vida. Descubra agora