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Pov Narradora:

Adentraram pela porta da frente. Primeiro Rebecca e Freen em seguida. Tratava-se de uma sala até que ampla. Por fora, dava a impressão da cabana ser menor. Um jogo de sofás de dois e três lugares, de couro na cor marrom claro enfeitava o centro da sala. Uma pequena mesa de centro, e diante dela, uma parede toda feita de pedras onde uma lareira apagada chamava atenção. No alto dessa parede, acima da lareira, uma TV. Tudo muito simples, mas de um bom gosto enorme.

Dava para notar uma escada de caracol e duas passagens ao fundo da sala, uma delas, levava a um pequeno corredor com três portas. Duas à esquerda e uma à direita. Na primeira porta à esquerda ficava um quarto com uma cama de casal no centro, um guarda roupas grande de madeira na parede ao lado da cama e, rente a parede de frente à cama, uma penteadeira com um grande espelho de formato oval.

Freen estava adorando aquele lugar, mas sentia a mulher ao seu lado retraída. Ela olhava tudo com ar de nostalgia mas, de alguma forma, isso não parecia uma coisa boa. Seus braços estavam abraçando o próprio corpo, como se quisesse se manter segura. Parecia um bicho acuado.

Seguiram para a próxima porta. Outro quarto. Menor que o primeiro. Neste se via um guarda roupas pequeno na cor branco do lado esquerdo do quarto, uma cômoda do lado direito da mesma cor, e ao fundo, um pequeno berço de madeira, que era a coisa mais linda que Freen havia visto naquele lugar.

Ela passou a mão pelo mesmo, admirando.

A voz de Rebecca cortou o quarto, já que a mesma estava parada ainda na porta de entrada. - Foi meu pai quem fez. Se tirar as grades de proteção, pode usar como cama. Quantos anos tem seu filho?

Freen teve a impressão de ver a mais nova enxugar disfarçadamente, uma lágrima que descia por seus olhos, mas fingiu não notar.

- É realmente muito lindo o berço. É uma pena eu não poder usar ele inteiro. Meu pimentinha tem 4 anos já. Mas com certeza, ficarei com a cama. Ele vai adorar o quarto, tenho certeza.

Saíram pela porta. Visitaram ainda o banheiro naquele mesmo corredor. Era pequeno. Somente um lavabo com um pequeno armário embutido e um espelho, o vaso sanitário do lado, e ao fundo, separada por uma cortina clara, uma banheira de louça branca. As peças do banheiro destoavam com a cor de madeira das paredes e dava um ar de aconchego.

Retornaram pela passagem que levava de volta a sala. Entraram pela outra passagem e encontraram uma cozinha, relativamente grande. De frente para elas, uma mesa de quatro lugares. Do lado direito, uma pia grande, com um filtro de água, um fogão de quatro bocas rente a pia e, passando por ele, uma pequena porta que provavelmente levava a área de serviço. Do lado esquerdo, uma geladeira pequena, branca e um móvel que aparava um microondas da mesma cor. Ao fundo, um armário de madeira enorme com prateleiras e divisórias, onde Freen já imaginava que faria o "Cantinho do Café", pois era viciada na bebida.

Aos fundos da casa, ficava uma pequena área de serviço, com um tanque, uma lavadoura de roupas e um armário suspenso. Materiais para limpeza como vassouras, baldes e rodos no canto. Voltaram novamente pela sala e subiram a escada de caracol, chegando a um pequeno solário com uma porta de folha dupla enorme ao fundo, que ia do chão ao teto.

Saindo por ela, se via uma linda varanda com as grades cuidadosamente trabalhadas. Se apoiaram na grade da varanda apreciando a vista.

Rebecca resolveu quebrar o silêncio: - Espero que tenha gostado. Sei que é pequena, mas acho ela bem aconchegante.

- Tá brincando? Eu amei, Rebecca. É linda! Apesar de estar bem empoeirada, dá pra perceber que é muito bem cuidada. Já imaginei meu filho correndo em volta dessa casa, brincando no solário. Ele vai amar tudo isso. Acho que vou sair agora pra comprar materiais de limpeza e começar minha faxina. Quero trazer ele para conhecer a casa o mais rápido possível. Creio que amanhã a noite eu já consiga trazê-lo. Já estará tudo limpo. Aí, as coisas eu vou arrumando aos poucos.

Rebecca sorria encantada ao ver a euforia da sua nova inquilina. Achava graça no entusiasmo com que falava no futuro que teria com o filho naquela cabana. Achava lindo como seus olhos castanhos brilhavam ao falar do garotinho.

Sentiu o coração quente, como há algum tempo não sentia. Gostava da companhia da morena. Resolveu perguntar mais sobre ela. Talvez, pudessem ser amigas.

- Fala com paixão do seu menino. Devem ser muito apegados vocês dois.

- Sim, demais. Desde quando ele nasceu, fomos só nós dois, Rebecca. Eu sou tudo o que ele tem e ele é tudo pra mim.

Respondeu sorrindo ao pensar no seu pinguinho de gente.

- Não é casada, Freen? - Rebecca perguntou por curiosidade, mas ao notar a mudança na expressão da morena, corrigiu - Digo, você disse que você é tudo que ele tem. Você não tem família? Pais, irmãos?

Freen deu um sorriso de canto e respondeu docemente: - Não sou e nem nunca fui casada. Meus pais e eu, bom, não temos uma relação muito boa. Quando eu engravidei, eles não aceitaram muito bem. Não aceitavam o fato de eu querer estudar Enfermagem e não Direito, como todos da família. Meu pai dizia que se eu quisesse "mexer com isso", que fosse médica então. Não liguei para a opinião deles. Me formei, trabalhava como socorrista e era muito feliz na minha carreira. Mas aí veio a notícia da gravidez e tudo desmoronou. Peguei minhas coisas, minhas economias e saí. Não voltei nunca mais. Eles nem conhecem o neto deles. Rodei o mundo com meu menino a tira-colo. Mas estou querendo sossegar, sabe? Já está na hora de criarmos raízes.

Rebecca ouvia tudo atentamente e com olhar de admiração. Que mulher forte era aquela?! Enfrentou todos para lutar por seu filho e por seus sonhos. Realmente, a admirava.

Freen continuou: - Conversei com a Nam sobre isso e ela conseguiu uma entrevista para mim no hospital daqui. Vim para conversar há duas semanas e fui aceita. Desde então, foquei na mudança. Nam me recebeu com carinho após saber que a casa onde eu ficaria pegou fogo ontem. Mas ela mora com os pais. Não quero tirar a privacidade deles. Por isso, resolvi tirar o dia para achar um lugar pra gente... Rebecca?! - Freen se virou para a mais nova, segurou sua mão e prosseguiu: - Eu realmente fico muito grata. Percebi que sua mãe relutou a me falar dessa cabana, e só fez por insistência sua. Percebi também que você tem uma ligação com essa casa, uma história. Se quiser conversar sobre, estarei aqui para te ouvir.

Rebecca olhava para Freen, sem reação. Sentia a necessidade de contar a ela toda sua história. Tinha acabado de conhecê-la, mas sentia, por algum motivo, que podia confiar na morena. Mas não queria assustá-la. Não jogaria todo aquele caminhão de informações e lágrimas em cima de Freen, justo no dia em que acabaram de se conhecer.

- Claro Freen. Podemos conversar um dia desses e eu te conto toda a história da casa. Mas não hoje! Não quero te fazer perder tempo e atrapalhar ainda mais sua faxina.

- Tudo bem. Vamos fazer assim então. Limpo aqui hoje, busco minhas coisas e amanhã, quando meu cantinho do café estiver montado, eu te chamo para tomar um café da tarde comigo. Aí a gente conversa melhor. Vejo uma amizade promissora aqui. - Disse a morena apontando para si mesma e em seguida para Rebecca. - E aí, o que me diz?

Rebecca achou graça e aceitou o convite. Foi embora em seguida e pelo resto do dia, Freen passou limpando e organizando sua casa nova. Ao cair da tarde, se dirigiu à casa de Nam onde tomou um banho relaxante, jantou, passou um tempo com seu pequeno, contou todo o ocorrido do dia para sua querida amiga, e finalmente se deitou, pensando nas coisas que teria que levar para a cabana no dia seguinte, pensando na sorte que teve de conhecer as duas mulheres, em especial a dos olhos tristes. Se não fosse por ela, talvez não tivesse conseguido um lugar para ficar com seu pequeno. E estaria dependendo da bondade de sua amiga por mais alguns dias.

Teria duas semanas para se instalar até começar no novo emprego. Era tempo suficiente para arrumar sua casa, conhecer a nova cidade, fazer novos amigos. Pensou no café da tarde que teria com Rebecca no dia seguinte. Definitivamente, queria desvendar os mistérios por trás daqueles olhos tristes. Em meio a esses pensamentos, adormeceu com uma pequena cópia sua agarrada à sua cintura.

...

continua?

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