traga-me de volta à vida.

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o quente sob minha pele,
do selo suave de seus lábios, 
barba por fazer
me causando cócegas.
eu encolhida no corpo protetor 
que me afastava dos fantasmas
escondidos dentro do armário.

nós dois sentados no sofá,
assistindo algum jogo que eu sequer entendia.
mas eu gostava, priorizava aquele momento
em que mamãe dormia no quarto,
e as luzes da casa estavam calmas, 
sua mão afagando meus cabelos.

e no outro dia eu acordava em minha cama,
achando mágico, 
o jeito que eu me teletransportava enquanto dormia.

 ouvindo murmúrios através da porta,
não me importava.
porque eu tinha um super poder raro 
de ter o aconchego 
da infância
de haver uma cortina
que me impedia do mundo a fora.

e então, eu poderia pentear os fios de minha boneca
sabendo que na mesa 
as cadeiras estariam ocupadas
com o calor 
da presença,
do olhar,
das conversas e risadas.

e durante a tarde,
minhas unhas eram pintadas
com um rosa pastel,
mesmo eu querendo sempre o vermelho 
porque eu observava as mãos bonitas na escola
e de minha mãe, longas e cuidadas,
buscando inspirações.
detestando o quanto as minhas eram roídas
e feias.

mal sabia
do desprazer
das mãos adultas 
da ausência da terra 
que sujava os cantos das unhas
e do cheiro que tinha.
papai dizendo para eu me lavar antes do jantar.

e então,
a segurança de uma rotina 
amiúde
e comum
que tenho fresca em minhas memórias, 
querendo a todo custo
reviver o passado
para apreciar
o sentido da vida;

e a inocência do respirar.

unhas vermelhas Onde histórias criam vida. Descubra agora