Prólogo

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Os olhos atentos de Morgana observavam o desenrolar da cena. Escondida atrás da moita úmida das rosas de sua falecida mãe ainda cultivadas com esmero pelo seu pai, a menina de treze anos se mantinha quieta, vigilante sobre os lábios do seu irmão e dos amigos dele.

Quem sabe ela não tinha sorte e fazia uma leitura labial correta e descobria de uma vez por todas os seus segredos.

O mais velho estava de costas para ela, com seus recém completos dezessete anos e o corpo magro e ainda sim atlético de um jogador de basquete, e filho exemplar de um militar, Matias tinha os ombros altos, muito tensos e cobertos pelo sobretudo azul de lavagem escura, não muito diferente dos melhores amigos também muito empacotados em suas roupas quentes. Konan, a única garota entre eles, tinha até mesmo uma boina de camurça quente e xadrez escuro nos cabelos negros de mechas azuis.

Os ouvidos de Morgana se atiçaram quando as vozes pareciam ficar mais irritadiças.

- Escute-me, você tem que se posicionar! Não pode ficar em cima do muro, sabe o que acontece com quem é covarde Matias!

A voz de Garret soara como um grunhido.

- Não estou em cima do muro, só não acho que esse seja o momento adequado para isso - ele se defendeu - Precisamos nos concentrar em boas notas para as universidades no final do ano que vem, se fizer isso agora meu pai ficará como um cão de guarda atrás de mim.

- E isso nos atrasaria - Konan concordou com um suspiro.

Todos se calaram, parecendo pensar. Mas Garret e Matias ainda se olhavam.

As pernas de Morgana começaram a tremer pelo grande tempo na mesma posição, as pequenas mãos dentro da calça moletom já geladas pela brisa fria do inverno que se aproximava. Mas ainda assim, ela se mantinha firme, curiosa sobre os momentos de tensão que pairavam no grupo de melhores amigos do irmão mais velho.

Sobre o que eles falavam?

Por que tanta pressa?

Um vento forte fez seus dentes tremeluzirem, batendo-os uns nos outros, enquanto seus cabelos ruivos e cacheados voaram por cima do seu rosto. Ruel D'Angelo respirou o ar antes de dar um passo tenso para frente e sussurrar algo para o amigo.

Morgana notou que os lábios de Matias pareciam sorrir.

- Vamos terminar essa conversa mais tarde, certo? - deu de ombros - Preciso me organizar antes.

Os outros amigos concordaram, não muito felizes, exceto Konan - que se deleitou com a oportunidade de fugir do vento forte -, e Ruel, que ainda parecia aspirar o ar profundamente antes de acompanhar os outros para fora dos jardins.

- Você tem que parar de assustar o Ruel, sério - Morgana suspirou saindo de trás da moita, sabendo que tinha sido pega - Está quase parecendo o papai.

O irmão negou com a cabeça em sua direção.

- Não vejo como isso pode ser ruim - deu de ombros.

As rajadas de vento pareciam mais fortes a cada segundo, e os dois irmãos começaram a tremer levemente. Morgana ainda tinha os olhos curiosos quando o mais velho a abraçou fortemente, o cheiro suave de seu perfume impregnando em seus sentidos.

Matias beijou seus cabelos ruivos e rebeldes com delicadeza.

- Não era para você estar na cabana com a vovó?

- Era, mas fiz o papai me prometer que me ensinaria a usar o silencioador nas armas - murmurou esforçando-se para não gaguejar pelo frio - Mas...acho que ele esqueceu.

Matias rangeu os dentes, sentindo sua antipatia pelo pai crescer um pouco mais. Não era segredo que a vida de um militar exigia muito de seu tempo, ainda mais quando se era Tenente, mas nunca o perdoaria por prometer algo aquela doce garotinha quando não poderia cumprir.

O Pior de Mim +18Onde histórias criam vida. Descubra agora