O céu derramava seu azul celeste por entre nuvens de algodão enquanto a Terra das Frutas se deitava de Leste a Oeste, de Norte a Sul, suas pradarias, bosques, florestas e montanhas forrando o mundo de horizonte a horizonte. O silêncio era quebrado apenas pelo vento e por... "poc, poc, poc...".
O som começou baixinho e foi crescendo, ganhando volume, até que, de repente, de uma nuvem particularmente grande e fofa, emergiu uma maçã! Uma bela e suculenta maçã vermelha voadora arrastando consigo fiapos de nuvens em seu singrar aéreo. Era uma maçã enorme! Não! Gigante! Grande o bastante para exibir passarelas de madeira ao seu redor, janelas de telhado vermelho brotando de suas laterais, uma chaminé de latão soltando fumacinha branca e um enorme cilindro atrás expelindo grandes e fofos flocos de nuvem.
— Toda força à frente, Bichinho! — exclamou uma menina da cor de uma maçã verde. Sorria confiante, de pé no convés instalado em cima da fruta, seus pés afastados, uma das mãos na cintura e a outra apontando à frente. Sua casaca verde esvoaçava ao vento junto com suas fartas madeixas verde-claro e um sabre na cintura. Uma portinhola se abriu na lateral da "aerofruta" e uma cabeça redonda surgiu.
— Para onde vamos, Capitã Maçã? — perguntou o minhoco. Sua cauda acertou seus óculos redondos no rosto e ele esticou seu corpo para fora, para poder olhar melhor a amiga.
— Vamos para a Montanha dos Desejos! — Capitã Maçã o mirou. — Atrás do Tesouro dos Tesouros! — Porém ao contrário da menina, Bichinho não pareceu muito animado.
— M-mas, Capitã! Para chegar lá, teremos que atravessar a Tempestade das Tempestades! Ninguém nunca conseguiu passar por ela antes!
— Claro que conseguiram! Se não, a gente não saberia o que tem do outro lado.
— M-mas... ahn... e se mentiram e na verdade ninguém sabe o que tem lá?
— Bom, só há uma forma de descobrir! — Um sorrisão se abriu. — Bichinho, pensa só, se for verdade, nós poderemos pedir o que quisermos! Não há limites!
Bichinho pareceu ponderar e então perguntou:
— Eu poderia pedir uma biblioteca com todos os livros escritos e os ainda não escritos?
— Se as lendas forem verdade, então, sim! Vamos lá, acelere e vamos em frente!
Bichinho abriu um sorrisão, voltou para dentro da maçã e puxou com sua cauda uma alavanca do intrincado motor abrigado nas entranhas da fruta. O "poc, poc, poc" virou "pocpocpocpoc", os flocos de nuvem branca saíram com mais intensidade e o Navio Maçã acelerou. Em minutos deixaram as pradarias e agora sobrevoavam as Montanhas Enrugadas, seus picos e cumes passando ao redor da suculenta aeronave.
Adiante, no horizonte, uma massa cinza e relampejante começou a ganhar volume com a aproximação. Pareciam algodões grisalhos com luzes brancas de Natal dentro. Não paravam de piscar um segundo sequer, os flashes surgindo aqui, ali, lá e acolá. O vento agora vinha frio, mais forte e agourento, mas o sorriso de Capitã Maçã não morria. A menina havia descido à sua cabine, construída abaixo do convés, e agora traçava rotas, a janela adiante emoldurando a tempestade.
A mesma tempestade que Bichinho assistia da janela lateral da sala do motor, sua cabeça ao vento. Seu sorriso se fora e, por alguma razão, a tão sonhada biblioteca perdera seu brilho. Acertou seus óculos e assistiu com temor à aproximação da tempestade mais famosa da Terra das Frutas. Virou-se para trás, na direção das pradarias e campos verdejantes se afastando, e lançou-lhe um olhar saudoso. Estava para entrar quando seus olhos se arregalaram.
De uma das nuvens, emergiu algo que gelou sua espinha. Um navio preto! Um navio preto navegando com suas velas pretas sobre uma nuvem preta em constante revolução. No convés havia um chapéu de pirata e, abaixo dele, uma figura cor de carvão sorrindo enviesado. O verde-ácido dos olhos brilhava afiado mesmo a essa distância.
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Capitã Maçã e os Caçadores de Tesouro - O Tesouro dos Tesouros
AdventureUma maçã voadora, uma Capitã Maçã, um minhoco de óculos e uma Capitã Malvada, todos em busca do Tesouro dos Tesouros.