Prólogo

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Alguns anos atrás...

-- Não. Não os meus filhos não. Por favor, não. Não machuque os meus filhos.

-- Queimem tudo. E levem os sobreviventes.

-- Não. Por favor.

-- Socorro.

-- Destruam tudo, derrubem cada árvore, cada casa. Não deixem nada para trás.

Urros de dor e agonia. O petróleo sendo jogado em cada cabana, cada árvore sagrada em tudo. Seus cavalos estão contaminando nossa água. Destruição. Agonia. Desespero.

-- Vamos limpar essa raça do império.

Por algum motivo, essas pessoas nos odeiam, mas até então, eu não consigo perceber o porquê. Somos praticamente iguais. Ambos respiramos e comemos. Mas, estranhamente, eles nos odeiam até as entranhas. Nos caçam como animais, e nos prendem como se fossemos insetos. Eles estão obcecados em eliminar o nosso povo, nos tratam como bactérias que precisam ser extintas da face da terra.

Por quê?

O mesmo sangue que circula em suas veias circula nas nossas, a mesma necessidade que eles têm, nós também temos.

Lágrimas quentes descem dos meus olhos, e ninguém vai nos salvar.

A a terra que por direito é também nossa está sendo sacudida de nossos pés.

Por quê?

Os elfos mais velhos costumavam dizer, que eles eram como anjos, e serviam aos deuses. Mas alguns deuses que não gostavam de humanos pela sua fragilidade, também não gostavam dos elfos por serem parecidos com os humanos. E então. Uma reunião foi feita. Os elfos foram banidos dos céus. A imortalidade foi lhes tirada. Os elfos já não tinham grandes poderes, mas tinham algumas particularidades que encantavam os humanos. Mas novamente, alguns humanos não gostavam dos elfos, por eles serem tão diferentes, terem uma beleza tão única que se compara a beleza dos deuses. Os seus talentos também, espetaculares e únicos. Com uma comunhão invejável com a natureza.

Nos elfos não há distinção de poderes, homens, mulheres, crianças, todos tem uma benção dos deuses. Mas então, os humanos não gostaram disso. Começaram a perseguir e caçar os elfos. Os elfos se separaram e cada um começou a vigiar por si. Mesmo com o despertar dos elfos, não foi suficiente. Então os elfos têm de vivem escondidos, entre os humanos, e tentam mesclar sua beleza extravagante, com a beleza simplória dos humanos.

As casas estão dentro de árvores, nossa água sai diretamente do lago, que antes era cristalino. Nossa alimentação saia da terra, que não oferecia seus frutos e suas hortícolas, os animais nossos amigos foram afugentados, com o som de granadas de áreia. Árvores derrubadas, água contaminada.

O choro. As chibatas. As mortes.

Tudo isso diante dos meus olhos.

Meu sangue congela. Minha respiração desacelera.

Somos jogadas em gaiolas conduzidas a cavalo, como se fossemos cadáveres.

-- Os mais belos vendem mais caro. E os mais feios observam se são aproveitados para alguma coisa. Se não forem, acabem com eles. Os que estão fracos matem. Não quero lixo. Separem três elfos dos belos para a imperatriz.

Fomos selecionados, da mesma forma que um agricultor separa o trigo do joio. Os elfos que eles julgaram não prestar, foram mortos, como se fosse uma plantação de ervas daninhas sendo incendiadas.

O restante de nós que foi considerado útil, eles nos banharam. Colocamos roupas novas, e nos amarraram correntes no pescoço, nas mãos, e no tornozelo, de modo que a gente não fuja.

Fomos colocados em fileiras a vista de qualquer pessoa, que quisesse nos comprar.

Eu vejo tudo isso acontecer ao mesmo tempo que sinto como se minha alma tivesse sido extraída, deixando apenas meu corpo na terra. Mas de alguma forma, uma corrente invisível prende a minha alma de modo que ela não se afaste muito do meu corpo, mas que esteja distante o suficiente, para que eu possa observar tudo.

-- Um dia os humilhados serão exaltados, Niara.—quem me disse isso, foi minha antiga ama de leite. Quando estávamos na mesma fila, e no mesmo dia, ela morreu, um dos bárbaros que nos vigiava, a estuprou até a morte.

E a única coisa que o homem que nos capturou disse foi.

-- Me deve, cem moedas de ouro, imbecil. Vou descontar do seu salário.

Os humilhados serão exaltados? Me poupem. Os humildes continuaram sendo humilhados, se não tomarem uma atitude.

ME TORNEI A CORTESÃ DO IMPERADOR- IMPERADOR DA AREIA DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora