AS HORAS

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Mabel Thompson

Ele estava lá com o cabelo bagunçado incrivelmente sexy, seus lábios estavam vermelhos, suas pupilas incrivelmente dilatadas, sua blusa estava um pouco amarrotada. Mesmo desse jeito, ele exalava poder e medo, claro o medo para as outras pessoas, porque para mim não. O clima começou a ficar meio estranho. Ele olhou para a moça que, em um sinal, foi embora, deixando eu e ele naquele banheiro. Ele começa a se aproximar de mim, até eu encostar com a pia gelada, fazendo o meu corpo se arrepiar. Tento sair, mas agora ele me prensa, não deixando nenhuma brecha para eu sair.

- Será que você poderia me dar licença, eu preciso ir embora?

- Calma, senhorita, só quero falar algumas coisas com você. Está com medo?

- Medo de você, jamais - falo com um sorriso de deboche. Ele chega perto do meu ouvido e sussurra.

- Não é o que parece, senhora Thompson?_ Por que meu sobrenome na voz dele me deixou tão agoniada? Ele solta um suspiro fundo e sai do banheiro, solto o ar que estava preso.

- CALMA, Mabel Thompson, calma - tento falar para mim mesma, saio do banheiro indo diretamente para a festa.

O som está bastante alto, algumas pessoas estão fumando, outras bebendo, o local parece ser bem "tranquilo". Olho para o outro lado e vejo a Irina com o Felipe no bar, curtindo a música. Chego perto dos dois.

- Oi, desculpa a demora, tive um imprevisto - falo tentando não soar nervosa.

- Tudo bem, amiga, a gente estava procurando lugares para sentar. O que vocês querem fazer? - Irina pergunta, já que a gente está uns 20 minutos olhando um para o outro sem dizer uma palavra. Eu até prefiro esse silêncio quando estamos com o Felipe, aliás, o Felipe. Não falo muito dele, né? O Felipe é meu melhor amigo, ou era. Hoje tá mais para um chato impertinente que não sai do meu pé. Às vezes, acho que ele precisa de um médico, ou aí deixa para lá, rio do meu próprio pensamento.

- Vamos sentar ali e pedir um balde de bebidas - digo olhando para eles que estão olhando para um local há um bom tempo. - O que vocês tanto olham? - Pergunto curiosa.

- Amiga, acho melhor a gente ir para nossa mesa, né? - diz Irina um pouco nervosa.

- Oxente, tá maluca? Para onde a gente ia? Mas, afinal, que porcaria vocês estão olhando? - viro meus olhos para a direção dos olhares deles, até ver o Matteo encarando os mesmos do outro lado do bar da área vip. As luzes estavam perfeitamente alinhadas com seus traços e olhos, um sorriso de molhar a calcinha, sem ao menos falar um oi. Pera, no que eu tô pensando? Isso é loucura, acho que é o álcool fazendo efeito. Pera, eu bebi.

- Acho que ele tá vindo para cá - disse a Irina.

Ele se aproxima do bar pedindo um whisky duplo, ele bebe em um gole só, sem fazer uma mísera careta. Ele olha para a Irina, depois para o Felipe e depois para mim, o olhar dele foi fixamente para os meus olhos, depois para minha boca, ele parecia estar me analisando.

- Felipe, seu nome, né? - ele finalmente fala alguma coisa, só que para o Felipe, estranho ele saber o nome do Felipe. Se eu não fosse do FBI, diria que sim. O estranho é o que ele quer com o Felipe.

- Imagina que já saiba a resposta, Matteo - Felipe responde.

- Para você é Don Matteo. Eu estou na minha cidade, onde eu mando, até na sua roupa, meu querido. Então, exijo respeito - converso, que nesse hora eu queria rir, só que me contive.

- Bom, eu acho que a gente já pode ir, né? - diz Irina, e por incrível que pareça, ela está com medo agora, e eu não sei o porquê, aliás, todos estão muito estranhos.

- Você - diz Matteo, apontando para mim.

- Eu, o que? - digo, em um tom de deboche, na verdade mais para desconcertada.

- Você vem comigo, precisamos ter uma conversa, digamos assim.

- Ela não vai para lugar nenhum - diz Felipe, num tom alto e com raiva, uma demonstração de ciúmes, na verdade, ou de proteção. Ele nunca agiu dessa forma com a Irina. Até quando o Erineil, o maior mafioso do mundo, ele leva o prêmio de segundo mafioso mais cruel da Itália. Claro que o primeiro lugar vocês já sabem quem é.

- Pena que eu não pedi sua permissão, aliás, pedi? - A reação do Matteo foi de puro deboche, já a do Felipe foi fechar a mão para dar um murro nele, só que rapidamente o Matteo tirou uma arma da cintura, apontando para ele.

- Ok, chega, eu vou com o "senhor don" - falo num ar de desprezo.

- Você tem sorte de eu não quebrar a sua cara toda, seu figlio di puttana - o Felipe até tentou partir para cima do Matteo, mas a Irina o segurou.

Caminhamos até o escritório dele, passando por um monte de homens ensandecidos pelas meninas que dançavam no pole dance. Aliás, ele estava segurando a minha mão em um aperto que chegava a doer, e quanto mais eu tentava sair do aperto dele mas ele apertava, o cheiro de álcool com cigarro naquele lugar me deixava enjoada. Os homens quando eu passava a todo tempo me chamavam de gostosa ou de puta e outros nomes que particularmente eu nem quero comentar. O Matteo olhava para todos eles com um olhar mortal, não entendi nada mais, né.

Chegamos no escritório dele, e ele finalmente larga a minha mão, trancando a porta e indo até um mini bar, servindo uma dose de whisky sem gelo e bebendo em uma golada só. Ele se senta na cadeira dele, fazendo um sinal para eu me sentar na cadeira à frente. Ele fica alguns segundos olhando para mim até falar.

- Sua irmã vem amanhã, né? Espero que a passagem que eu comprei para ela na primeira classe tenha deixado ela confortável no voo. Senti meus nervos à flor da pele. Foi esse desgraçado que mandou a minha irmã voltar para a Itália.

- Seu desgraçado, você disse?

- Eu disse que você tinha que escolher. Então, pensei: porque não adiantar as coisas para ela, não é mesmo? - ele fala, olhando diretamente para os meus olhos, e eu tenho certeza que os meus estão transmitindo puro ódio.

- Você me deu dias, qual era a necessidade disso? - falo num tom alto demais.

- Acho que é para você entender, senhorita Mabel Thompson, que eu não estou brincando. Eu acho que você já percebeu isso, não é?!

Ele é um canalha, filho da mãe, Minha vontade é de meter uma bala na cabeça desse filho da mãe e ver ele morrer com o próprio sangue, inferno, que ódio.

- Minha vontade é de te matar, seu desgraçado - falo, já quase explodindo.

- Tem uma arma ali no canto, se você quer me matar, então mata, senhora Thompson, agora. Eu não teria essa coragem toda - minha vontade era de enfiar a cara dele na porcaria de um carro e se controla, Mabel, se controla.

- Acabou com o seu joguinho, eu posso ir embora ou você ainda tem mais coisas para falar? - digo, já para eu não surtar e acabar com a vida desse homem.

- Você tem até amanhã para se decidir, Mabel Thompson - essa foi a única coisa que ele disse antes de destrancar a porta e eu sair de lá.

Não vejo nem a Irina, nem o Felipe, então saio de lá indo direto para casa.

O que eu vou fazer agora, penso...

O ESQUECIMENTO FATAL Onde histórias criam vida. Descubra agora