Era horrível e, de certa forma, doloroso. Estar no quarto dele, sentindo o cheiro dele, mexendo nas coisas dele, sem ele estar aqui, era triste. Enquanto desembrulhava a carta, fiquei pensando no que Jang Jun me disse: "Um banho quente". Notei novamente que estava toda molhada, e o frio que entrava pela porta do quarto causava arrepio em minha espinha.
Suspiro fundo, levantando-me da cama com a carta em mãos, colocando-a por dentro do meu terno. Apesar de estar encharcada, o terno molhado não era o suficiente para manchar a carta, então não me preocupei. Desci as escadas novamente para a sala de estar, passando pelo corredor e ignorando as minhas fotos na cômoda. Querendo ou não, o passado era vergonhoso e eu não me orgulhava nem um pouco dele.
Saí da casa observando o céu, que agora não estava mais nublado nem cinza; o azul radiante havia voltado e as gotas de chuva já não existiam, a chuva havia parado. Peguei meu celular e chamei um táxi; só queria chegar no meu apartamento logo. Não demorou muito para eu estar entrando no meu apartamento novamente. O cheiro de Makgeolli já não era mais presente aqui. O conceito do meu apartamento era moderno e tecnológico, sendo configurado todo por uma Alexa. Assim que abri a porta, as luzes se acenderam automaticamente e a voz da Alexa ecoou pelo local.
- Seja bem-vinda, senhorita Hong. Já atormentou seu pai hoje?
Eu havia configurado a frase da Alexa apenas para me lembrar de irritar meu pai; agora senti arrependimento percorrer pelo meu corpo. Apesar da lembrança ruim, sorri com a memória de quando eu ia à sua casa apenas para zoar com ele, dizendo que eu ganhei outro julgamento. Deixei isso de lado e andei até meu quarto, apenas para deixar a carta em cima da cama e depois seguir em direção ao banheiro.
Despojei-me rapidamente; a única coisa que eu precisava era de um banho quente ou de uma terapia. Entrando no box, a água quente me fez repensar mil pensamentos que eu havia ignorado no cemitério. Ele morreu... então, como morreu? O laudo médico disse que ele foi atropelado por um motorista bêbado, mas algo dentro de mim estava me dizendo que essa história estava mal contada. Depois de alguns minutos dentro do box, desliguei o chuveiro quando percebi o banheiro cheio de fumaça. Saí do banheiro com um roupão branco e uma toalha na cabeça, impedindo que meu cabelo molhado pingasse no chão. Assim que saí do banheiro, foi como um instinto; meus olhos brilharam quando olhei para o envelope em cima da cama. Não aguentei esperar até me vestir, sentei-me em minha cama e o abri, lendo finalmente o conteúdo do papel.
"Para minha querida flor, Hong Cha Young.
Bom, eu sei que provavelmente vou estar morto agora; eles estão atrás de mim. Cha Young, eu preciso que você leia o resto dessa carta com muita atenção. A Wusang e a Babel estão juntas em ações corruptas. Você pode até não acreditar em mim, mas lá na Jupiragi, no meu escritório, tem tudo que você precisa saber sobre isso. Eles não indenizam as vítimas, subornam juízes para ganhar no tribunal; fora as pessoas que entram em seu caminho, que sempre acabam morrendo. Cha Young, querida, essa empresa não é do bem, e eu tenho medo que isso possa te machucar também. Se está pensando que estou tentando prejudicar sua empresa de novo, e se você acha isso, vá até meu escritório e leia os antigos casos que achei sobre a Babel. Sei que não nos dávamos bem, então esse é meu último pedido como seu pai.
Espero não te ver tão cedo, minha querida flor.
Eu te amo.Do seu querido, ou talvez não, pai."
"0589"As lágrimas são inevitáveis. Ao terminar de ler a carta, sinto um aperto no coração e minhas mãos começam a tremer. Coloco a carta em cima do criado-mudo ao lado da minha cama e não sei mais o que fazer. Talvez eu devesse dar uma chance à sua hipótese, realizando seu último pedido, ou eu queimo a carta e volto à minha vida normalmente ao lado da Wusang e da Babel... Eu só queria poder pedir a opinião de alguém ou, talvez, até mesmo a opinião dele. Os números no final da carta são as coisas que mais me pegam desprevenida. Isso é um enigma? Ou aquele velho não estava batendo bem da cabeça?
Levanto-me, andando em direção ao meu guarda-roupa. Eu só queria vestir meu pijama de cetim e dormir, esquecendo tudo isso e fingindo que foi apenas um sonho. Deito-me na cama, olhando para o despertador no criado-mudo. O despertador marca 23:48 da noite; já havia passado da minha hora de dormir, e isso provavelmente acabaria com a minha rotina ao amanhecer. Não demora muito até meus olhos começarem a pesar e eu já não conseguir ter controle do meu corpo; só sinto o sono me tomar por completo.
Eram 06:00 da manhã quando o despertador tocou. O barulho repetitivo dos apitos era irritante, o que me fez desligá-lo imediatamente. Levantei-me irritada e cansada pelo dia anterior. A única coisa boa sobre ser advogada é que eu sei dos meus direitos; eu não precisaria ir trabalhar pelos próximos dois dias consecutivos devido à morte do meu pai. Então fui direto para o banheiro, fazer minhas necessidades matinais, além de dar um trato na minha cara de zumbi. Assim que saí do banheiro, fui em direção ao meu guarda-roupa e vesti uma das minhas roupas casuais do dia a dia, sendo específica uma calça jeans com uma jaqueta simples e fechada, por baixo só uma blusa branca. Nunca fui muito chegada a roupas vulgares, só em ocasiões especiais. Enquanto vestia minha roupa, lembrei do conteúdo da carta, suspirando fundo e pensando novamente no que fazer. Eu acho que deveria dar uma chance para ele... aliás, foi o último pedido dele. Mesmo não acreditando muito em suas palavras, eu devo isso a ele, pelo simples fato de ter me criado, foi o que me fez ser a mulher que eu sou hoje. Saí do meu quarto, mas não deixei de pegar a carta em cima do criado-mudo e caminhei em direção à cozinha. Não sinto fome desde ontem, então a única coisa que peguei foi uma maçã vermelha, junto com as chaves do meu carro.
Depois de entrar no meu carro, comecei a dirigir em direção ao antigo escritório de meu pai, que agora, pelos testamentos, seria meu escritório. Ao chegar ao prédio, a primeira coisa que notei foi que a estrutura ainda era a mesma; em si, não mudou nada desde a última vez que vim aqui, porém estava mais velha e suja. Eu não queria perder tempo. Assim que desci do carro, comecei a andar em direção à entrada principal. O barulho dos meus saltos me trazia a ideia de que estava tudo bem, e eu tentava me acalmar com a ideia de ler sobre os casos da Babel. Depois de subir algumas escadas e ficar de frente para o corredor que dava ao escritório de meu pai, notei que o estado de dentro do prédio não era diferente do lado de fora. Só que por dentro ainda parecia, pelo menos, minimamente limpo para que alguém pudesse morar sem pegar alguma doença. Era muito cedo, então eu duvido que os moradores do prédio estiverem acordados, oque seria mais fácil para mim, evitar falar com eles.
Comecei a andar até as portas duplas do escritório. Assim que parei em frente às portas, agachei-me no chão, puxando o tapete com as pontas dos meus dedos, dando-me visão da chave que meu pai sempre escondia debaixo dele. Levantei-me, limpando minha mão em minha própria roupa; vai saber há quanto tempo esse tapete não é levado, e não esperei muito para destrancar a porta. Ao abrir as portas, a escuridão do local logo atingiu meus olhos. Procurei imediatamente pelo interruptor e, ao ligar as luzes do local, consegui sentir novamente o cheiro do perfume velho e barato dele. O escritório em si não havia mudado nada; continuava velho, bagunçado e com a cara dele.
As cômodas e as mesas lotadas de papéis empilhados me fizeram sorrir de nostalgia, e a primeira coisa que fiz foi abrir as janelas; aquele lugar precisava de ar puro e luz solar, algo que não recebia há um tempo. Depois de sentir o ar fresco entrar no escritório, achei mais adequado procurar logo o que vim procurar. Passei alguns minutos olhando ao redor do escritório e por cima de alguns papéis, mas não achei nada que falasse sobre a Babel, ou pelo menos, nada que falasse sobre o que a Babel e a Wusang faziam. Sentei-me em sua cadeira, que, por sinal, era bem desconfortável, e não demorou muito para eu notar que algumas gavetas de sua mesa possuíam cadeados numéricos. Fiquei alguns minutos pensando na possível combinação. Depois de encarar o cadeado numérico por mais alguns minutos, lembrei da carta de meu pai e dos números estranhos que eu não havia entendido o que significavam. Releio a carta novamente, apenas para procurar os números: "0589". Tinha que ser isso. Não perdi tempo para colocar os números no cadeado e escutei um "treck". Sorri ao ver que o cadeado se abriu, caindo no chão.
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Notas da autora;
O segundo capítulo veio bem rápido em, bom, novamente espero que gostem!
Não esqueçam de deixar estrelinha se gostarem!🐦💕👌🏻
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Por que logo você?
Fanfiction〰️ Essa fanfic vai pra mim, pra você, para todos que acharmos que o dorama Vincenzo daria ótimas fanfics de mafiosos. 〰️ ⚠️ Essa história é totalmente minha ⚠️ ⚠️ Não tem nada a ver com o dorama, mas algumas vezes talvez eu pegue algumas partes apen...