dia um

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“Se você estiver lendo esta carta, saiba que não estou mais aqui.

Me desculpe, mas eu precisava começar assim. Não me odeie, até porque é a última coisa que eu quero. Quero que você guarde as melhores lembranças que tivemos juntos, e que essa carta seja apenas uma despedida.

Você deve estar estranhando isso, não é? Por que escrever? Por que uma carta? Não seria mais fácil ligar? Felizmente, eu tenho a resposta para isso. 

Estou escrevendo justamente para não ter que ouvir sua voz, a voz que eu tanto amo e que me traz paz e conforto. A voz que vive em meus pensamentos, a voz que eu amo quando fala meu nome de forma carinhosa, a voz que sabe como me fazer mudar de ideia. E é justamente por isso que eu não ligo; eu não quero mudar de ideia, não posso! Não agora, não depois de tanto tempo. Então, é mais fácil escrever, porque só de ouvir sua voz eu mudaria tudo.

Se fosse em outro momento, seria até romântico, não acha? Sentaríamos à mesa dum café, como aquele onde nos conhecemos, e eu te contaria tudo, olhando nos seus olhos. Mas a vida é complexa, e essa complexidade faz com que escrever seja a única opção.

Você deve se lembrar de como a gente se conheceu, né? (Espero que sim, ou talvez eu tenha me enganado outra vez). Foi um tanto desastroso, não foi? Alguns diriam clichê, mas sinta-se à vontade para chamar do que quiser. 

Eu lembro de cada detalhe daquele dia. O café estava cheio, com pessoas conversando animadamente e o cheiro de café fresco no ar. Você tinha uma mecha caindo pelo boné, e seu avental estava levemente sujo de farinha, o que é curioso, já que você é um desastre na cozinha.

Você veio atender a minha mesa e a do Jisung com um sorriso no rosto e, na mesma hora, fiquei apaixonado. Quando você perguntou o que a gente queria, quase disse ‘‘seu telefone e o número do seu dedo para eu comprar uma aliança para a gente se casar e viver felizes para sempre’’ mas, infelizmente, eu só pedi um bolo de milho e um café. Talvez esse tenha sido meu erro (o primeiro de muitos) 

Eu queria muito ter dito algo mais corajoso, algo que mostrasse o quanto você me encantou desde o primeiro instante. Logo depois, você veio com os pedidos e, antes que pudesse nos entregar, dois irmãos passaram correndo atrás de você, fazendo com que você se assustasse. O resultado? A bandeja caiu no chão e o meu café foi derramado na minha calça.

Você se lembra de como ficou desesperado? De como ficou preocupado que eu tivesse me queimado? (Sim, eu me queimei um pouco, mas isso não importa mais). Eu fiquei rindo da situação, não apenas pelo absurdo da cena, mas porque, de algum jeito, aquele momento desastrado parecia perfeito. Acho que isso o deixou mais irritado, porque vi você franzir a sobrancelha e uma pequena ruga surgiu no meio da sua testa (sério, outra hora vou te passar o nome de alguns cremes antirrugas). Depois de muita conversa, pedidos de desculpas e os nossos pedidos finalmente na mesa, tudo ficou bem. Você continuou a trabalhar, mas eu não consegui tirar os olhos de você, observando cada movimento seu, encantado a cada segundo que passava. No dia seguinte, eu fui à cafeteria, e depois fui de novo, de novo, de novo e de novo. Até que eu te ofereci carona para casa e foi aí que tudo começou.

Isso já faz o quê? Uns 7 anos? Caraca, como o tempo passa rápido. Lembro-me de como você estava tímido e surpreso com a minha oferta. No caminho, conversamos sobre coisas simples: sua paixão por arte, meus sonhos de viajar pelo mundo, e como ambos amávamos a tranquilidade de um café ao fim da tarde. Foi uma conversa tão natural, como se já nos conhecêssemos há anos.

Todas as cartas são para você! - Hyunchan Onde histórias criam vida. Descubra agora