24: O incidente

636 64 28
                                    

O mês de fevereiro passou como um borrão, rápido demais para o meu gosto. Já estamos quase em março, mas ainda tá  é difícil esquecer o que aconteceu. Não falo com Valentina desde a festa, se antes as coisas entre nós eram um jogo de provocações, agora são apenas silêncio e distância.
Ela tem passado mais tempo com Fabrícia. Eu as vejo pelos corredores, lado a lado, conversando baixinho. Valentina nunca olha na minha direção, nunca hesita ao passar por mim. Como se eu não estivesse ali. Como se nunca tivesse estado. Talvez seja isso. Talvez eu tenha sido  apenas algo   passageiro na vida dela.A ideia me dá um aperto no peito, e eu respiro fundo, tentando afastá-la. Mas não consigo. E, para piorar, minha relação com Carol também  desmoronou.  Suas palavras ainda ecoam na minha mente, cada sílaba um pequeno golpe que ainda dói . Antes, sempre encontrávamos um jeito de consertar as coisas, mas agora parece que cada tentativa de conversa só nos empurra mais para longe. Eu perdi as duas. De formas diferentes, mas a dor é a mesma.

Solto um suspiro, jogando minhas coisas na mochila sem nem prestar atenção. Ultimamente, ando distraída, bocejando sem parar. Minha mãe já reclamou várias vezes porque esqueço coisas importantes, mas parece impossível manter o foco quando tudo dentro de mim está uma bagunça.

— Dia ruim, hein?

A voz de Duda me faz pular, arrancando-me dos pensamentos.

— Meu Deus! Que susto… — Levo uma mão ao peito, sentindo o coração disparado.

Ela ri baixo, cruzando os braços enquanto me observa.

— Foi mal — diz, um sorriso brincando nos lábios.

Tento sorrir de volta, mas até eu percebo que o gesto sai forçado.

— Tudo bem…

Duda inclina a cabeça de lado, como se estivesse me analisando.

— Então… quando esse drama todo vai acabar? — A pergunta vem em um tom leve, mas a preocupação está ali, nas entrelinhas.

Eu solto um suspiro, chutando levemente a ponta do tênis contra o chão.

— Não faço ideia…

Ela franze a testa, depois faz um gesto vago com a mão.

— Isso está te consumindo. A gente devia sair, dar uma volta, tentar  esquecer tudo isso por um tempo.

Parte de mim quer aceitar, quer escapar dessa sensação sufocante, mas outra parte sabe que nada disso vai embora tão fácil.

— Desculpa, Duda… eu só não estou no clima.

Ela suspira,  mas não insiste.

— Tudo bem. Mas, olha, quando você menos esperar, isso tudo vai estar resolvido.

Quero acreditar, mas a sensação de que nada vai mudar tão cedo pesa sobre mim. Mesmo assim, tento sorrir.

— Espero que sim…

O silêncio se instala por alguns segundos antes que eu tente mudar de assunto.

— E você e o Rick? Como estão as coisas?

Duda pisca, e seu rosto se ilumina quase que instantaneamente.

— Ah, ele está empolgado com os treinos no time profissional. Não fala de outra coisa!

A mudança na expressão dela é instantânea. Ela sempre se ilumina quando fala do Rick.

— Que bom, Duda. Fico feliz por ele… e por você também.

Ela sorri de volta, e por um momento, só um momento, a angústia em meu peito parece um pouco menos sufocante. Pelo menos minha amiga está feliz.

///

Atrávez da minha janela (VALU)Onde histórias criam vida. Descubra agora