capítulo 1 - Antonieta

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    Estou na recepção do hotel na capital quando a recepcionista fala que minha mãe me mandou um telegrama,  o que imediatamente me deixa intrigada e me faz pegar e ler rapidamente a mensagem que diz:

mon amour,  estou de mudança para Campos dos goytacazes, venha me ver o mais rápido possível. Estarei no aguardo, para me encontrar vá ao hotel da cidade e procure por moi
ass:Margô ”.

     Minha mãe sempre teve essa mania de contar histórias pela metade, da última vez que nos falamos ela estava em São Paulo protagonizando uma peça e agora por alguma razão estava em uma cidade do interior do Rio de Janeiro.
   Com o fim do meu curso de contabilidade e datilografia  financiado pelo meu pai aqui no Rio estava meio sem rumo, então assim que vejo a oportunidade de conhecer um novo lugar decido fazer as malas e ir ao encontro de minha mãe em Campos.

***

   Depois de chegar e fazer algumas pesquisas na cidade acabo por descobrir que  só existe um grande hotel em campos, então vou para lá e quando cito o nome Margô me mandam ir para o quarto 13 onde minha mãe abre a porta sorrindo.

   - oh ma fille você veio mesmo,  está tão linda - minha mãe fala enquanto coloca meus cabelos castanhos para trás da orelha e ajeita minha boina azul - tenho muitas novidades, se lembra da Iolanda? minha colega de elenco.

     Iolanda vem até nós e me comprimenta, seu cabelo mais curto e preto do que eu me lembrava.
 

  -Agora a pergunta que não quer calar - eu falo largando minhas malas no chão e me sentando em um sofá - o que as trazem a esse fim de mundo?
    - Nós quase fomos presas após desrespeitarmos um aviso de censura da polícia do Getúlio - fala Iolanda enquanto pega Toninho seu filho no colo.
    - Não tivemos option a não ser fugir - minha mãe completa a frase.
    - Mas tivemos sorte de encontrar um homem cheio da grana que nos ajudou.
    - a que custo ? - eu pergunto para as duas.
    - A condição era eu mentir para Rafael Antunes que o Toninho é filho dele - Iolanda me responde levemente atordoada.
     - Espera… o mesmo Rafael que chamou a polícia para você? - pergunto um pouco contrariada - aquele que você roubou?
     - Sim, mas em compensação o homem vai financiar uma peça para nós no casino da cidade mon amour - minha mãe responde tentando me convencer do plano - e também podemos pedir para que ele arrume um emprego na tecelagem tropical para toi.
      Volto a me sentar pensando sobre como minha mãe e Iolanda conseguem se meter em uma encrenca pior do que a outra.
      -Quando conhecerei o cabra que vai financiar toda essa ação e que pelo posso ver tem algo muito grande contra o ex de Iolanda?
      - Está noite nós três vamos a um jantar na casa dele mon Cher - minha mãe fala com uma cara ardilosa - e faça la faveur de ir mais apresentável não vestindo esses trapos velhos.
       Iolanda ri de longe enquanto minha mãe segue espraguejando algo em seu francês fajuto enquanto eu começo a revirar minha mala a procura de algo para vestir.

***

        Depois de algumas horas eu minha mãe e Iolanda estamos na porta do tal sujeito que acabei por descobrir que se chama Joaquim.
        -Mon Cher faça me o favor de usar su sotaque francês - minha mãe fala antes de tocar a campainha.
         Um homem alto de cabelos pretos vestindo um belo terno marrom abre a porta com um sorriso presunçoso no rosto e diz:
         -Boa noite minhas estrelas - ele que até então parecia não ter notado minha presença ao me ver fala - e você quem é?
        - meu nome é Antonieta Gauthier - respondo estendendo a mão para cumprimentá-lo - sou filha da Margô … e voce deve ser o Joaquim estou certa?

Corações desatentos Onde histórias criam vida. Descubra agora