Capítulo Seis

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Eu estava na biblioteca, só passando o tempo porque a aula foi vaga. Olha, ainda bem, né....? Enfim! Acabei me envolvendo de verdade nesse tal clube. Fiz algumas pesquisas de lugares na cidade que fossem espaçosos. A ideia da May é realmente boa, e vindo dela, que é toda certinha, não tem como isso dar errado.

Falando na May, ela entrou na biblioteca com um sorriso que parecia que ia rasgar o rosto. Não pude deixar de dar um sorriso de volta.

— Falei com o diretor, e ele adorou a ideia, especialmente porque você está envolvida. — Ela sentou do meu lado e soltou um suspiro. — Mas antes, já escolheu um clube para entrar?

Eu franzi o cenho, meio confusa. Pensei que fazer um clube era justamente para não precisar entrar em um.

— O seu, ué.

— Não te falei antes, mas para abrir um clube, você tem que estar em outro clube que não seja o seu.

Suspirei. Arrependimentos já começaram a bater. Pensei que isso ia demorar mais.

— E aí? Qual clube você vai escolher?

— Posso dizer o quanto estou arrependida disso tudo? — Ela riu e balançou a cabeça, negando. — Eu topei te ajudar justamente para não precisar entrar em um clube.

— Não é tão ruim assim, Fay. Acredite, temos ótimos clubes. É só escolher um. — Suspirei de novo, como se isso resolvesse todos os meus problemas.

— Sugestões?

— Bom, escolha algo que você realmente goste. Tipo...?

— Dar socos em alguém. — Respondi na lata, arrancando uma risada dela.

Era aquela risada meio "isso é loucura, mas vou fingir que é normal". Suspirei pela terceira vez. Como vou escolher um clube se todos parecem tão sem graça?

— Para sua sorte, temos vários clubes de luta. — Eu imediatamente endireitei minha postura, mais interessada do que nunca.

Um clube de luta não seria uma má ideia.

— Sério? — perguntei, animada.

— Sim, temos boxe. —Abri um sorriso de orelha a orelha. Sempre quis fazer boxe, mas meus pais nunca deixaram. — Temos...

— Não precisa falar mais nada! — falei com uma empolgação... razoável. —Vou entrar para o clube de boxe — Ela assentiu, sorrindo.

— Bom, agora me diga o que está fazendo. — Ela olhou para o notebook em cima da mesa.

— Estava procurando lugares legais para a gente se reunir, na verdade. Achei alguns e estava pensando em dar uma olhada depois da escola. O que acha? — Olhei para ela e nossos olhares se encontraram. Ela sorriu.

— Parece ótimo. Mas onde vamos arranjar dinheiro para alugar um desses lugares? — Ela voltou a olhar para o notebook. —Não temos dinheiro. — Ela suspirou e me encarou.

Verdade. Nós não temos dinheiro. Mas meus pais têm. E eles querem tanto que eu me envolva na escola, faça amigos... E, poxa.... um clube fora da escola seria perfeito para estudar. Especialmente com a May envolvida... Se não ficou claro: vou pedir ajuda aos meus pais.

— Não se preocupe com isso, tenho o dinheiro. — eu disse, e ela assentiu.

— Obrigada, minha salvadora. — ela abriu um sorriso enorme.

Minha salvadora, ouviram isso? A toda certinha da May me chamando de salvadora. Mas, afinal, do que isso importa? Sorri de volta.

— Posso te acompanhar na visita aos lugares? — perguntou. Eu assenti prontamente.

É claro que eu ia chamá-la mais cedo ou mais tarde. Afinal, a ideia do clube foi dela, então nada mais justo do que ela escolher o lugar.

— Claro, por mim tudo bem.

— Então nos encontramos no portão depois da última aula? — ela se levantou.

— Pode ser.

— Aliás, qual é a sua última aula? — perguntou ela, curiosa.

— Não faço ideia. Nem peguei o horário ainda. Tô só indo pra onde dá na telha. Por exemplo, agora tô com uma aula vaga porque parece bem mais interessante do que qualquer aula de exatas. — fui sincera, e ela começou a rir.

May sempre ri das minhas falas. Não sei se é porque ela acha engraçado ou se é só pra me julgar mesmo, mas enfim, ela sempre ri.

Ah! E eu realmente não sei meu horário. Nem quis olhar, porque, sério, quem estuda no primeiro dia de aula? Isso é loucura! Então, tô só frequentando as aulas mais fáceis. Amanhã, quem sabe, eu me preocupe com isso. Mas hoje, tô pensando em matar a última aula e ir pra quadra jogar um pouco de basquete.

— Ok, só não deixa o diretor te ver. — ela me avisou. — E olha seu horário, você só vai se prejudicar assim. — suspirei, revirando os olhos.

Ela tava certa, mas ouvir isso de uma adolescente é estranho. Geralmente, são os adultos que dão esses sermões, mas, claro, novamente, a toda certinha May.

— Pode deixar. — eu disse, tentando soar convincente. Ela sorriu.

— Vou indo pra aula, te vejo depois. — ela acenou e eu acenei de volta.

Fiquei olhando enquanto ela saía da biblioteca e, depois, voltei minha atenção para o notebook. Soltei um sorriso fraco, balançando a cabeça. Ela tá animada demais com isso, e... quer saber? Eu também tô!

...

Assim que cheguei na quadra, dei um longo suspiro ao ver algumas meninas já aquecendo. Entre elas, estava a loira que tinha acenado para mim mais cedo. Ela era um pouco mais baixa que eu, com cabelos loiros longos que chegavam até abaixo da cintura. Seus olhos verdes brilhavam, e o sorriso dela era perfeitamente alinhado. Estava vestida com o uniforme de líder de torcida e se movia com uma energia contagiante, sempre com aquele sorriso estampado no rosto. Suspirei novamente e pisquei algumas vezes, ajeitando minha postura. Acho melhor ficar longe de mais problemas.

Tentei desviar meus pensamentos e olhei para Ploy, que estava conversando com Pear. Ploy tinha os braços enrolados no pescoço de Pear, enquanto os braços de Pear estavam ao redor da cintura dela. Elas pareciam tão seguras de si, tão à vontade com tudo ao redor, sem se preocupar com os olhares de julgamento das outras pessoas. Não pude evitar me comparar com elas. Elas têm uma confiança que eu ainda estou tentando encontrar em mim mesma.

Respirei fundo, percebendo que talvez eu estivesse observando demais, e logo forcei um sorriso quando vi Frung vindo em minha direção com uma bola de basquete nas mãos.

— Quer jogar basquete? Estamos precisando de mais uma para completar o time — disse ela, jogando a bola para mim.

— Claro — respondi sem pensar duas vezes.

— Se mexe, Fay! — ela gritou enquanto corria em direção às outras garotas, e eu acelerei o passo para acompanhá-la.

Não querendo me gabar, mas eu sou realmente boa em qualquer esporte que decido tentar. No basquete, por exemplo, eu era considerada a melhor da turma. Mas sério, não estou querendo me gabar!

[...]

Against All The Odds That Exist Between Us || FayMay Onde histórias criam vida. Descubra agora