Todas as cartas de amor são rídiculas

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Era manhã e o sol brilhava fortemente na cidade dos anjos. Os pássaros cantavam incessantemente, sem sequer se importar com o que acontecia com os meros humanos abaixo de si. Cristal acordava com dor de cabeça depois de encher a cara até tarde da noite sem medir consequências. Os olhos se abriam devagar, trazendo a visão das gélidas paredes brancas repletas de pinturas de paisagens genéricas que estavam lá desde a compra do local. Os lençóis se enrolavam no corpo cansado como um acalento. Era hora de enfrentar mais um dia de buscas incessantes, ou era o que se esperava que a líder fizesse.

Num salto, deixou o conforto do colchão de casal, que parecia maior que o comum nos últimos dias, organizando a roupa de cama com cuidado, deixando os travesseiros posicionados lado a lado como sempre. O seu travesseiro, macio e leve, oferecia um alívio acolhedor depois de dias cansativos. O dela, firme e sólido, proporcionava estabilidade e evitava dores incômodas no pescoço. Embora fosse duro, era tudo o que ela precisava. E no centro, uma almofada com o logo da gangue que ganhou de aniversário de sua companheira de quarto. Na cômoda, um remédio para dor de cabeça junto de um copo de água. Não demorou muito e ela ingeriu o medicamento.

O guarda-roupa branco era só seu como normalmente. Passando por todas as suas roupas, decidiu que o permanecia uma ótima cor. A calça era jeans de lavagem clara, cintura baixa, e um tênis de plataforma. A blusa, um cropped preto com escritos rosas, e nas mãos, luvas que iam até o cotovelo da mesma cor. Brincos simples de pequenas pedrarias pareciam uma boa opção. Sintonizando na frequência escolhida por suas meninas, indicada no grupo do aplicativo de mensagens, as cumprimentou sem estender muito o contato, ao menos por agora. Saindo de seu quarto para o pátio do hotel, onde majoritariamente moravam as garotas de sua organização, pegou seu carro conferindo a posição dos retrovisores. Respirando fundo, pedia mentalmente para ouvir um "sim". Sua respiração falhava levemente, seus olhos se fechavam enquanto a mão seguia para a gola da blusa, apertando o botão que a permitia se comunicar pelo sistema de rádio.

"Alguma novidade?" perguntava, ouvindo o típico chiado que iniciava a transmissão.

"Nada, patroa, mas eu, Nalla, Kali e Elis estamos refazendo as rotas do litoral." Demorei um pouco a reconhecer a voz de Mabel.

"Estou com um grupo olhando todos os locais fechados de novo, patroa." Mai era direta, parecendo apressada.

Os minutos seguintes foram de atualizações sobre as buscas. Uma pausa se fez necessária antes que pudesse, de fato, dirigir até algum lugar. As mãos largadas ao lado do corpo, o braço sobre a testa e os olhos. Respirava fundo várias vezes, tomando coragem para o que iria dizer. Nunca foi difícil manter a cabeça. Todos são substituíveis, era o que sempre dizia sem se preocupar com como soaria para os demais. Muitas pessoas saíram de sua vida, muitas a deixaram, muitas sequer tiveram a consideração de encerrar o ciclo. Mas ela sempre esteve ali. Era quase como um erro na matriz a decisão que teria que tomar. A passagem de tempo pode não ser muito clara quando se está na mente de nossa protagonista. As coisas parecem rápidas, mas já fazem cinco dias desde que Renata fora levada.

Na inauguração da mecânica Braba, finalmente realocada em um espaço maior e melhor estruturado no norte da cidade, a festa era animada. Pessoas conversavam, bebiam, flertavam, aproveitavam o clima que somente uma festa organizada pelas Hellsangels poderia proporcionar. Infelizmente, as consequências das ações de Renata deram as caras naquele dia. "Ela não é minha namorada" era o que sempre respondia quando questionada sobre Miranda, a mulher com quem saía há um longo tempo, mas não tinha nenhum compromisso sério.

Na roda de conversa, Cristal acaba soltando sobre a ruiva ter ficado com Charlotte, criando uma situação desconfortável entre as conhecidas como Minata. Apesar de, em momento algum, ter sido um problema que beijassem outras pessoas, no fim, não eram exclusivas de qualquer forma. Apesar de reconhecer a quase ausência de culpa de sua líder nessa situação, mesmo que a conhecesse o suficiente para saber que a intenção era, sim, provocá-la, a sublíder sai precisando de ar, conversar com Selena, 03 da gangue, e sua filha mais velha.

My best mistake (CRISNATA)Onde histórias criam vida. Descubra agora