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HAN JISUNG

Ouvia macas passando rapidamente pelos corredores, nomes aleatórios sendo chamados por uma voz robótica, um cheiro de álcool e apitos aleatórios de máquinas estranhas e portas se abrindo. Será que eu atrapalhei tanto os meus pais? Por que não voltam logo?

Estava ansiosamente esperando por mais alguma notícia dos meus pais, qualquer uma que fosse, pelo menos até ouvir sussurros lá de fora falando sobre " O garoto com um braço quebrado que foi abandonado pelos pais".

Seria coincidência demais, isso se eu não soubesse o quão os meus pais sentem a mais pura repulsa de mim.

Chega a ser irônico o fato de me encontrar chateado. Sempre almejei ser livre deles, mas nunca achei que seria tão cedo e muito menos sem um plano. Chega a ser frustrante que eles tenham me abandonado por ser um inútil.

Por que eu ainda tenho esperança que algo mude? Sinceramente, não acho que eu mereça uma mudança, mas é irritante saber que nunca passarei de um fardo, até mesmo para os meus progenitores

Nem no colégio eu conseguia trazer algum orgulho aos meus pais, era sempre "apenas notas medianas". Sempre oito ou nove, mas nunca um dez. Nunca o suficiente.

─ Olá Jisung! ─ meus devaneios foram interrompidos pela voz animada da senhorita Lee ─ Tá tudo bem? ─ perguntou preocupada

─ Eh... Não muito, pode se dizer que não é muito legal saber que eu fui abandonado num hospital ─ suspirei cansado ─ É ainda mais ridículo tomar conhecimento disso após uma fofoca de corredor de hospital.

─ Então você já tá sabendo... ─ afirmei num breve "Sim" ─ Sinto muito, querido ─ passou levemente uma das mãos nas minhas costas como forma de me confortar

─ Tudo bem, no final, não é tão ruim assim no final ─ me encarou com um olhar misto de curiosidade, tristeza e pena. Odeio essa palavra, é ridículo saber que alguém sente pena de mim ─ Ei! Não fica assim pra baixo! Eu vou tentar te ajudar

Me ajudar? Me ajudar com o que? Será que ela vai me empurrar para os meus pais novamente? Não. Eu não posso viver esse inferno novamente

─ Me ajudar? Como assim? ─ perguntei receoso

Por mais que eu não conheça mesmo a senhorita Lee, eu de certa forma me afeiçoei a ela. Em todos os momentos, desde que eu cheguei no hospital, ela foi respeitosa e gentil.

Talvez seja porque esse é o trabalho dela, mas ainda sim eu me sinto tocado. Ninguém nunca me tratou dessa forma. Como se quisesse o meu bem, me quisesse por perto.

Deveria para de ter esperança de que algo dê certo ou que alguém algum dia talvez se importe comigo. Não é como se eu fosse magicamente conhecer alguém que vá me amar e fazer algo por mim.

─ Eu tive uma ideia, mas para botá-la em pratica eu preciso que você e ouça com atenção, se gostar da ideia me informar

─ Tá bom ─ afirmei, tentando não transparecer meu nervosismo

─ Bom, como você ficou sabendo do incidente dos meus pais eu vou tentar ser mais direta, certo? ─ assenti com a cabeça ─ Quando eu saí daqui e fiquei sabendo disso, eu fiquei enfurecida. Principalmente em saber que um bom garoto como você foi deixado aqui, como uma mãe de um garoto que tem praticamente a mesma idade que a sua, eu me senti extremamente triste. Então após ouvir uma amiga minha, eu tive uma ideia. Mas primeiro, eu tenho que saber se você se sente confortável com a minha presença

─ Na verdade sim, eu me sinto bem ao seu lado, mas por que a pergunta?

─ Bom, como você, infelizmente, não tem mais onde viver, eu estava pensando, por que você não vem morar comigo? Eu tenho um filho, como eu já mencionei antes, então você não ficaria sozinho, não mais

─ Ah... Até pode ser, mas não tem toda uma papelada que tem que ser preenchida para isso? ─ perguntei confuso

─ Sim, há toda uma papelada envolvida nisso, porém eu por já ter uma carreira bem estabelecida e um salário alto, além de já ter um filho quase atingindo a maior idade, eu tenho mais facilidade em adiantar essa papelada, além de que seus pais fizeram a questão de deixar bem claro que se qualquer um quisesse ficar contigo, eles não ligariam. ─ parecia esconder algo, mas decidi ignorar

─ Ah, então tudo bem ─ sorri ─ Mas onde eu irei ficar hoje?

─ Na realidade eu já estava pensando em tentar te levar hoje caso você gostasse da ideia ─ sorriu e pegou algo que estava na mesa ─ Então, o meu turno já acabou hoje, o que você acha de ir? - sorriu balançando a sobrancelha de forma divertida

─ Por mim tudo bem

...

─ Ah, Ji como você vai dormir aqui, eu preciso te avisar algumas coisas. Primeiro; como você não tem outras roupas disponíveis, eu irei te emprestar; segundo: o meu filho pode ser um tanto quanto isolado e na visão de algumas pessoas "fresco", mas eu peço que não o julgue ou tente se aproximar de forma forçada, isso o deixa desconfortável

─ Tudo bem, tentarei ao máximo não incomodar o seu filho, muito menos o deixar desconfortável ─ abaixei a cabeça ─ Mais uma vez, muito obrigado senhora Lee

─ Não me agradeça, ainda tenho muito a fazer, inclusive, pega um pacote que tá ai atrás ─ peguei uma sacolinha com uma estampa de bichinho de pelúcia ─ Essa mesma, tá vendo que ai tem dois bichinhos? Pega o coelho pra você e entrega o outro pro meu filho, provavelmente ele vai tentar puxar um assunto

─ Como assim? ─ perguntei extremamente confuso

─ Meu filho, Minho, gosta muito de animais de pequeno porte, como gatos, coelhos e esquilos. Então provavelmente se você entregar isso ele vai tentar puxar assunto com você ─ sorriu meiga para mim

─ Entendi, vou tentar fazer isso quando chegarmos - sorri de volta

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