Capítulo 2

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O furgão branco equipado com inúmeras câmeras e antenas ziguezagueava pela cidade com o ar condicionado no mínimo, o que era perfeito. Lucas, Vinícius e Pedro olhavam desconfiados para mim, sentados do lado oposto ao meu. Neto, o motorista, dirigia a van tranquilamente, sem se importar com quem carregava atrás. O clima era esquisito, como se todos eles estivessem esperando um e.t ou algo assim.

– Então, você é jornalista do setor de Roberto? – perguntou Pedro, ajeitando o óculos que escorregava pelo nariz pontudo. Ele tinha uma voz esquisita, que não era grave e muito menos aguda.

– Isso – respondi, curiosa com o rapaz.

– A gente soube que ele é um babaca – comentou Vinícius, pegando o celular como quem não quer nada.

– Ei cara! É o chefe dela, tem respeito – Neto gritou do volante.

– Mas ele realmente é – concordei, remexendo as mãos – vocês são fotógrafos?

– Sim, eu e Lucas somos os cinegrafistas – comentou Vinícius, apontando para o rapaz gordo e baixinho ao seu lado, com o rosto cheio de espinha – Pedro é o especialista no equipamento de filmagem.

Pedro acenou como se para mostrar que estava falando dele. Os rapazes pareciam ser muito simpáticos e amistosos. Mas se tratando dessa empresa, eu não conseguia confiar em ninguém. Então, apenas decidi retribuir o aceno e ficar quieta, repassando as perguntas que Roberto havia me entregado. Eles respeitaram, percebendo que estava concentrada em outra coisa em vez de bater papo.

Nosso carro fez mais algumas curvas antes de parar por completo. Neto saiu do volante para esticar as pernas e Vinícius abriu a porta lateral para descermos também, oferecendo a mão quando chegou minha vez, todo cavalheiro. A vista era simplesmente espetacular. O casarão era rodeado de uma cerca elétrica branca, compartilhado com um muro tão branco quanto. Era por entre as frestas da cerca que dava para ver um jardim muito bem cuidado, uma praça com cadeiras de cimento perto de um chafariz. Mas o evento mesmo era a casa. Havia duas torres, uma de cada lado da entrada principal e a parte da frente sustentava um arco desenhado com flores. As janelas eram enormes, do tamanho de um homem adulto e com certeza havia blindagem porque elas pareciam muito grossas.

– Ele mora aqui? – comentou Pedro, embasbacado, limpando o óculos na blusa.

– Não se engane com essa gentinha rica Pedro, eles não valem nada – Vinicius respondeu, puxando uma maleta da van do tamanho de uma mala de viagem.

– Vocês são bocudos demais, vão acabar desempregados – Neto acendeu um cigarro enquanto falava, encostado no capô do carro, relaxando. Usei a desculpa para fumar um também.

A primeira impressão que tive, era que Vinícius compartilhava uma opinião muito parecida com a minha. Sua pele brilhava no sol, um tom de queimado muito bonito e de vez em quando, ele ajeitava uma mecha de cabelo liso atrás da orelha, incomodado. Ele quase me lembrava um herói de quadrinho.

– Provavelmente sim, mas eu vou comemorar se isso acontecer – ele riu do comentário de Neto, desenrolando os fios de microfone.

– Porque vocês não reclamam no RH? – Lucas finalmente falou alguma coisa, participando da conversa, ajustando o tripé do flash.

Todo mundo parou para olhá-lo. Sua blusa azul escuro e a calça preta o faziam parecer mais alto do que de fato era. Foi uma comoção em conjunto de risos e gozações, até mesmo eu consegui rir um pouco com eles. O coitado do rapaz ficou confuso, olhando para o pequeno grupo.

– É sério – deu de ombros – Como eu não sofro com nada, não ligo, mas vocês deveriam tentar.

– Lucas, pra quem trabalha uma hora no escritório e dez horas em campo, você nunca se sentiria incomodado – Pedro disse, configurando a câmera de vídeo.

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