aquele ex - gabriel medina

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— Amor, esqueci... — eu falei entrando em casa, mas fui parado quando uma voz, muito conhecida por mim, invadiu os meus ouvidos.

— Por um circunstância do destino, alguém que amava demais, acaba partindo pra outro plano muito cedo — a mulher falou, eu corri para sala, ainda escondido.

Encontrei minha namorada, sentada no chão da sala. E na TV, aquela que costumava receber esse título. Um nó se formou em minha garganta, e eu senti uma vontade imensa de chorar.

A mulher que eu mais amei, a mulher dona dos lábios cor-de-rosa, e do sorriso mais bonito que eu já pude presenciar. A mulher com quem eu planejei ter os meus filhos, construir uma família e morar de frente para o mar. Estava ali, em um vídeo, falando com a minha atual.

A mulher que cuida de mim, mesmo eu estando completamente quebrado. Ela que me cura de todas as maneiras possíveis, todo os dias.

— Amar é querer o bem de quem fica, mesmo sabendo que o melhor pra quem fica — o vídeo prosseguiu, e eu senti meus olhos molharem. Ela começou a chorar, e eu fiz o mesmo. Seus olhos castanhos molhados me lembraram de nós.

Eu a amei, amei como nenhum outro homem jamais amou outra mulher. E, sempre vou amar.

— É conhecer um novo amor! — ela falou em meio aos prantos, e eu senti meu peito pesar. O que era aquilo? Eu nunca havia visto aquele vídeo, onde ele estava todo aquele tempo?

Seus cabelos longos, seu sorriso choroso, seus óculos dourados. Tudo nela era tão bonito, tudo aquilo que me atraia tanto para ela. Ela estava linda, mesmo não estando bem.

— Então é você, a nova namorada dele? — ela falou, como se soubesse o que estava acontecendo na minha vida — então é você que diz que vai casar com ele?

— Sou eu, sou eu! — minha namorada falou, claramente nervosa — desculpa, mil desculpas, eu não deveria ter feito isso.

— Muito prazer, vim te conhecer — ela falou, com lágrimas deixando seu rosto vermelho — queria saber quem é a moça, que fez ele voltar a viver.

Ela sorriu em meio as lágrimas, acenando para a mulher. Ela estava chorando também, claramente sem entender nada.

Mas eu também não estava entendendo nada, o que era aquele vídeo?

— Me desculpa!

— Você não precisa se assustar, não vim discutir com você, nem brigar — ela levantou as mãos em rendição, piscando. Aquela piscada que a tanto foi minha, que roubou meu coração desde a primeira marotagem em que ela foi usada — só vim, só vim te falar!

Ela estava engasgando com os soluços, mas não tirando o sorriso do rosto. Meu peito estava doendo tanto, eu queria ela aqui comigo.

— Que quando ele chora, você não entende. Não é com você, vê se compreende, é coisa da gente — ela sempre esteve um passo a frente, desde do dia em que nos conhecemos, ela sempre soube qual seria minha próxima ação. E, ela provava mais uma vez que sabia tudo sobre mim, sobre o meu coração, sobre o meu amor por ela.

Eu chorava todas as noites, todas. Eu sonhava com os nossos beijos no meio do mar, com as ondas que a ensinei a pegar, com as bicicletas que compramos pra andar na praia, com as nossas noites na areia. Com os nossos planos, com os nosso filhos — que nunca existiram — eu sonhava com ela.

— Sou aquela ex, que ele não esqueceu — ela pausou, soluçando nervosa — mas ainda bem que você apareceu!

Ela sempre foi assim, desde o momento que descobriu a doença até o momento em que ela me deixou, ela falou para eu ser feliz. Com ou sem ela.

Mas, por muito tempo eu achei que eu nunca mais seria capaz de ser feliz, de sorrir, de brincar, de dormir. Até, ela aparecer. A garota que me aceitou com meus traumas e defeitos, que me abraçou quando eu precisei, e que entende minha dor.

— Faz ele me esquecer — ela suspirou, tremendo. Eu jamais seria capaz de esquecer a mulher que tanto amei, seria? — não suporto ver ele sofrer!

Ela levantou, deixando a mostra a tatuagem na perna direita. A tatuagem que ela fez para mim, aquele G. M acompanhado da prancha que ela fez quando descobriu que ia morrer.

Eu derrubei a prancha que estava em minha mão, a prancha com a assinatura dela. Eu caí no chão de dor, minhas pernas falharam, eu queria poder dizer que a amo mais uma vez. Eu queria poder ama - la, abraça - la mais vezes, ter a beijado mais milhões de vezes.

Minha namorada olhou para mim ao notar que eu estava ali. Ela estava chorando, muito.

— Por isso deixei esse vídeo pra dizer — ela de pé, falou. Atraindo nossos olhares, e eu urrei de dor no coração. Eu te amo, eu te amo por ser a melhor pessoa do mundo, a melhor namorada e a melhor noiva. A mulher que mudou a minha vida, e que agora provou que pode ser o melhor ser humano que já pisou nessa terra.

No vídeo, ela pegou uma das minhas pranchas e correu até a porta. E eu  sentei no chão ao lado da minha namorada, ela estava impactada. A camiseta com o meu rosto, que ela tinha mandado fazer escondido. O shorts que ela havia roubado de mim, em algum momento. O anel dourado de noivado, que eu havia a dado meses antes. O chinelo havaiana com uma foto minha nas Olímpiadas de Paris, a minha que virou capa de caderno. Ela havia feito um chinelo. Ela era minha fã, e eu era o dela.

— Lá de cima, vou estar torcendo por vocês! — ela piscou uma última vez, e correu para fora, me dando uma última visão do seu sorriso arteiro. Das sua covinhas nas bochechas, dos seus olhos, da sua boca, do seu corpo.

A tela ficou azul. O vídeo não existia mais, ele havia sido apagado. Eu nunca mais veria ela daquela forma, toda vestida de mim.

Eu nunca mais a veria. Porque, ela apagou todos os rastros dela na minha vida, antes de morrer. Tudo. Aquele vídeo era a última coisa que eu pude ver.

Exceto pela foto no meu criado mudo, em que nós surfávamos a onda mais bonita ao mesmo tempo. Sorrindo. Felizes. Juntos.

A minha namorada me abraçou, e eu me permiti chorar por horas. Até sentir toda a água do meu corpo se esvair. Infelizmente, mesmo passando dias chorando, a dor nunca se esgotaria.

Mas a garota a minha frente, fazia ela ser menos dolorida. Era o meu conforto.

— Sophie me entregou ontem — ela sussurrou — diz que ela entregou pra ela antes do morrer, para ser entregue a sua próxima namorada que Sophie aprovasse.

— Parece que você foi aprovada — eu coloquei uma mecha cacheada da garota atrás da orelha, e a beijei.

A mulher que agora tem assas, cuidou de tudo para que minhas assas reaprendessem a voar. E voassem para alguém que pudesse assumir seu papel.

that ex - imagines diversosOnde histórias criam vida. Descubra agora