convite de casamento - darlan santos

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Ouvi a campainha tocar, me dirigi até lá curioso. Eu não estava esperando ninguém para hoje, inclusive, estava de saída.

Eu estava com a roupa do treino de vôlei, prestes a ir para ele. Quando abri a porta, meu sorriso foi espontâneo. Lá estava minha melhor amiga de infância, a mulher mais bonita que eu já tive a oportunidade de conhecer.

Ela estava linda, seus cabelos compridos caiam sobre seu ombro, seu sorriso que me lembrava de uma época em que nós jamais seríamos capaz de voltar. Encarei a sua mão, havia um anel dourado que me fazia lembrar de seu noivado, maldito noivado!

— Darlan — ela sussurrou, me encarando de cima a baixo — você arrasou nas Olimpíadas!

— E, você, não foi me ver como prometemos quando criança — eu apontei, irritado. Ela estava em uma viagem com o namorado, ao invés de assistir seu melhor amigo.

— Ah — ela resmungou, claramente desconfortável — eu vim te trazer um convite.

Ela me entregou, e eu encarei a inicial dela e do seu noivo. Medo percorreu a minha espinha, e eu a encarei incrédulo. Agora era oficial, minha garota iria casar.

Ela não disse mais nada, acenou e foi embora. Eu suspirei nervoso.

Nós crescemos no mesmo bairro, vizinhos de rua. Nos conhecemos quando ela tinha seis anos, e eu quatro. Nos encontrávamos todos os dias, depois da escola, e brincávamos até escurecer.

Nos fins de semanas, nós brincávamos do nascer do sol, até o breu da noite cobrir nossa visões.

Como sol e lua, que dividem o mesmo céu. Que não conseguem se perder um do outro.

Com o passar do tempo, quando ela ficou mais velha, ela começou a conhecer outras pessoas, outros meninos. Ela já não queria mais brincar, afinal, uma menina de 14 anos já não tinha mais idade para aquele tipo de coisa.

Hoje eu entendo isso, que ela era mais velha e mulher, e amadureceria muito mais rápido do que eu. Mas, naquela época, eu não conseguia entender o porque ela não podia me dar atenção e porque necessitava de outro garoto em sua vida.

Eu era suficiente, eu aceitava tudo por ela.

Quando completei 14 anos e ela 16, a garota passou a ser muito desejada. Tantas homens a queriam, e eu fazia questão de acabar com todos eles. Era minha menina.

Eu nunca entendi aquele sentimento, hoje eu entendo que era o amor. Eu fui seu melhor amigo, com que ela falava sobre os garotos, mesmo eu não gostando.

Eu não fazia a menor ideia de que as coisas que eu sentia, poderiam ser uma paixão. Eu era um adolescente imaturo, não tinha condições de entender o que se passava no meu coração em relação.

Quando ela assumiu seu primeiro relacionamento, eu chorei. Corri para casa a procura do meu irmão, e não o encontrei. Não encontrei minha mãe, não encontrei ninguém. Eu me senti sozinho.

A mulher da minha vida, estava com outro. A mulher que eu amava, amava outro.

Eu chorei, chorei até não poder mais. Eu tinha 18 anos, um recém adulto. Me culpei por não ter sido mais rápido, por ter perdido o tempo, por ter a perdido.

E agora, com aquele convite em mãos, eu sabia que não teria mais volta. Ela ia se casar, e eu não poderia fazer nada sobre isso. Poderia?

Me sentei na mesa de centro, e encarei aquele papel. A sua inicial enlaçada com a dele, senti meu peito doer, e um nó se formar em minha garganta.

— Puta merda — eu resmunguei, abrindo o envelope, lá estava a data, o dia e a hora.

Eu li, desesperado, a frase que prenchia o centro da folha: "Quis o destino que nos encontrássemos, quis a vida que nos amássemos e queremos, com amor, construir nosso destino."

Eu bati na mesa, sentindo as lágrimas escaparem dos meus olhos.

O tempo passou, e por muito tempo eu sofri calado. Aquele sorriso, aqueles lábios, nunca saíram do meu pensamento. Eu quase falei que estava apaixonado nesse últimos três meses, eu deveria ter dito! Quem sabe, talvez, eu não teria que passar por isso.

Olhei aquele envelope de merda, mexendo ele em meus dedos. As lágrimas embasavam minha visão, mas um borrão preto atraiu o meu olhar.

Eu aproximei e li, aquela frase fez meu coração bater forte. Eu sorri em meio as lágrimas, ela me amava. Eu levantei e abri um uísque, só assim para eu criar coragem e me declarar pra ela.

"Estou casando, mas o grande amor da minha vida é você!"

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