Capítulo 1: Aquele Primeiro Olhar, de Novo

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Quando você procura no dicionário a palavra "clichê", o significado que aparece é: sem originalidade; expressão que peca pela repetição; banalidade repetida com frequência. Isso não parece ser uma coisa boa, certo? Mas, quando falamos de uma história de amor clichê, eu tenho certeza de que, pelo menos uma vez na vida, você já sonhou em viver uma, ou ao menos suspirou ao ver ou ler algo assim, mesmo que negue isso até a morte.

Isso quer dizer que a história que vou contar para vocês agora é um romance clichê clássico? Primeiramente, eu não acho, especialmente porque as duas pessoas envolvidas não se encaixam, nem de longe, nas personalidades de um casal de qualquer história de amor comum. Eles são, particularmente, únicos. Mas se analisarmos os sentimentos, os corações que aceleram apenas com um olhar, as palavras que faltam quando queremos nos declarar e a sensação de paz e completude ao estar na presença da outra pessoa, bem, essa é uma clássica história de romance. Mas eu prometo que ela não será clichê.

Vou começar falando um pouco da primeira metade dessa estranha laranja do amor, e prometo aqui e agora que não citarei novamente termos tão ruins quanto "metade da laranja", ok? Bem, nossa pessoa em questão chama-se Wave, um típico jovem tailandês e veterano na faculdade de Engenharia. Ele tem muitos amigos, é muito comunicativo e, invejavelmente, consegue ser bom em qualquer assunto, sempre sendo o aluno com as melhores notas, mesmo não parecendo um estereótipo de nerd ou garoto prodígio.

Wave é o tipo de pessoa que prefere ir e voltar para a faculdade de bicicleta nos dias de sol, justificando para todos que é sua maneira de fazer algum exercício diariamente. A verdade é que a bicicleta o faz sentir-se mais livre, mais em contato com a natureza e menos enclausurado no caos da cidade grande, com seus carros, buzinas e poluição. Wave era um amante da natureza, por mais estranho que esse termo possa parecer para você.

Porém, mesmo aquele dia sendo bem ensolarado, Wave estava em seu carro em vez da bicicleta, já que o seu despertador tinha feito o favor de não acordá-lo de um sonho maravilhoso, onde ele estava em sua fazenda fictícia, cuidando de suas galinhas fictícias. E agora, ele estava ali, na bagunça da cidade grande, em meio à fumaça e muito barulho e, é claro, sem nenhuma galinha.

"Mas que caos!" resmungou, enquanto abria a janela do carro tentando captar um pouco de ar puro no meio daquele engarrafamento. Aquilo era provavelmente o que ele mais odiava na cidade de Bangkok. "Não deixe o caos te dominar! Você é melhor do que isso, fique calmo e tranquilo como sempre."

Essa era uma forte característica de nosso rapaz, ele adorava falar sozinho e isso já era um hábito tão enraizado que as pessoas mais próximas nem ao menos notavam mais. Apenas com poucas palavras, ele mesmo conseguia se tranquilizar, como se fosse completamente autossuficiente e seu próprio psicólogo. Logo após suas palavras, um sorriso sutil substituiu as feições irritadas de segundos antes.

"Finalmente sou o primeiro! Vamos verde, vamos..." disse animado, enquanto tamborilava os dedos no volante e olhava o semáforo à sua frente. Ao ver a luz ficar verde, ele acelerou, ainda observando atentamente o semáforo. Isso fez com que ele perdesse a visão da frente do carro e batesse em algo metálico, que parecia ser mais leve que o automóvel em si. Por mais que não conseguisse identificar no que tinha batido, ele freou bruscamente o veículo, desatou o cinto de segurança e saiu o mais rápido possível.

Ao correr para a frente do automóvel, viu uma bicicleta cinza caída e um garoto, que estava vestido com o uniforme da faculdade, já se levantando e tirando alguma poeira da calça escura. Antes que o outro pudesse se estabilizar, Wave correu para segurá-lo pelo pulso e o virou para si:

"Você está bem? Me desculpe, eu não te vi! Onde está doendo? Você não pode se levantar assim!" tagarelou ele, visivelmente preocupado ao notar que a calça do rapaz estava rasgada e com um pouco de sangue. Porém, quando seus olhos avistaram seu rosto, ele percebeu que algo parecia familiar. "Eu te conheço?"

Amor de PalcoOnde histórias criam vida. Descubra agora