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O ônibus está lotado e os diversos perfumes misturados ao suor de alguns passageiros estão me deixando tonto. Encosto a cabeça na janela e fecho os olhos, numa tentativa de driblar o enjoo.
Minha história seria cômica se não fosse triste. Mas se tem algo que eu aprendi sendo brasileiro e vivendo nesse país infernal é que ou você ri da desgraça, ou chora por ela. Eu prefiro rir; sempre faço piada com as situações de merda que vivencio, torna tudo mais suportável.
Minha mãe era uma tailandesa de família rica que veio ao Brasil de férias. Ela se apaixonou pelo meu pai, mas meus avós não aprovaram o romance. Deram um ultimato: minha mãe voltava com eles para a Tailândia e sua vida confortável, ou ficava no Brasil ao lado do pobretão do meu pai. Preciso dizer qual foi a escolha dela? Não consigo culpá-la pelas suas escolhas; ela era só uma adolescente apaixonada, meus avós não deviam fazê-la tomar uma decisão tão séria tão jovem.
Cinco anos depois, meu pai trocou minha mãe por uma moça de família rica e nos deixou na sarjeta. Eu tinha só três anos e não era uma criança saudável. Mesmo que não aprove as decisões do passado da minha mãe, tenho muito orgulho dela; pois, diferente do meu pai, ela não me abandonou. Pelo contrário, arregaçou as mangas e começou a trabalhar.
Minha mãe adoeceu e não podia mais trabalhar, então fiz o que achei necessário: arranjei um trabalho. Aos quinze anos, consegui meu primeiro emprego. Pela manhã estudava, e à tarde trabalhava em um pet shop. Sempre fui amante dos animais, mas nunca pude ter um; minha condição financeira não me permitia isso.
Ter iniciado minha vida de CLT tão cedo me ensinou bastante, mostrou que o sistema é falho e que se você não lutar, será só mais uma estatística.
Todo o meu dinheiro ia para pagar as contas, e mesmo que trabalhasse incansavelmente, no final do mês eu estava igual ao início: sem grana.
Minha mãe morreu há três anos, vítima de câncer; já estava no estágio final quando descobrimos. Depois que ela se foi, com o dinheiro que deixou para mim, aluguei uma casa em outro bairro. Pelo menos nesse lugar, não corria o risco de morrer vítima de bala perdida. As chances ainda existiam, mas eram bem baixas.
Consegui um emprego de recepcionista em um salão de tranças, onde conheci pessoas incríveis. O salário não era dos melhores, mas o ambiente e as amizades que construí ali valiam muito.
Desde criança sou fissurado por cantores antigos, bandas ditas mortas e vinis, e foi visitando uma loja onde tinha um pouco de cada um desses itens que o conheci. O homem que tornaria minha vida monótona em algo doce, o meu talismã.
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- Amor, cheguei
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MEU TALISMÃ
FanfictionJeff e Barcode são um casal do subúrbio paulista que se esforça ao máximo para equilibrar o trabalho e as despesas, mantendo a pequena casa que compartilham. No entanto, suas vidas, já repletas de desafios cotidianos, estão prestes a sofrer uma gran...