Caminhos - 1 temporada.

Quando sai com outra pessoa

2020.

Fernanda tinha vinte e dois anos e cursava nutrição. Gostava de praticar esportes, especialmente handball e vôlei de praia. Era sagitariana de novembro. Jade riu da coincidência: mais uma sagitariana em sua vida. Estranhou estar sorrindo já as duas da madrugada, perdeu a hora conversando e conhecendo mais da garota, que agora queria encontrá-la. 

"Que tal amanhã, as 21? Eu te busco aí no sítio"

Ela hesitou em responder. Sabia que sua autoestima havia ido pelo ralo meses atrás. Mas naquela noite algo a deu coragem e ela aceitou. Bloqueou a tela e foi dormir. 

***

- Você está incrível, amiga!

Gabi sorria deslumbrada com a amiga à sua frente. Havia caprichado na make, algo sutil, mas bem feito, e na escolha da roupa e dos acessórios. Fazia calor e Jade usava um vestido preto, tecido solto no corpo, fresco e curto o suficiente para mostrar um pouco das pernas torneadas da morena. Já eram quase nove da noite e suas mãos suavam frio. A cada segundo se sentia mais arrependida de ter aceitado, não por Fernanda, que parecia ser uma pessoa bem legal, mas por ela. 

Há tempos Jade não se sentia bonita, não se reconhecia no espelho. A turbulência de seu relacionamento com Laura havia lhe roubado alguns quilos e lhe tornando uma pessoa totalmente insegura com relação a si mesma. Mas naquela noite, Gabi e Luc he diziam e viam o contrário. 

A caminhonete preta estacionou na entrada do sítio. Fernanda a recebeu com um sorriso cheirando a menta e seu olhar novamente percorreu a morena por completo. Ela não fez questão de ligar o carro de imediato, primeiro trocaram algumas palavras e elogios antes de seguir. 

Os ombros de Jade agora estavam mais relaxados e ela já bebia sua cerveja, gesticulava e sorria muito mais do que imaginou. Nas idas ao banheiro, rapidamente respondia as mensagens de Gabi e Luc, ansiosos querendo saber se estava tudo bem. 

"Sim!

Ela é ótima!

Tá tudo ótimo! 

Não se preocupem".

- E porque vocês terminaram? - Debruçou-se mais sobre a mesa, interessada no que a loira tinha a dizer.

- Ah, ciúmes, muito ciúmes, sabe? Ela tinha ciúmes de tudo, de todos, das minhas amigas da faculdade, das amigas do hand, primas, papagaio, cachorro, tudo. - Riu - até sem rede social eu fiquei um tempo, para que as coisas melhorassem entre a gente, mas mesmo assim, era muito difícil lidar com toda a insegurança dela... e eu me sentia mal porque fui eu que causei isso...

- Deixe-me adivinhar – Fez uma pausa e lançou um olhar intimidador - você a traiu? - Os dedos de Jade tamborilavam sobre a mesa. Ela perguntou, mas já sabia a resposta.

- Você faz biologia mesmo ou psicologia? - arrancou uma risada gostosa, antes de confessar.

- Mas não me ache uma pessoa ruim por isso, por favor. Em minha defesa, eu era mais jovem e imatura. E me arrependi muito, nós vivíamos indo e voltando e essa coisa de namorar a distância é complicado, então ela tinha sim motivos pra desconfiar de mim. Mas foi só uma vez.

- Relaxa, eu não tô te julgando por isso.

- Ah você tá sim! Eu aposto que está!

- Talvez esteja, mas você nunca vai ter certeza. - Tomou mais um gole de sua cerveja já sabendo que agora seria sua vez de falar do passado.

- E você e a sua ex, o que rolou?

- Bom, nós brigávamos muito por coisas que precisavam ser mudadas, mas nunca eram. Foi ficando cada vez mais desgastante até que... acabou. Eu terminei e não tem volta mais.

Foi o que disse, mas o que queria dizer era: Bom ela usava muito pó, ficava louca e tinha crises de ciúmes horríveis. O relacionamento ficou tóxico em todos os níveis que você possa imaginar. Mas, eu a amava. Nossa, como eu a amava, e tá sendo difícil pra caramba.

Fernanda a encarava, como se quisesse decifrar o que ela estava tentando esconder. Sabia que Jade não estava falando tudo, mas não era momento pra insistir.

- E tu ainda gosta dela, né?

- Eu seria bem hipócrita se falasse que não, eu gosto sim, mas não sei se a amo mais. Os últimos dois anos foram bem difíceis.

- Acho bom a gente parar de falar do passado então, eu não quero que isso roube a chance de tu me dar um beijo no final da noite.

Imediatamente ela corou de vergonha, era inevitável não sorrir. Fernanda era bem humorada e direta. E cada segundo ali deixava Jade mais encantada pelo jeito dela.