Capítulo 11

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 Para Abel, o bosque sempre foi seu playground e sua casa desde que nasceu. Quando acordava pela manhã, sempre corria para o bosque. Passava o dia todo correndo atrás de seus irmãos, coletando lenha, pegando frutas e caçando camundongos. No inverno, ficavam em casa como ursos dormindo em suas tocas, mas quando o solo começava a derreter e os pequeninos eram os primeiros a anunciar a chegada da primavera, retornavam ao bosque.

Como sempre faltava comida, o jovem Abel procurava entre arbustos tão altos quanto ele até encontrar um ninho de codornas. Ao contrário de outras aves, a codorna faz seu ninho no chão e era a única ave da qual Abel podia obter ovos.

No entanto, embora passasse o dia cavando entre os arbustos com um pau, muitas vezes terminava em vão. Ainda assim, no dia seguinte, abria os olhos novamente e ia procurar ovos. Dentro do ninho, que era feito de capim seco e penas, havia cerca de dez ovos pequenos com pontos negros.

Não se permitia levar todos os ovos. Três ou quatro discretamente. Dessa forma, a codorna não moveria o ninho. Se tivesse sorte, encontraria um ninho com até uma dúzia de ovos. Naquele momento, era possível coletar mais ovos e Abel, com 8 anos, se tornou o melhor garoto da vizinhança em encontrar ninhos de codornas.

Eles tinham de colher frutas com diligência antes que o verão terminasse e colher bolotas com cuidado no outono. O dia com o sol brilhando era curto demais para passear pelo grande bosque. Ele adormecia à noite e até nos seus sonhos estava correndo pelo bosque.

Quando Abel perdeu sua família e abandonou sua cidade natal, segurou a mão de seu mestre e continuou olhando para trás. Quando era criança, ele se interessava mais pelo bosque do que pela vila em chamas. O bosque era uma parte tão natural da sua vida que ele pode ter seguido seu mestre sem hesitar.

"A partir de agora, você aprenderá sobre a natureza. Terra, árvores, animais."

"Bosque?"

"Sim, bosque."

À medida que sua mente amadurecia, Abel percebia que aprender com o mestre não era tão diferente de correr sozinho pelo bosque, e ficou confuso. Um Regas é uma pessoa especial, então por que ele estava aprendendo isso? Mesmo depois de entrar no Bosque do Dragão com o príncipe, Abel ainda não tinha certeza.

O que ele ia contar e compartilhar a partir de agora era tão comum que quase não acreditava que pudesse domesticar o príncipe que herdou o poder do dragão. Além disso, Ashler nos advertiu sobre o Bosque do Dragão: "Se você não for o escolhido, vai se perder no bosque e morrer."

Até Abel estava assustado. Mas o motivo que o fez continuar caminhando em direção ao bosque sem hesitação, apesar de todo medo, foi a tristeza que se acumulava em seu coralçao. O cheiro de sangue que não desaparecia mesmo depois de esfregar. A crueldade de atacar quem se aproxima, causando sangue e despedaçando animais. Embora estivesse coberto de pelos, seu rosto estava inexpressivo. Uma marionete que não ri, não chora, nem mostra qualquer sinal de desagrado.

Aquele pequeno principe, fazia o coração de Abel afundar no peito. Ele abaixou levemente o olhar e observou o príncipe que segurava contra o peito. O garoto, exausto pela luta, agora estava em silêncio. As unhas e os dentes do garoto ainda se cravavam na carne de Abel, mas sem força.

Não importa o que os outros digam, para Abel, o príncipe é apenas um garoto assustado. Ele parou e olhou para o bosque que se erguia até o céu. Não sabia se havia algo que pudesse fazer. Talvez em um mês, ele deixasse o palácio recebendo apenas críticas e zombarias.

Ainda assim, queria segurar aquela pequena mão. Queria que ele sentisse pelo menos um pouco do conforto do bosque pelo qual corria. Isso é suficiente. Abel, que se havia instruído, sussurrou ao príncipe.

REGAS - PT/BROnde histórias criam vida. Descubra agora