Capítulo 3

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Acordei com muita dor no pescoço, tinha sido uma noite daquelas. A melhora que Papai teve no dia anterior foi anulada com o mal estar que ele sentiu a noite inteira. Só consegui pregar o olho depois das quatro da manhã. Não eram nem seis e meia e eu já estava de pé.

- Não deu tempo de fazer café, estamos de saida pro médico. E por favor, não procure discussão com Geovane!

Disse minha mãe da porta do meu quarto, ela era sempre ríspida.

- Tá bom, me avisa!

- Como? Não temos celular! Quando você chegar a noite, provavelmente já estaremos aqui! Se cuida!

Foi o que ela disse antes de bater a porta e sair com meu pai. Não consegui conter as lágrimas e desabei. Eu vivia numa constante entre o desespero e a pressão. Temia pela morte da pessoa mais importante da minha vida, tinha que aguentar humilhação e abusos daquele asqueroso, tinha que ouvir grosserias da minha mãe. Era a mesma coisa de estar no inferno!

Limpei cada lágrima e tentei passar alguma maquiagem para não transparecer minha infelicidade. O que não deu muito certo, meu nariz estava mais vermelhos que o normal e minhas sardas pareciam que iriam tomar conta de todo meu rosto.

- Você consegue! Um dia de cada vez!

Repeti pra mim mesma antes de pegar o ônibus para ir pro restaurante, não ficava muito longe dali. Fiz amizade com o motorista e ele me dava carona todos os dias, sempre eu tinha que ouvir dos outros passageiros que eu não pagava a passagem, mas não tinha o que fazer, eu não tinha dinheiro. Eram apenas nove quarteirões que graças a o motorista eu não precisava andar.

- Oii.. tá tudo bem?

Ingrid me cumprimentou e logo depois ficou apreensiva quando viu meu semblante.

- Não..

Respondi a abraçando. Me contive e consegui segurar as lágrimas.

- Seu pai está bem?

Balancei a cabeça negativamente respondendo sua pergunta.

- Vai ficar tudo bem amiga.. ele foi ao médico como você tinha falado ontem?

- Foi.. só vou saber a noite.. estou muito preocupada..

- Vai dá tudo certo amiga.. você tem que se distrair.. assim o tempo passa mais rápido. Eu não sou muito boa.. mas prometo que vou contar as melhores piadas hoje!

- Não sendo a do bêbado no bar.. qualquer uma vale..

Respondi lembrando da pior piada que eu já tinha ouvido dela.

- Não. Essa é muito boa por sinal!

Eu ri frouxo e caminhamos juntas para a cozinha.

- E o Geovane?

- Ainda vai passar hoje e amanhã fora.. que alívio!

Suspirei aliviada e sentei para tomar um café.

- Come um pouquinho, vou começar a varrer lá fora. Hoje é dia de varrer as folhas.. você varre?

Me perguntava todos os dias, o que o Geovane fazia com o lucro daquele lugar? Tinha a mesma estrutura de décadas, chão de terra.. a cidade estava evoluindo e o restaurante que era lotado todos os dias ficando pra trás!

- Pode deixar!

Fiquei ali pensativa, juntei as folhas, amarrei os sacos de lixo e fui colocar do outro lado da rua. Estava tão nublado que eu arriscaria que choveria naquele verão escaldante.

-Terminou?

Ingrid acabou me assustando. Ela me pegou distraída com o cabo da vassoura.

- Acho melhor você ir para casa..

Apaixonada pelo Comendador Onde histórias criam vida. Descubra agora