𝐶apítulo 𝑈́nico

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𝙅𝘼𝘿𝙀:
𝟬𝟲 𝗗𝗘 𝗔𝗕𝗥𝗜𝗟 𝗗𝗘 𝟮𝟬𝟭𝟰

[...]

Coloco a caixa que tinha trago no chão do meu quarto. Dentro dela tinham algumas coisas que os pais de Beck deixaram eu ficar. Eles me disseram para ficar livre no trailer e escolher algumas coisas para que eu lembre do meu namorado. Fiquei quase três horas lá dentro. Passei a maior parte do tempo apenas chorando em silêncio e pensando o quão idiota eu tenho que ter sido para não ver se aquela corda estava presa o suficiente.

Os dias ultimamente tem sido difíceis. Eu fico remoendo aquela sensação horrível de culpa. Beck morreu enquanto gravava uma cena para uma produção minha. Ele teria que pular de um “penhasco” e cair em um colchão fino. A cena era realmente um pouco arriscada — nós estávamos há quase onze  metros do chão de toda forma —, mas se ele estivesse preso á corda, e caísse em segurança nada de errado poderia acontecer! Mas bem, eu fiquei encarregada de checar a corda, e acabei não fazendo o meu trabalho direito. Ele pulou, a corda acabou se soltando e ele caiu. Não no colchonete, mas sim no chão duro. O Sinjin estava viajando em sua mente enquanto a cena acontecia e esqueceu de posicionar o colchonete.

A cena foi horrível. O barulho de seu pescoço se quebrando ainda ecoa em minha mente. O sangue pelo chão do teatro caixa-preta ainda está lá. Os gritos do restante da equipe, o ver em um caixão e saber que ele não queria fazer isso ainda me atordoam. Beck deu um pé atrás antes de irmos gravar a cena. Pela primeira vez, ele estava assustado de verdade. Ele tentou argumentar falando de um mau presentimento, mas todos nós apenas ignoramos. E bem, olhem onde isto terminou.

Vou até o banheiro do meu quarto. Eu não diria que eu aparento estar fisicamente abalada, mas qualquer um que conviva comigo o suficiente sabe que eu não estou bem. Pego uma escova de dentes no potinho e coloco pasta de dente nela. Quando estava prestes a leva-lá até minha boca, percebo o que eu fiz. Estou usando a escova que ele usava. Suspiro. Troco as escovas e finalmente consigo escovar os dentes.

Saio do banheiro. Olho para minha cama e vejo algo. Beck estava ali. Ele estava sentado, e encarando o porta retrato que tinha uma foto nossa.

— O que...? — digo, depois de um tempo em silêncio. — Mas que porra é essa?!

Ele gira seu pescoço rapidamente até mim. Meu coração começa a errar algumas batidas. Isso não é possível. Como ele está sentado ali? Beck sorri para mim. Aquele sorriso reconfortante que apenas ele tinha.

— O que você é?! — grito.

Ele não diz nada, apenas aponta para a escrivaninha. Lembro do que o médico falou. Se acontecesse do Beck sobreviver, ele não poderia mais falar. Suas cordas vocais tinham perdido sua função ali. Corro até a mesa e vejo um caderninho aberto.

“Venha e voe comigo”

A letra era dele de fato. Minhas mãos estavam trêmulas e suadas, meu coração acelerado e minha respiração levemente desregulada. O que ele quer dizer com isso? Ele quer que eu tire minha própria vida? Não, não tem como! Beck sempre mostrou se preocupar muito comigo e nunca incentivaria um suicídio. Mesmo que estejamos falando de seu fantasma. Que aliás, eu sempre acreditei que não existiam.

Olho para trás novamente. Nada. Ele tinha sumido. O lençol não estava sequer amassado.

— Como..?

Angel; 𝘰𝘯𝘦𝘴𝘩𝘰𝘵 𝘣𝘢𝘥𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora