Capítulo 4

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3 de outubro — 3° dia do Mundial de Ginástica Artística de 2023

O dia seguinte de uma competição é absolutamente terrível para as ginastas que competem em todos os aparelhos, no caso do Brasil: Rebeca e Flávia. Ao contrário do pós-apresentação em que a adrenalina ainda corre solta pelo corpo, na manhã seguinte, Rebeca mal consegue mexer seu corpo, e não entende como Flávia já está de pé.

Talvez seja por causa de suas cirurgias no joelho, ou por sua natural energia baixa pelas manhãs, mas mesmo depois de oito horas de sono é impossível firmar o pé no chão por mais de alguns segundos. Jade, que está com uma das chaves reservas para o quarto, a ajuda a caminhar até o banheiro e traz um prato de frutas e iogurte para ela.

Rebeca se sente um pouco culpada, Jade também competiu em muitos aparelhos e mesmo assim, está cuidando delas. Ela deve estar exausta. "Jade, não precisa, pode ir pro seu quarto."

A ruiva, sentada no pé de sua cama, mal presta atenção nela enquanto digita no celular. "Calma aí, 'tô chamando a massagista para vir dar uma olhada em você— vocês."

É bem frustrante, ficar acabada depois das competições enquanto ela vê suas colegas se recuperando normalmente. Se Jade vê a lágrima solitária que escorre de seus olhos, ela não comenta. "Ela vai vir aqui daqui há alguns minutos, combinei que vai passar de tarde também, aí vocês combinam um horário, tá bom?"

Rebeca concorda, e Jade deixa um beijo em sua testa antes de sair e encontrar as outras no restaurante do hotel. O combinado era que todas iriam assistir a competição hoje, analisar a concorrência, e prestigiar o evento, mas isso é impensável para Rebeca.

A massagista chega algum tempo depois, Chico entra junto com ela. "Tudo bem?" Ele pergunta enquanto a mulher belga começa pelas suas costas. "O dedo melhorou? Você 'tava sentindo um pouco depois das Barras."

Rebeca, com a cara enfiada no colchão, não consegue responder muito bem, mas confirma que a dor no dedo diminuiu, dando lugar a todas as outras. A massagem é dolorosa, quando a mulher acerta os nós que se formaram na base de sua coluna, Rebeca tem que morder o travesseiro pra não fazer nenhum barulho. O pós é muito melhor do que o durante.

Chico continua conversando com ela. "Até o final do dia vamos saber todas as classificações." A mulher desce para os pés e massageia com força. "A final por equipes está quase garantida, só vamos esperar para ver se ninguém vai surpreender hoje."

"A final do Individual Geral, Salto e Solo, com certeza já estão, e se nenhum absurdo acontecer hoje; a final da Trave também."

Rebeca grunhe entre os dentes, e vira a cabeça pro lado pra enxergar o treinador. "Como assim? Minha nota foi péssima."

A risada grave do técnico soa na sala. "Você vai se classificar em último, nono lugar na verdade." Ele explica. "Quatro chinesas tiveram notas que levam a classificação, mas só duas por nacionalidade podem competir, então, uma das vagas delas é sua."

É uma chance de medalha inédita, uma classificação que ela sempre tentou — ao contrário das Barras Assimétricas, que nem tentativa houve — e nunca conseguiu. "Ótimo."

Chico entende a situação imediatamente e eles ficam em silêncio pro resto da sessão, com os ocasionais grunhidos que escapavam da atleta, em principal quando a massagista focou em sua coxa direita.

"Nós vamos sair agora, tudo certo?" Ele pergunta, mas não tem resposta. "Rebeca."

"Que?"

Chico suspira, coloca uma mão no ombro da atleta ainda deitada. "Qualquer coisa me liga, os remédios estão do seu lado." E vai embora.

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