Capítulo 9

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6 de outubro — 6° dia do Mundial de Ginástica Artística de 2023

A delegação do Brasil mal esperou Rebeca descer do pódio para colocá-la dentro da van e ir embora do estádio, o humor da ginasta estava péssimo e nem mesmo Flávia aguentava mais. As duas discutiram por boa parte do trajeto até o hotel, dentro do quarto, e até, enquanto Flávia tomava banho.

Rebeca estava pronta para esmurrar todos os americanos que visse pelo caminho, o sorriso debochado de Cecile Landi — técnica dos Estados Unidos — no estádio foi o suficiente para deixar todos da equipe nervosos. Chico, passou reto mas xingou em português baixinho, enquanto Lorrane não mediu palavras. "Tô vendo tuas rugas daqui, bagre, nunca ganhou nada sozinha, horrorosa." Ela continuou gritando até que Jade tampou sua boca.

Ela não consegue ficar quieta, andando pelo quarto enquanto Flávia, chateada pelas notas abaixo do normal no Solo e nas Barras Assimétricas, já está embaixo das cobertas. "Gata, não tem porque você ir lá agora—"

"Claro que tem!" Rebeca corta. "Eu vou tirar satisfações, o cú dela que isso vai ficar assim." Ela mexe no cabelo, prefere nem se olhar no espelho. "Cara, ontem ela 'tava se declarando, Flávia, por favor, ela 'tava me beijando sentada no meu colo!"

Flávia segura uma risada, a situação é um pouco engraçada pelo fato de Rebeca estar visivelmente transtornada, mas por dentro Flávia está tão furiosa quanto. "Então vai, vai lá!" Isso é o incentivo que faltava, a porta já está aberta e antes de Rebeca sair por completo, sua amiga diz: "Se precisar de ajuda, me grita!"

Ela sai do quarto compartilhado e pisa no corredor, as luzes se acendendo assim que a porta se abre. Como um míssil teleguiado, em pouco tempo, Rebeca já está esmurrando a porta em sua frente, e com mais força sendo aplicada a cada segundo que passa.

Enfim, a porta se abre.

Simone Biles, agora sem o collant cravejado de diamantes, o trocou por um roupão azul que deixa pouco para imaginação, mas ainda com a maldita medalha de Ouro no seu peito. "Beca?" A voz cansada, confusa e frustrada, a estadunidense parece perto de cair no sono.

Rebeca não responde imediatamente, mas entra dentro do quarto e não deixa espaço para discussão, Biles fecha a porta, se preparando para o conflito

"Você contou tudo pra ela!" A brasileira está a poucos centímetros de distância da outra, e Simone consegue ver todos os detalhes da sua maquiagem, inclusive a pequena marca no delineado que parece muito o traço de uma lágrima caindo. "Aquela desgraçada quase pegou a minha Prata!"

Simone solta ar pela boca. "Não ri, não ri." O tom é sério, acompanhado de mais um passo, a mulher mais velha tem seu corpo colado na porta a fim de manter alguma distância entre elas.

"Rebeca." Ela diz, e isso deixa a brasileira ainda mais furiosa, a voz condescendente, como se não passasse de um drama adolescente. "Óbvio que não." Simone levanta suas mãos, pegando na mandíbula da rival. "É por isso que você está agindo como se tivesse quinze anos?"

A americana também está brava, e Rebeca sente as unhas afundando em seu rosto antes de se afastar. "Fica quieta." Ela aponta o dedo na cara de Biles. "Você sabe que não tinha como ela saber."

"Ela não me alcançou, logo não funcionou." Simone se defende. "Ela nem te passou!" Isso enfurece mais ainda a brasileira.

"Nem me passou?" Ela repete. "Como se fosse fácil? Eu não sou menos do que você, Biles." Rebeca cospe o sobrenome, e em resposta, Biles balança os ombros, a medalha de Ouro em seu peito se movendo junto. É uma provocação baixa, e tem efeito imediato na rival que revira os olhos e começa a falar. "Escuta aqui, sua—"

Ouro & Prata - RebilesOnde histórias criam vida. Descubra agora