Capítulo 3

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2 de outubro — 2° dia do Mundial de Ginástica Artística de 2023

A equipe brasileira entra no tablado hoje, dividindo o espaço com o grupo da Austrália durante o terceiro período. O objetivo de Rebeca hoje é assegurar a classificação para a disputa por equipes e no Individual Geral; além disso, se classificar para as finais do Salto e do Solo. A final da Trave ainda é algo incerto, um aparelho que a brasileira não tem tanta confiança quanto nos outros.

Elas acordam mais cedo que ontem, e dessa vez, são elas que fazem algazarra ao se encontrar no corredor. "Tomara que estejam escutando!" Flávia grita antes de ligar o som alto. A equipe toma café da manhã e sai do hotel ao ritmo do pagode brasileiro.

Rebeca sabe das expectativas do dia, sair sem a classificação seria um vexame. Ela também sabe das expectativas sobre si: ela tem que fazer a sua parte, senão, tudo será em vão. Ela continua sua preparação mesmo enquanto Espanha, Bélgica e Romênia competem. As outras atletas comentam das performances das equipes, da possível classificação da jovem romena no Solo, mas Rebeca mantém a concentração em si mesma. Quando a delegação do México e da Suécia entram na sala de espera, ela sabe que é a hora.

A mão de Chico segura seu ombro e a leva até a entrada do ginásio, ele se afasta, mas agora em seu lugar estão Flávia, Jade, Lorrane e Júlia. O abraço em cada uma é curto, mas cheio de significado. "Estou contigo!" Rebeca sussurra no ouvido de Flávia, ao mesmo tempo que sua amiga repete o mesmo, uma tradição de anos.

Júlia é a primeira a ser anunciada, a menina lida com o nervosismo bem, e encara as câmeras com um sorriso bonito. Lorrane faz o mesmo, e Jade também. Os gritos aumentam conforme a popularidade da ginasta, e quando Flávia pisa para fora e pisca para a câmera, o estádio faz ainda mais barulho.

Rebeca Andrade.

Ela entra no tablado, as luzes a cegam e o som faz seu cérebro balançar dentro do crânio. É um pouco assustador, mas Rebeca jura que sente o chão estremecer com a vibração do público. É assim que Simone Biles se sente sempre que é apresentada?

As atletas acenam e posam, e então, se dirigem para os bancos onde a comissão técnica já está estabelecida. A ordem dos aparelhos será a seguinte: Barras Assimétricas, Solo, Salto e Trave. Rebeca tira o abrigo com as cores do Brasil e revela o collant branco, criado pela colega de equipe, Jade. Os fotógrafos perto de si clicam sem parar, o contraste da cor com a de sua pele é intenso, sexy e traz muita confiança.

Ela passa pó em suas mãos e espera sua vez no aquecimento; Flávia está fazendo seus movimentos no momento. Rebeca aproveita para observar a plateia, e é óbvio que seu olhar para na mesma pessoa de sempre: Simone Biles. No meio de tantos, a mulher de 1,40 metros ainda é a única que chama sua atenção, mas lhe conforta que não é algo unilateral. O olhar da americana queima contra o seu, e incendeia a sua vontade de performar bem, de mostrar que é alguém com quem a ginasta deve se preocupar.

As Barras Assimétricas é um aparelho complexo, que exige ainda mais força dos seus braços — para se lançar contra o ar — e concentração — para voltar para a barra — que os outros. O aquecimento vai bem; ela já estava aquecida pela preparação que estava acontecendo desde a manhã, mas é importante sentir o aparelho, sentir a torcida, e se blindar contra o olhar que a fuzila.

Na fase classificatória, até quatro atletas podem fazer sua rotina no aparelho e a nota mais baixa é desclassificada. Lorrane é a primeira, infelizmente não consegue conectar um dos movimentos e perde muita velocidade, forçando a retirada de alguns elementos a fim de terminar no tempo correto. Jade faz uma boa sequência de movimentos, mas não crava sua saída e diminui um pouco a nota de execução. Flávia é a próxima. 13.600! A primeira nota acima dos 13.300 do dia no aparelho, todos comemoram a sua cravada, e então é a vez de Rebeca.

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