Prólogo

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Broward, Condado na Flórida - 19 de Agosto de 1994

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Broward, Condado na Flórida - 19 de Agosto de 1994

    Tenho certeza absoluta de que os jornais nunca chegam em minha casa porque ela é longe para um santo caralho da entrada da montanha, mas os entregadores precisam ser tão preguiçosos assim? Tipo, nunca, NUNCA MESMO, temos um jornal fresquinho na porta de casa como todo Estadunidense idiota. Não que seja algo realmente importante, tenho que admitir, mas gosto de ler um jornalzinho pela manhã enquanto tomo um bom café.

    Gosto de ficar parcialmente informado sobre o que ocorre nesse grandioso país - tenho o costume de ler o obituário desde os 11 anos. Não que eu seja um maluco em particular, perverso ao ponto de visitar funerais alheios de pessoas que nem mesmo conheço. Gosto apenas da ideia de ver quando será o velório de pessoas às quais fui eu mesmo a tirá-las do caminho. É divertido, preciso admitir. Me sinto um pouco egocêntrico, como um cara fodão. Seria ainda mais divertido, muito mais prazeroso de se ler as notícias, se pudesse ser informado que fui eu o benfeitor de tanta bagunça e tristeza - entre familiares desinformados e etcetera. Até porque, a maioria das pessoas que tiro do caminho, são ainda piores do que eu e é claro que os familiares nunca sabem sobre isso. Então é normal que fiquem decaídos, tristonhos, acabados com as mortes constantes.

    Enfim, resumindo muito, eu gosto de ler o jornal vez ou outra durante meus dias. Logo, como não tive tempo e muito menos disposição essa manhã para descer toda a montanha e pegar o jornal na civilização próxima, eu o peguei agora a pouco. Está todo amassado, enfiado no bolso de fora de minha jaqueta enquanto atravesso os ventos frios e noturnos de Broward em minha Triumph Speed Triple 1994 preta. Aumento um pouquinho a velocidade de minha adorável moto na esperança de chegar em casa o quanto antes. Quero chegar, tomar banho, ver um pouco de tevê e descansar. O dia foi longo, arrastado para um santo caralho e eu mal consigo manter meus olhos abertos.

    Principalmente quando a voz do senhor R. continua rondando entre meus neurônios ligeiramente murchinhos agora. Ele tagarelou tanto hoje, talvez tanto quanto em toda sua vida - ou a minha neste ramo em que trabalho desde os catorze anos. Oficialmente, tenho que dizer. Ele anda preocupado com o quanto venho sendo chamativo com meus serviços. Sou ótimo no que faço, quase perfeito até, mas meio que isso ainda o tira um pouquinho do sério - logo, ele teve que tagarelar para "enfiar um pouco de juízo nessa minha cabeça oca". Ele detesta chamar atenção, já eu, adoro. Por isso meu prazer obscuro e particular em ler o obituário. E, não posso evitar, ultimamente tenho feito um grande alvoroço no Condado mesmo. Ando animado com o aumento de meu salário e as portas que essa boa grana abriram para mim.

    Acabei me excitando com essa historinha toda.

    Quando finalmente chego a entrada de minha luxuosa casa, meus pensamentos momentâneos se desvencilham de minha figura e vão para longe. Desligo minha moto após estacioná-la, então desço. Trato de começar a caminhar em direção a entrada, notando a escuridão incomum em seu interior mesmo que eu esteja parcialmente focado em tirar minhas luvas de direção. Apenas para proteger as palmas de minhas mãos. Assim que elas estão fora do caminho, enfio a mão no bolso de fora de minha jaqueta e puxo o jornal que peguei agora a pouco na entrada da montanha. A mão livre seguindo para as chaves da entrada de casa, e, no segundo em que acoplo uma das chaves prateadas no trinco da porta e meus olhos caem no título da notícia da primeira página, eu recuo, fechando toda minha expressão.

𝑶𝒋𝒐𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝑽𝒆𝒏 - 𝑳𝒆𝒐𝒏 𝑺. 𝑲𝒆𝒏𝒏𝒆𝒅𝒚 | +18 [EM BREVE]Onde histórias criam vida. Descubra agora