Capítulo 1: O destino

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Na quietude da noite, quando a lua se encarnava em prata, Lyra, uma jovem de 16 anos com olhos brilhantes e um espírito indomável, estava reclusa em seu mundo de sonhos e imaginações. Seu quarto, um santuário de cores e contos, estava envolto pela escuridão da noite. Vestia uma blusa de manga comprida azul, a cor de um céu noturno ainda por sonhar. Mas, na serenidade do seu refúgio, o destino, com mãos cruéis, preparava um espetáculo de chamas e caos.

De repente, o rosnar das chamas invadiu o silêncio. A casa dos avós, que jamais a ofereceram o calor do afeto, tornou-se um inferno de fúria e labaredas. As chamas ameaçavam devorando o teto e as cinzas se espalhavam por todo lado.
O calor era sufocante e a porta da sala fora obstruída por um emaranhado de entulhos e escombros caídos do teto, enquanto o ambiente ao redor estava tomado por chamas vorazes.

Lyra viu que a porta estava completamente bloqueada e um muro de destroços e fogo tornava a saída impossível. A sala se transformara em um caldeirão de calor e fumaça, e cada tentativa de escapar pela entrada principal era uma luta contra o próprio inferno. Sem alternativas visíveis precisou buscar uma rota de fuga alternativa.

Com um salto audacioso e um coração que pulsava como um tambor na tempestade, ela encontrou a passagem secreta, uma abertura subterrânea que poderia guia-la até o mundo exterior. A passagem era escura, não era um completo breu por conta da luz das chamas que brilhavam lá em cima. Movida por uma força primordial e um medo crescente, rastejou com determinação.

O túnel parecia se estender interminavelmente, como um pesadelo sem fim. O teto da passagem, corroído pelo calor do incêndio, desmoronava atrás dela em um estrondo de destroços. Faíscas, pedaços de madeira e nuvens de poeira caíam em cascata, ameaçando obstruir o caminho. Cada som de estalo e o rastro de fumaça que se infiltrava pelo túnel faziam seu coração acelerar como nunca antes. A escuridão ao redor era profunda e opressiva, e a sensação de que o teto poderia desabar completamente a qualquer momento era quase insuportável.

Lyra rastejava com a determinação de uma alma desesperada, suas mãos e joelhos se arrastavam pelo chão de madeira velho. O calor abrasador das chamas atrás dela parecia querer alcançá-la, e o rugido do incêndio era uma constante lembrança do perigo iminente. O ar estava carregado de uma mistura de fumaça e poeira, que fazia seus pulmões arderem a cada respiração ofegante.

A passagem parecia se esticar sem fim, um labirinto sombrio onde cada curva e reentrância prometiam mais desafios. As sombras dançavam nas paredes ao seu redor, e o barulho do desmoronamento parecia se aproximar cada vez mais. Lyra sentia o peso do desespero em cada fibra do seu ser, mas continuava avançando, motivada pela visão de um futuro além do túnel.

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, Lyra conseguiu sair do túnel e emergir na noite. A visão que se desdobrava diante dela era um espelho de tranquilidade em meio ao tumulto. A casa, agora uma titã de fogo, lançava chamas como garras desesperadas. As cinzas dançavam como fantasmas em busca de novas vítimas. Lhe faltou forças nas pernas mas com a graça de uma alma destemida, ela rastejou para o abrigo da liberdade.

O caminho até o rio era uma corrida contra o apocalipse. As chamas, com suas línguas de fogo e gritos sibilantes, pareciam querer consumir não só o prédio, mas também o próprio ar ao redor. Mas com a força de uma vontade indomável ela continuou sua jornada, rastejando corajosamente naquele pequeno campo verde.

Finalmente chegou à beira do rio, um espelho de tranquilidade em meio à tempestade. A correnteza, em sua dança eterna, parecia acolher a menina perdida com braços líquidos e suaves. Lyra, exausta e com a respiração acelerada, se deixou cair sobre a água, que tocava suavemente seus joelhos como uma mãe carinhosa.

O frescor da correnteza era um contraste divino com o calor que ela havia enfrentado. Com os olhos fechados, a menina tentou resistir à exaustão que a dominava. Ela apagou. A água, como um alívio e um consolo, envolveu-a e a carregou com sua força serena. Seu corpo, agora tranquilo, era levado pelas correntes.

Enquanto o rio a abraçava, uma voz suave e profunda emergiu das águas, envolvendo Lyra em palavras de consolo e promessa:

"Espero que minhas águas não estejam tão frias para você menina. O seu lugar nunca foi aqui. Não se preocupe, te levarei para onde você sempre pertenceu. Finalmente!!"

Ainda inconsciente, Lyra flutuava sobre as águas escuras do rio, que a levava para longe do tumulto de sua antiga vida. A correnteza a guiava com uma gentileza firme e eterna, conduzindo-a para um destino incerto, mas cheio de esperança. O azul de sua blusa se fundia com as águas do rio, uma última lembrança da serenidade que ela trazia, agora transformada em símbolo de um novo começo. E assim, sob o manto das estrelas e o murmúrio das correntes, a jornada de Lyra se desdobrava em um novo e promissor horizonte.

Continua...

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