Um estranho em minha vida

Capítulo três

Ivan Bellini

Acordo contra a minha vontade ouvindo murmúrios e risos no andar de baixo. Juro que vou matar todos eles quando eu descer para o café da manhã. Tive um sonho tão bom com minha garota. Ela estava linda com sua camisola de seda e seus cabelos curtos pretos de forma selagem, tão macios e cheirosos que posso até mesmo sentir eles mesmo em sonho.

Suspiro e penso que aos meus 37 anos só posso estar caducando. Espero viver o bastante para conquistar elas duas.

Me levanto e vejo as horas percebendo ser simples a porra de 8hr da manhã. O que esses filhos da puta estão fazendo nessa hora do dia em um fim de semana na minha casa? Finalizo toda minha higiene descendo para a cozinha somente de calça e meias, chegando na mesma vejo que os três patetas estão cheios de dentes para o lado da minha Nonna, com certeza estão assim para conseguirem pegar mais coisas antes de terminar o preparo do café.

O primeiro a me notar é Brian, meu também melhor amigo. Um insuportável Golden boy da mesma idade que a minha, loiro com os olhos cor âmbar e que não é míope como eu, já que uso óculos. Temos todos os quatro quase o mesmo porte físico graças ao nosso antigo trabalho, algo na qual decidimos deixar para trás e focar em nossas obsessões, algo na qual somente a mim fiquei de fora desse surto coletivo até que encontrei minhas garotas.

Espero que com todos tendo as mesmas loucuras e pensamentos nada legais, eu consiga, quem sabe, algum conselho para conquistar o mais rápido possível elas.

Luke é o segundo do quarteto, o famoso gato preto. Cabelos morenos que sempre usa amarrado, os olhos azuis. Também é o mais novo, com 35 anos. Uma personalidade um tanto quanto bipolar, menos com sua garota. Algo que no nosso grupo concordamos e achamos isso muito bom da parte dele.

Finalizando com não menos importante, Pedro, também moreno, olhos verdes escuros, sendo um ano mais novo que eu. E sendo o nosso cabeça, onde encontramos uma razão e sendo o mais racional. Ele sempre foi fechado e não sabemos se ele tem essa mesma obsessão que temos pelas nossas mulheres, mas respeitamos o espaço dele.

-O que vocês estão fazendo aqui a essa hora da madrugada? Pensei que tivéssemos concordado em nos encontrar no horário do almoço?

-Sim, mas lembramos que a nossa amada Nonna iria preparar suas maravilhas panquecas e não resistimos. Não viu as mensagens no nosso grupo?- Brian fala com uma sobrancelha levantada enquanto tomava café, acompanhado de Pedro e Luke acenando com a cabeça com a fala do mesmo.

Nós temos um grupo para assim facilitar a comunicação entre todos. Seria muito cansativo enviar a mesma mensagem para mais de uma pessoa. Rápido, fácil, prático.

-Figliolo, tu dormito bene?

-Sim, vó. Consegui dormir um pouco mas não tanto quanto gostaria se minha garota estivesse aqui. - percebi tarde demais que ainda não tinha contado aos idiotas dos meus amigos que já tinha encontrado minha mulher e filha, sim, mesmo a pequena sendo irmã da minha mulher irei cuidar dela como se fosse minha filha. Estranho? Sim, mas não vou pensar nisso agora.

Pedro e Luke se engasgam com o café enquanto Brian abre um sorriso que até o gato de Alice no país das Maravilhas iria achar medonho. O mesmo estende a mão para Luke e o entrega uma nota de cem dólares.

Esses idiotas apostaram alguma coisa que eu não sei?

Nonna ajuda aos paspalhos enquanto eu preparo o meu café da manhã e as maravilhosas panquecas dela com uma calda que esquentei no micro ondas de chocolate.

-E então? Onde você a encontrou?

Ela é bonita?

-Já trocaram mensagens?

-Você beijou ela?

Fico abismado com as perguntas tão sem noção dos meus amigos sobre minha mulher. Coço a garganta e respondo os questionários dos mesmos.

-Supermercado, isso não é da sua conta, não tivemos tempo, nos meus sonhos serve como resposta para sua pergunta?- Ajeitei meus óculos e cabelo, tirando os mesmos dos meus olhos e espero mais questionamentos deles. Quando não ouço nada, observo eles me olhando com uma interrogação na cara.

-Sonhos? Como assim em sonhos? - Luke me pergunta entregando cem dólares para Brian.

-Eu sonho com ela há alguns meses, isso começou como se eu estivesse observando ela como um mero espectador. Logo depois estávamos interagindo, conversando e rindo. Pode parecer idiota da minha parte mas... quando eu a vi eu soube que eu não poderia explicar de forma alguma o quão vivo eu me senti só de ver ela ali, em carne e osso no mercado. E a irmã dela? Ela era a princesa mais fofa. As duas tinham a mesma cor de cabelo, pretos. Os olhos são como um vale congelado. Ainda preciso olhar mais atentamente para saber se seus olhos são mesmo cinzas ou se são de um azul tão claro quanto o céu. - suspiro e deixo de lado meu café da manhã, me sinto dez anos mais novo expondo isso pra fora e não deixando isso tudo guardado pra mim. - Por isso não consegui dormir tão bem sabendo que elas vivem no mesmo país, cidade e quem sabe se não no mesmo bairro que eu, longe de mim.

-Olha, - Pedro olha para os dois e os mesmos acenam com a cabeça para prosseguir - entendemos o que você está sentindo agora, ficamos felizes também com isso porque com certeza quando pegarmos nossas mulheres elas vão querer mais uma melhor amiga. E por Deus, não quero vocês sendo amigos dela. Suas mulheres? Sim, vocês? Não.- rimos do quão idiota ele é em um momento tão delicado e tenso pra mim.

-Sim, e já que você encontrou sua garota, que tal prosseguir com o plano para fazer ela se apaixonar perdidamente? Acredito que você tenha que seguir nossas regras mínimas pra que isso aconteça. - Luke me dá uma piscadela e um sorriso de lado que fico desconfiado.

-Vamos vir te buscar hoje, às 20hr e você saberá o que é isso. Sem perguntas, baby.- Brian diz se despedindo da Nonna com um beijinho na testa, acompanhado dos outros dois e puxando os mesmos.

Fico parado, com meu café da manhã frio, olhando para a porta de entrada tentando entender que porra foi que aconteceu.

-Você... você entendeu alguma coisa, Nonna?

-No, meu filho. Não entendi, mas então sobre a "sua mulher", porque não conversamos sobre isso, hum?- aceno com a cabeça e iniciamos uma conversa tranquila, a que deveria ter sido com os três patetas.

As horas se passaram e resolvi de alguma forma entrar em contato com meu antigo pessoal e tentar, quem sabe, descobrir tudo sobre elas. Preciso ficar sempre um passo à frente sobre qualquer coisa, não quero me surpreender com nada na qual me deixe mais distante do que já estou.

Consigo ter informações das mesmas já perto do horário que os meninos iram me buscar e deixo para ver as mesmas quando eu chegar em casa, espero que eles não exagerem na bebida e salgados.

Que essa noite dê tudo certo. Eu espero.