Um lobo em minha vida

Capítulo 64 °

Olho o rosto em minha frente, sem vida e em nada parecido com o homem que estava sempre disposto a me irritar. A vida que ele exalava e o sorriso perfeito que tinha foram consumidos pela briga inútil de dois povos. Uma briga que me alcançou e me trouxe para cá sem minha permissão. Uma briga que tirou o amor da minha vida e que deve pagar por isso.

Coloco minhas mãos sobre o peito de Peter, mas a magia que exala de minhas mãos não estão pretas como antes, que as trevas dominavam, ela está colorida e mais forte que o normal. Mesmo que minha raiva esteja evidente e minha vontade de matar a todos também, a junção dos quatro elementos está sobrepondo qualquer impulso das trevas.

— Para sempre. — Repito em um sussurro as últimas palavras dele. — E eles ficaram juntos para sempre. — Volto a resmungar. — Sempre... sempre... sempre.

A respiração dele não existe mais, minha mão continua parada sem nem um levantar indicando que seu coração, mesmo fraco, continua batendo. Ele morreu e me deixou.

Levanto a cabeça, olhando ao redor e percebendo algumas coisas que não pude enquanto me apavorava para não perdê-lo. A redoma de energia que nos protegia não está mais preta, ela está com as mesmas cores que a energia que emana de minha mão. Os guerreiros que resistiram antes e estavam tentando entrar para me deter, agora não fazem mais isso, pois estão curvados com o rosto no chão em uma reverência de respeito e misericórdia.

Liora e Tiel não estão em posição de ataque, eles estão fazendo o mesmo que os outros habitantes.

— Eu sou a escolhida. — Resmungo voltando a olhar pro corpo sem vida. — Sou poderosa.

Fecho os olhos, coloco meu ouvido no peito dele e me concentro em ouvir, e consigo. Apenas uma fagulha de vida que ainda resta dentro de seu ser. A vida está se esvaindo lentamente e se ainda há batida, há uma chance de fazê-lo voltar.

Lembro de um feitiço que vi no grimório, de um casal que se amava muito e quando ela estava prestes a morrer de uma doença, ele jurou amor eterno a ela. A alma deles se conectaram e eles passaram a ser um só. Dois corpos, uma alma.

Começo a transferir minha energia para ele, sinto ela sair de mim e ser compartilhada. Uma ventania se forma ao nosso redor, mas me agarro a ele e tento ao máximo fazer nossos corpo ficarem conectados.

— Eu te amo, Peter. E a partir de hoje nós seremos ligados. Mas não apenas nessa vida, estaremos ligados para todo o sempre, assim como suas últimas palavras. Não importa quanto tempo passe, nós sempre iremos nos encontrar. Te amarei para sempre e serei eternamente sua. — Concluo minha fala selando nossos lábios e também a promessa.

Espero que isso funcione, só vai se concretizar se o amor dele for forte o suficiente como o meu. E o amor precisa ser verdadeiro, não um amor que surgiu por uma ligação destinada como companheira dele.

Olho para ele, mas nada acontece. Ele continua imóvel e volto a colocar meu ouvido em seu peito, a pequena batida que existia antes, se foi. Agora é definitivo, o amor dele por mim não foi forte o suficiente para nos manter juntos.

Fico de pé, tentando ser forte e fico de costas para ele. Dou um passo para frente, mas vacilo e caio de joelhos, a cúpula que nos protegia desaparece no mesmo instante, me deixando vulnerável para fazerem o que quiser. Se bem que, acho que agora eles não vão mais apontar dedos para mim, proferir palavras cruéis ou tentar me matar, precisaram tirar um pedaço de mim para perceber que tudo que falei era verdade.

A culpa é deles. É deste reino. Eles merecem pagar por isso. Merecem perder tudo que importa para eles, só para saber a dor que estou sentindo e dói tanto. Levanto minhas duas mãos lentamente, deixando bem aberta e tendo plena convicção de que se eu apenas fechá-las, consigo fazer um estrago enorme. Posso trazer a ruína e o caos que tanto queriam evitar.