O diário de uma atleta

One

10 de Julho de 2024, França.

O carro estaciona na frente de uma casa ridícula onde não se compara a minha anterior. Ela parece bem antiga e pequena, com certeza vou ser zoada na nova escola por isso.

Ela é toda feita de madeira clara, tem um andar só, um portãozinho branco com algumas partes de tinta descascada.

Casa velha e feia.

- Tem certeza que é aqui mãe? Olha essa casa! - resmungo, saindo do carro.

- O que tem a casa, Khloe? Ela é bem estruturada e tem espaço para nós duas - diz Claire, saindo do carro. Eu a acompanho.

- Ela é velha você quis dizer né? Preferia minha vida antiga - bato a porta do carro com força.

- Mas agora essa é sua vida - Claire tira as malas do porta-malas e me dá uma delas. Seu olhar animado me irrita, ela não deveria estar assim após de fazer o que ela fez.

-  Por que você teve que se separar do papai, hein? Que droga! - digo brava, andando até a porta da nova casa, praticamente arrastando a mala contragosto.

Indo em direção à porta principal, esbarro em um vaso de flores mortas, bufo e percebo que um par de chaves estava embaixo delas.

Ué, mas minha mãe não está com as chaves?
Bom, deve ser uma cópia.

Abro a porta e um cheiro meio empoeirado invade meu nariz, espirro e coloco minha mão sobre o ele, para evitar que eu seja contaminada com essa poeira suja.

A casa é toda revestida em madeira escura, ela é bem arejada e parece não ser usada há um bom tempo, há um sofá avermelhado no centro e uma mesa de jantar logo atrás. Tenho quase certeza que Claire vai fazer questão de encher esse lugar com plantas e flores patéticas.

Essa casa é bem diferente da minha, tudo é muito diferente da minha antiga vida e isso me irrita muito. Meus pais se separaram há 1 mês atrás, até então eu morava na minha casa em Paris, era tudo tão perfeito e eu amava minha vida. Porém, minha querida mãe quis se separar do meu pai por motivos que ela não quer me contar pois é "coisas de adulto". Foi tudo tão caótico, só sei que ela pegou sua guarda para mim e não deixa eu ver meu pai.

- Ela é bem arejada né? Eu achei ótima - minha mãe comenta com um sorriso, aparecendo ao meu lado, ajeitando seus cabelos loiros atrás da orelha.

- E bem empoeirada também - acrescento, com uma cara de tédio.

- Não fica assim filha, você terá uma vida incrível aqui - ela coloca sua mão em minhas costas como forma de consolo enquanto sorri docemente  - Também tem a natação, você pode ter novas oportunidades que você ainda não teve.

Sorrio incrédula para ela.
Como ela pode falar disso depois de tudo?

-  Você não entende que eu não sou boa na natação? Não sirvo pra isso! O lugar não irá mudar as coisas. - falo, tirando sua mão das minhas costas.

-  Você ainda tem 14 anos! Você terá muitas outras oportunidades, não é só porque você perdeu sua última competição que você não pode ser a melhor.

- O problema é que eu perdi todas as competições que eu já participei, mãe. Esse é o verdadeiro problema. Natação não é pra mim. - quando ela tenta falar algo eu a corto. - Vou para o "meu quarto" que com certeza é pior do que meu antigo. - faço aspas com a mão enquanto dou as costas para ela, sem poder conferir se ela se chateou ou não. Não me importo.

Abro a porta do meu quarto, a parede é de um tom lilás bem clarinho e em algumas partes estava falhado como se alguém tivesse colocado diversos quadros e os tirado.  A esquerda, do lado da cama, há uma mesa de madeira junto com uma cadeira e ao lado oposto há armários com adesivos corações.