Capítulo V

149 23 1
                                    

Wuxian


Depois daquela noite entre Wangji e eu na cozinha, com a embaraçosainterrupção de Lian ao final, manter distância dos dois se tornou a missãonúmero um para mim.           Óbvio que o destino insistia em cruzar os nossos caminhos, mas memantive firme em meu propósito. Então, embora ele fizesse questão em sergentil e solícito, sempre me perguntando sobre Yuan ou o trabalho; eu permanecio mais distante possível. Não porque não quisesse conversar com ele ou sabercomo havia sido o seu dia também, mas porque me aproximar de Wangji seriacomo me atirar em uma fogueira bem acesa. E eu não queria me queimar. Nãodessa vez.               Minha vida já era problemática o suficiente, não precisava nutrirsentimentos proibidos pelo namorado da minha melhor amiga, para complicar.Eu ergui um muro e me escondi atrás dele, disse a mim mesmo que essa era amelhor solução, mas sentia uma pontada de tristeza no meu coração; meu bobocoração.           Agora estamos na semana do Natal, Lian viajou para Nova Iorque parapassar o Natal com a família. Senti certo alívio por estar sozinho em casa e ficarlivre dos olhares de Wangji. Contudo, uma pequena parte de mim sentia invejade imaginá-los juntos, ele conhecendo a sua família. Que péssimo amigo eu metornei, afinal.                  A rotina no trabalho estava extenuante e eu estava trabalhando algumashoras a mais que o comum, devido ao grande movimento do feriado que seaproximava e me sentia triste por ficar ainda mais tempo longe de Yuan.        Eu mal podia esperar pelos longos e maravilhosos dias de descanso queteríamos após o Natal. Seriam os primeiros dias de completo ócio em muitotempo e embora eu soubesse que passaria todas as festividades no sofá; nãopoderia estar mais ansioso para fazê-lo.             Sim, eu não tinha grandes planos para o Natal, aliás, eu não tinha planoalgum. Ning continuou insistindo para que fôssemos cear com ele e a suafamília, mas eu não me sentia à vontade invadindo um momento tão íntimoassim. E mesmo que ele sempre tenha sido tão doce e querido conosco; eurecusei.         Na manhã do dia vinte e quatro fui para o trabalho mais cedo e encontreiuma torta de maçã com meu nome, além de um lindo ursinho de pelúcia para oYuan. Presentes de Ning é claro, ele me fez chorar. Quando saímos do shoppingà tarde, o estacionamento já estava quase vazio. Havia apenas algunsretardatários em busca de presentes de última hora.         Liguei para minha mãe assim que chegamos em casa. Ela estava superemocional sobre ficarmos separados em uma data tão significativa, por essemotivo tentei não demonstrar minha própria tristeza, embora me sentisse tãomelancólico quanto ela. Não tê-la ao meu lado em datas tão significativas, eramuito doloroso.                Conversamos por quase uma hora e ela me fez tirar fotos de Yuan com aroupa natalina que havia enviado pelo correio dias antes. Ele não gostou doschifres de rena e ficou tentando tirar o chapéu o tempo todo... foi fofo e essa foia forma mais simples de estarmos perto, mesmo com tanta distância física entrenós.


       Às nove horas da noite, Yuan já estava exausto e caiu facilmente no sonoenquanto eu o amamentava após o seu banho. Deixei-o dormindo no berço emsegurança e fui para o chuveiro. Então deixei as lágrimas, que contive o diainteiro, caírem livremente.                Já há algum tempo só me permitia chorar no banho, tinha alguma coisa naforma como as lágrimas se misturavam com a água que caia do chuveiro; quenão fazia eu me sentir tão fraco. Quase como seu pudesse enganar a mim mesmoe fingir que não estava chorando. Eu me sentia sozinho de uma forma que nuncame senti antes.        Meu choro não demorou muito, no entanto, sobretudo porque precisavaser maduro por Yuan. E também por ter descoberto há muito tempo, que chorartrancado no banheiro era um privilégio que mães de bebês pequenos nãopossuem.        Após o banho, fico sentado na beirada da cama, enrolado em uma toalha eouvindo apenas a respiração suave de Yuan vindo do berço, enquanto penteio osmeus cabelos com lentidão. Após longos minutos fazendo isso, abro a minhagaveta e vou direto para a minha camiseta favorita para dormir. Uma que haviasido do meu pai e que eu tinha colocado em minha mala para os diasmelancólicos.         Gosto de pensar que ela ainda possui o seu cheiro e que vesti-la em diasem que me sinto mais solitário, equivale a ganhar um abraço seu. Ambas ascoisas parecem impossíveis, mas eu acredito piamente nas duas. Abraçando omeu próprio corpo, me debruço sobre o berço do meu bebê e toco o seu rosto.Mesmo dormindo, ele parece notar minha presença e um pequeno sorriso surgeem seu rosto. É tão lindo quando ele faz isso e me traz uma paz indescritível.Saio do quarto com a babá eletrônica na mão, embora a casa seja tão       pequena que eu ouviria facilmente o seu choro, mesmo estando na sala. Depoisde ligar a tevê em um volume aceitável, caminho com destino certo para ageladeira. Pego o pote de sorvete que trouxe para a casa junto com outrascompras hoje à noite e volto para o sofá.              Eu deveria estar dormindo também, aproveitando o sono profundo de Yuane recuperando o meu sono atrasado. Mas sei que não importa o quanto eu merevire na cama, não conseguirei dormir.            Eu me afogo em meu pote de sorvete, como alguém faz com uma garrafade tequila e mudo os canais por um tempo, procurando por um filme que não mefaça chorar outra vez, quando ouço uma batida na porta. A princípio eu acho queestou delirando, que foi fruto da minha imaginação ou que a batida veio da tevê.Mas o barulho persiste mais algumas vezes, cada vez mais nítido, ganhandominha total atenção.

Just Love Me - Adaptação/ MPREGOnde histórias criam vida. Descubra agora