capítulo 2

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Me lembro exatamente da primeira vez que a sensação de dançar se tornou algo importante na minha vida. Eu devia ter uns oito anos, era dia dos pais e minha escola organizou uma festa de comemoração, esse era o pior dia do ano para mim, afinal, meu pai nunca aparecia.

Mesmo assim, ensaiei com meus colegas uma coreografia e no dia da apresentação, minha mãe estava lá, eu fiquei tão feliz de ver ela que dancei com mais dedicação. O dia mais triste do ano se tornou o mais feliz e tudo isso graças à dança. Meu pai continuou não aparecendo em todos os outros anos, mas depois desse dia nunca mais parei de dançar, eu queria sempre sentir o que senti naquele dia. Com o tempo, minha mãe procurou cursos de dança para que eu pudesse aprimorar meu talento, fiz muitos amigos que compartilhavam o mesmo sonho que eu, tive professores incríveis e tudo isso me fez esquecer a falta que meu pai fazia, minha mãe gostava de dizer que a dança ressignificou tudo para mim e que existia uma Madu antes e uma depois da dança. Com as apresentações, o palco se tornou meu templo, a música meu guia e a plateia, um aconchego familiar.

Era nisso que eu estava pensando ao subir naquele palco com o Veigh. Eu estava nervosa, é claro, ao olhar para a plateia e ver aquele mar de rostos ansiosos por emoções. As luzes piscavam em tons vibrantes, criando um espetáculo de cores que se mesclava à batida contagiante da música. Respirei fundo, sentindo a energia pulsar em cada fibra do meu ser. Era hora de me transformar em arte, em movimento, em uma explosão de vida que contagiaria a todos.

A melodia preencheu o ar, cada nota me guiando como um mapa, revelando os segredos da coreografia que eu havia ensaiado rapidamente para apresentar nessa noite. Meus pés se moviam com leveza, deslizando pelo palco como se flutuasse sobre nuvens. Meus braços se erguiam em gestos expressivos, contando a história da faixa que Veigh tinha escolhido, Meio Pá.

Ao meu lado, Thiago era a voz que dava vida à música, sua energia contagiando a todos. Nossos olhares se cruzaram por um instante, e senti uma conexão profunda, uma sintonia mágica que pareceu elevar nossa performance a um nível superior. Éramos um só, corpo e voz em perfeita harmonia, parecendo que tudo ali casava muito bem.

A plateia vibrava, respondendo à nossa energia com aplausos e gritos de entusiasmo. As meninas que estavam na frente do palco tentavam imitar meus movimentos, parecendo estarem realmente se divertindo com a performance. Senti a adrenalina correndo em minhas veias, alimentando cada movimento, cada gesto, cada expressão. Eu era a personificação da música, a alma da melodia que se manifestava em forma de dança.

Nesse momento, o tempo parecia se diluir, e o mundo ao meu redor se resumia ao palco, à música e à plateia. Eu era livre, leve, como se estivesse dançando nas nuvens. Cada passo, cada giro, cada movimento era uma explosão de alegria, um tributo à arte que me movia e me definia.

A música chegou ao clímax, e eu dei tudo de mim, lançando meu corpo para perto de Veigh, que fez o mesmo, se aproximando como se estivéssemos no meio de uma discussão. O suor escorria pela minha testa, mas eu não me importava. Eu estava vivendo meu sonho, realizando a minha paixão com cada fibra do meu ser.

Ao final da música, meus ouvidos foram tomados por uma explosão de gritos, assobios e aplausos que ecoaram por todo o lugar. Meus pulmões ardiam, minhas pernas tremiam, mas meu coração transbordava de felicidade. Eu fiz tudo o que podia, e a resposta da plateia era a prova de que eu havia conseguido tocar seus corações, restava saber se eu tinha agradado o restante da equipe.

Saí do palco sob uma chuva de aplausos, ovacionada por todos. Toledo me abraçou com força, seguido de Ghard que tocou minha mão antes de subir no palco para cantar a última música. Uma garota da produção se aproximou com uma toalha e uma garrafa de água e me entregou, em seguida retirou o ponto eletrônico da minha orelha e me parabenizou pela performance.

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