Orixaísmo ou a Tradição do Orixá

889 23 0
                                    

Como ja foi dito, o candomblé possui duas vertentes principais: a Bantu e a Sudanesa (Daomeana e Yorubá). Os primeiros negros trazidos como escravos para o Brasil eram Bantu, vindos principalmente de Angola e do Congo. Em seguida vieram os Daomeanos, povos Ewe, Jeje, Fon e Mina, oriundos de onde hoje se situa o Benin. Por último chegaram os povos Yorubás, dos reinos de Ifé, Isogbo, Ijexá, Oyó e Ketu.

Os primeiros estabeleceram uma tradição sincretista, chegaram aqui já catequizados e em contato com os indígenas sobreviveram em relação ao aprendizado com eles aprendido sobre a fauna e flora brasileira. Aqui surge um culto conhecido na época por nBandla Bantu, em três linhas especificas: Exus e Pombagiras, Caboclos e Almas (Pretos Velhos e Erês). A miscigenação de crenças segue com a forte presença cigana entocada nas matas, próximos às senzalas. A nBandla Bantu segue até o século XVII onde começa a se dividir, surge cultos como a "macumba", os "batuques" e os "calundus".

Dos calundus se originaram as grandes casas de candomblé. Focaram os elementos africanos, mas mantiveram os elementos indígenas na figura do caboclo e alguns elementos do catolicismo romano. Mas o foco passou a ser a matriz africana.

O candomblé Bantu cultua inquices, ancestrais divinizados, encantados por nZambi (Deus) para regerem os seres humanos em uma associação de reinos, elementos e fenômenos da natureza. O candomblé Jeje/Fon (Daomeano) traz o culto a ancestrais divinizados, mas também o culto à divindades específicas "semi-deuses" responsáveis pelo destino humano, estes são os voduns. Por fim se forma o candomblé Yorubá, principalmente chamado de Candomblé de Ketu/Nagô, cultuando divindades inúmeras: os orixás. Este último prevaleceu sobre os demais dada sua consistência e preservação do culto matricial africano. Haja vista que os Yorubás eram escravos de companhia, que trabalhavam dentro das casas, amas de leite, mucamas etc. Príncipes, princesas e sacerdotisas eram mandados para ocuparem estes postos junto aos senhores de engenho e suas famílias.

Assim é comum afirmar que predomina a cultura do orixá ou orixaísmo. Dessa forma temos dentro de terreiros de matriz Bantu e Daomeana a presença da nomenclatura dos orixás, pois estes se fizeram mais conhecidos. Quem conhece Bamburucema? Mas todos conhecem Yansan. Quem conhece Kabila? Mas todos conhecem Odé. Quem conhece Lembarenganga? Mas todos conhecem Oxalá. E assim por diante, com todos orixás. Mais uma etapa sincretista para as outras matrizes, ou se associam ou são esquecidos. Passam despercebidos.

Esta associação e ainda os estereótipos criados para aqueles que são regidos por cada orixá são o foco desta obra e também assuntos para o próximo capítulo.

Estereótipos e Verdade no CandombléOnde histórias criam vida. Descubra agora