Estereótipos e Verdade no Candomblé

Iniciados para o Segredo

O candomblé é uma religião de caráter e iniciático e o fetiche da fé está nos segredos desse processo e, ainda, dos processos que se seguem no cumprimento de obrigações religiosas anuais para que assim novos segredos sejam revelados ao neófito que anseia galgar respeito e "idade" dentro do culto. Diversos são os cargos que podem ser ocupados pelos iniciados que cumpriram pelo anos até as obrigações de sete anos, quando se torna alguém mais "respeitável" pelo conhecimento acumulado até então.

Com a chegada da modernidade e mais ainda com os avanços da informática e da internet, fica cada vez mais difícil manter esses segredos. Circulam pelas redes sociais vasto material escrito e fotográfico que ensina ao modo "passo a passo" cada um destes segredos, desde os mais simples até os que envolvem a iniciação e as obrigações anuais. Muitos criticam, outros apoiam e o consenso é sempre difícil de ser achado neste quesito.

Os mais antigos mantém a postura de cultuar suas divindades debaixo dos segredos ensinados pelos antigos, pelos pioneiros de cada casa, raiz ou nação de candomblé. Enquanto os mais jovens igualam seus ancestrais divinizados aos artigos acadêmicos, tornando a fé mais desmistificada e ressaltando a importância das energias envolvidas nos rituais, sendo isso mais importante que manter o segredo per se.

A internet é aliada também daqueles que buscam no continente africano suas matrizes, o ponto original do negro presente no culto candomblecista. Viagens constantes à Nigéria, Angola, Congo e Benin com intuitos religiosos são cada vez mais comum. Esse "turismo religioso", uma espécie de peregrinação, emvolve também assuntos comerciais: estátuas, roupas e bijuterias são importados para serem revendidos em lojas especializadas em artigos afrorreligiosos aqui no Brasil. Para muitos um avanço para se alcançar a pureza da crença africanista, para outros um abandono das verdadeiras raízes do candomblé. Cada vez mais fica difícil encontrar um consenso entre as religiões de matriz africana. O Brasil é o berço da diversidade de raças e crenças, reflexo visto em religiões como Umbanda e Candomblé que trazem traços de brancos, índios e negros em sua ritualística básica.