Luiza
O som insistente do alarme cortou a tranquilidade do meu apartamento. O relógio marcava 5:00 da manhã, mas eu já estava acordada há algum tempo, como de costume. O Rio de Janeiro parecia um gigante adormecido a essa hora, mas eu sabia que logo a cidade acordaria para mais um dia de caos.
Meu nome é Luiza Guimarães, detetive da Polícia Civil. Ao longo dos anos, aprendi que cada dia em serviço pode ser tão imprevisível quanto mortal. A vida de uma detetive no Rio de Janeiro não é fácil, e quando se é mulher, as coisas podem ser ainda mais complicadas. Mas eu nunca deixei que isso me detivesse. Minha mente afiada e meu instinto para resolver casos complicados são minhas maiores armas, e hoje, eu iria precisar de ambos.
Recebi a notificação da operação na noite anterior. O que me aguardava não era apenas mais um caso, mas uma missão conjunta com o BOPE. A elite da polícia militar, famosa por seus métodos extremos e sua eficácia brutal. E liderada por ninguém menos que o Capitão Nascimento. Ele era uma lenda na polícia, um homem temido por criminosos e respeitado, às vezes com reservas, por seus próprios colegas. Eu sabia que nossa colaboração seria tudo menos tranquila.
Respirei fundo enquanto vestia meu colete à prova de balas. Hoje, eu não seria apenas a detetive Luiza, mas alguém que precisava provar seu valor em um ambiente onde a força muitas vezes se sobrepõe à razão.
No caminho para o ponto de encontro, as ruas do Rio começavam a ganhar vida. Pessoas caminhando para o trabalho, vendedores abrindo suas lojas, e aquela mistura de sons e cheiros que só essa cidade tem. Enquanto dirigia, minha mente estava focada no que estava por vir. A missão era clara: encontrar a filha do prefeito que havia sido sequestrada por uma facção criminosa que estava se expandindo rápido demais. Mas a maior dificuldade seria encontrar um equilíbrio entre as táticas do BOPE e a aplicação da lei da forma correta.
Quando cheguei ao armazém abandonado que servia de base temporária, meu coração acelerou. Não era a operação que me preocupava, mas a dinâmica que teria que enfrentar com Nascimento e seus homens. Já tinha ouvido falar bastante dele - sobre sua frieza, seu pragmatismo implacável, e a forma como ele lidava com as situações mais difíceis sem pestanejar. Eu, por outro lado, sempre acreditei que a justiça não deveria ser comprometida, mesmo nas circunstâncias mais adversas.
Assim que entrei, o clima tenso era palpável. Os homens do BOPE estavam espalhados, todos prontos para a ação, com olhares desconfiados lançados em minha direção. Nascimento não estava ali ainda, o que me deu alguns minutos para me preparar mentalmente.
Logo, ele entrou. O Capitão Nascimento. Sua presença era forte, quase esmagadora, mas eu me mantive firme. Eu tinha uma missão, e não iria permitir que minha determinação fosse minada.
Ele me observou enquanto eu começava a expor a estratégia que vinha elaborando desde a noite anterior. Minha abordagem era direta, prática, mas focada em minimizar danos colaterais e preservar vidas inocentes. Sabia que aquilo poderia não agradar a Nascimento, mas era a forma como eu operava.
"Nosso objetivo é neutralizar a ameaça sem causar danos colaterais", expliquei, apontando para o mapa. "Vamos precisar de uma abordagem coordenada e estratégica."
Mal terminei de falar, e ele já interrompeu. "Eu não preciso de uma aula de estratégia. Eu preciso de resultados. No campo, a teoria é diferente da prática. E eu não tenho tempo para discussões filosóficas sobre justiça."
Sua resposta era exatamente o que eu esperava. Nascimento via o mundo em preto e branco, sem espaço para nuances ou diálogos. Mas eu não recuei. Encarei-o diretamente, tentando transmitir que estava ali para fazer meu trabalho, e que acreditava na importância de fazer isso da maneira certa.
"Eu não estou aqui para discutir filosofia. Estou aqui para ajudar a resolver o problema. E, se me permitem, acredito que a nossa colaboração pode ser a chave para derrotar essa ameaça."
Havia uma tensão silenciosa entre nós. Eu sabia que ele estava testando meus limites, e que eu teria que ganhar o respeito dele não apenas com palavras, mas com ações. Ele finalmente cedeu, mas não sem me deixar um aviso claro.
"Vamos ver o que você pode fazer," disse ele, com uma frieza calculada. "Mas saiba que eu não estou aqui para ser amigável. Se você cruzar a linha, eu não hesitarei em tomar as medidas necessárias."
Não respondi, mas mantive o olhar firme. Sabia que isso seria difícil, mas estava disposta a enfrentar o que viesse. Nossa missão ainda estava para começar, e eu estava determinada a mostrar que, apesar de nossas diferenças, poderíamos trabalhar juntos para salvar essa cidade.
À medida que o briefing terminava, e nos preparávamos para entrar em ação, uma coisa ficou clara para mim: essa missão não seria apenas sobre capturar a filha do prefeito, mas sobre provar a mim mesma e a Nascimento que, mesmo em um mundo cheio de violência e desespero, ainda havia espaço para justiça - e para uma colaboração que, quem sabe, poderia surpreender a todos
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O peso da farda
FanfictionNo Rio de Janeiro quem quer ser policial tem que escolher: ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra. Ser tenente coronel da polícia militar do estado campeão em violência me parece ser suficiente pra declarar a minha escolha: é guerra, parceir...