Planejando o resgate

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Nascimento

Sabíamos que, em situações como essa, cada segundo contava. Respirei fundo e chamei o time para uma reunião de emergência. A operação que planejávamos até então seria posta em espera. Prioridade máxima: resgatar a garota. Qualquer desvio poderia custar a vida de uma inocente, e não tínhamos margem para erros.

Quando Luiza acabou seu "discursinho", percebi que a analisava de cima a baixo,  cabelos castanhos na altura do busto, olhos amendoados com uma profundidade na qual poderia me perder neles, um corpo bem delineado, ela é linda, tenho que admitir. Seu olhar estava mais sombrio do que antes, mas ainda determinado. A proximidade desse caso com as esferas mais altas do poder político aumentava a pressão sobre todos nós, mas também trazia uma oportunidade para testar nossas habilidades e nosso trabalho em equipe – mesmo que essa “equipe” fosse composta de duas pessoas com visões diametralmente opostas.

Eu tomei a palavra e comecei a delinear o plano. “Nossa prioridade é localizar o cativeiro. Eles exigiram 10 milhões de reais em 24 horas, o que nos dá uma janela muito estreita para agir. Não podemos permitir que saiam impunes, nem que coloquem a vida da menina em risco.”

Luiza ouvia com atenção, mas percebi que seus olhos percorriam o mapa na tela, como se já estivesse formulando suas próprias ideias. Isso me irritava um pouco – eu liderava essa operação, e preferia que ela seguisse minhas diretrizes sem questionar. Mas então, ela fez algo que eu não esperava.

“A localização mais provável para um cativeiro com essas características é em uma das áreas industriais abandonadas na Zona Oeste”, disse ela, apontando para uma seção do mapa. “O terreno é difícil de acessar, mas oferece rotas de fuga rápidas. Se eu fosse eles, é onde eu estaria escondida.”

Ela tinha um bom ponto, e eu não podia ignorar isso. Inclinei a cabeça, analisando as opções. Meu instinto ainda era confiar nos informantes que tínhamos nas favelas – eles sempre foram nossa melhor fonte de informação. Mas a análise de Luiza era precisa, e eu precisava admitir isso, mesmo que não gostasse de dar crédito tão cedo.

“Certo, vamos dividir nossa abordagem”, decidi. “Enquanto os informantes do BOPE sondam as favelas, você, Luiza, coordena a busca nas áreas industriais. Quero que esteja em campo, mas mantenha contato constante.”

"Jura, Capitão? É meio contraditório me dizer que devo manter contato constante" ela disse de uma forma debochada.

A encarei, ignorei esse comentário. Será que se eu arrancasse aquele uniforme e a chupasse fazendo gritar meu nome ela continuaria com aquela marra toda?

Voltando a atenção ao plano, continuei a dar as instruções para a equipe, detalhando os próximos passos. Cada movimento precisava ser meticulosamente calculado. Luiza contribuía com suas sugestões de vez em quando, mas sempre com uma cautela que eu respeitava, mesmo que relutantemente. Era como se ela entendesse que, nesse jogo, qualquer movimento errado poderia custar vidas.

Quando a reunião terminou, senti que havíamos coberto todos os ângulos, mas ainda havia algo pendente – a tensão entre mim e Luiza. Enquanto os outros oficiais se dispersavam para seus postos, ela ficou para trás, revisando o mapa mais uma vez.

“Detetive, espero que entenda que, no campo, não há espaço para erros ou hesitações. Não podemos nos dar ao luxo de agir por impulso ou emoção”, disse, cruzando os braços enquanto a observava.

Ela ergueu os olhos para mim, sem nenhum traço de incerteza. “Eu sei disso melhor do que ninguém, Capitão. E não estou aqui para provar nada, exceto que podemos salvar essa garota. Se tiver alguma dúvida sobre minha capacidade, vamos deixar isso de lado e focar no que precisa ser feito.”

Havia firmeza em suas palavras, mas também algo mais. Talvez uma determinação em mostrar que ela podia andar lado a lado comigo, sem ser apenas uma subordinada. Mesmo que eu não gostasse de admitir, era bom ter alguém com a cabeça no lugar ao meu lado.

“Veremos o que acontece no campo”, respondi, suavizando meu tom. “Mas não pense que vou facilitar para você.”

“Eu não esperava nada diferente, Capitão”, ela disse com um pequeno sorriso antes de sair da sala.

Fiquei ali por um momento, assistindo-a partir. Era cedo demais para saber como essa parceria iria se desenrolar, mas uma coisa era certa: Luiza Guimarães não era alguém que eu poderia simplesmente ignorar. A operação estava apenas começando, e se tudo desse certo, poderíamos acabar surpreendendo a nós mesmos.

O peso da fardaWhere stories live. Discover now