Mais uma criatura atordoada pelo amor.

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Dessa vez, o negócio acabou comigo [...]

enquanto ela estava ali
diante de meu espelhomais jovem e bela do que
qualquer outra mulher que eu já conhecerapenteando
metros e mais metros de cabelo ruivo
enquanto eu a observava.

e quando ela veio para a cama, 
estava ainda mais bela do que nunca 
e o amor foi muito bom.

[...] agora ela se foicomo todas se vão.
[...] é um longo caminho de voltamas de volta para aonde?

o cara na minha frente acaba de cair;

passo por cima dele.

será que ela também o acertou?
A retirada, Charles Bukowski

Primeira Noite.

Camila.

Nova York, setembro de 2013.

O outono estava em seu auge; via-se pela lâmpada dos postes que iluminavam as ruas vazias, a garoa caindo. Ventava bastante. As folhas secas das árvores passavam flutuando pelos ares. E de acordo com o noticiário, aquela seria a noite mais fria da temporada.

2h15am.

Frio e tédio cumprimentavam-se.

No bar, haviam apenas dois homens bebendo suas cervejas, sentados no banco com os braços apoiados no balcão de madeira rústica; eles debatiam suas banalidades, falavam sobre times de futebol e mulheres. Ali eu era apenas uma figurante secando copos.

Era como uma noite qualquer, de um dia qualquer, onde nada grandioso aconteceria. Onde tudo que eu faria resumia-se em servir mais doses aos homens, secar alguns copos e ao final do expediente, iria para casa com as mãos cheirando a licor.

Apenas outra volta desse círculo vicioso chamado de minha vida.

Não que fosse terrível trabalhar naquele boteco de aspecto rústico, que parecia ter sido tirado pelos braços da era Vitoriana e jogado nos anos dois mil, mas creio que para uma mulher da minha idade, cheia de aspirações futuras, não era o emprego dos sonhos.

Mas eu já estava acostumada.

Algum tempo depois, os dois homens ainda estavam lá falando sobre futebol e mulheres. E eu estava sentada, fazendo as contas para fechar o caixa.

Já não garoava do lado de fora, mas ainda ventava bastante.

3h25am

Era uma noite qualquer, de um dia qualquer, onde nada grandioso aconteceria.

Foi o que pensei, pouco antes de alguém adentrar o bar fazendo a porta empenada emitir um rangido esganiçado. Estiquei o pescoço e por cima da registradora pude ver um rosto feminino de expressão séria se aproximando.

- Uma água tônica, por favor. – Pediu gentilmente a moça que acabara de entrar.

Assenti ao seu pedido logo a servindo.

E agradecendo com um aceno de cabeça, e sorrindo gentilmente, logo voltou sua atenção ao smartphone preto em suas mãos. Permanecendo de pé, de frente para o balcão.

The Last Coffee (book version)Onde histórias criam vida. Descubra agora