Mais uma criatura atordoada pelo amor part. 2

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Camila

- Nos vemos amanhã! – Afirmou Lauren, assim que chegou bem perto da porta.

Ela sorriu para mim e acenou. – Tchau, Camila!

Eu sorri de volta e acenei também.

Ela se foi.

Naquela noite, ela havia aparecido mais cedo, chegando pouco antes da meia noite. Estava ansiosa, risonha e falava sem parar. E posso admitir sem medo que havia adorado aquilo nela. Sua presença era bastante agradável e apesar de me deixar cada vez mais curiosa, Lauren despertava coisas diferentes em mim. Coisas boas, mas atípicas.

Seu olhar não era tão simples como os dos outros, a coloração deles também não era tão comum. Eram como esmeraldas irreverentes de coloração imponente. O tipo de olhar que te faz sentir pequeno diante a imensidão da íris.

Seu sorriso era como um feito grandioso, pois era uma moça muito séria.

Até conversar com ela me deixava nervosa. Bastava ela surgir na noite e sentarse de frente para mim para que as palavras sumissem de meus lábios. E muda, eu ficava feito uma grande pamonha, olhando-a, sem saber o que falar.

Fechei o caixa, coloquei as cadeiras para cima das mesas e tranquei o bar.

Hora de ir para casa.

Pelo caminho, eu pude sentir os primeiros raios de sol aquecerem meu corpo, que estava gélido pelo ar frio que a noite provocava. Aquele bar nem precisava de climatizador, afinal, já portava o clima antártico próprio.

O céu estava bastante bonito naquela manhã. Não havia uma nuvem sequer e algumas aves voavam livres pelo azul infinito; a brisa leve movimentava as folhas esverdeadas das árvores e o som da vizinhança era acalentador.

Os vizinhos se cumprimentavam, um garotinho passava de bicicleta entregando os jornais, o carteiro andava calmamente pela calçada com sua bolsa pendurada no ombro.

Tudo sempre seguia aquela mesma rotina.

- Buenos días, mama! Buenos días, papa! – Cumprimentei meus pais, que estavam sentados à mesa tomando café.

Eu havia acabado de chegar a casa.

- Buenos días, mi hija... – A voz de meu pai soou como de costume, deprimida.

Ele detestava me ver chegando aquele horário, detestava me ver tão cansada

e sonolenta. Dizia que eu estava me anulando, que pagaria minha faculdade sem pestanejar, mas eu batia o pé, dizia que não precisava. Eu queria ser grande, ser adulta e se precisasse sofrer um pouco para conseguir isso, que assim fosse.

- Como foi o trabalho? – Minha mãe perguntou, relutando com o sotaque hispânico.

- Ah, o de sempre: Velhos bêbados, solidão, filmes ruins passando na TV e a mesma companhia para o café. – Sorri ao lembrar de Lauren.

- A garota depressiva ainda te faz companhia? – Meu pai riu. – Isso é bom!

Me alegrava vê-lo sorrindo.

Meu pai era um homem de cinquenta anos, alto e robusto, cabelos grisalhos e expressão séria. Desde de nossa vinda para a cidade de Nova York, o senhor Alejandro Carazzo se desdobrava em mil para sustentar a família. Dava aula de matemática em três colégios diferentes e ainda era tutor particular por alguns finais de semana.

Minha mãe, Susan Espinoza, minha quarentona favorita, a mulher mais guerreira que já conheci. Cuidava da casa, nas horas vagas fazia pinturas a óleo e tricoteava. E mesmo quando as coisas iam mal, ela estava sempre alegre, cantarolando canções do Elvis.

The Last Coffee (book version)Onde histórias criam vida. Descubra agora