Ache o que você ama e deixe isso te matar.

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Meu coração lá de longe faz sinal que quer voltar. Já no peito trago em bronze:
NÃO HÁ VAGA NEM LUGAR

Pra que me serve esse negócio que não cessa de bater?

Mais parece um relógio que acaba de enlouquecer

Pra que é que eu quero quem chora, se estou tão bem assim, e o vazio que vai lá fora
cai macio dentro de mim?

Além Alma, Paulo Leminski. 

Seis anos depois...

Lauren

Era uma manhã agradável de céu azul, sol brilhante e brisa leve; o melhor do blues tocando no rádio de minha Range Rover. A paisagem se movimentava depressa do lado de fora do vidro; árvores, flores, montanhas. Parecia uma daquelas manhãs que você acorda cheia de alegria e pensa: Hoje ninguém vai estragar meu dia!

Pena que esse tipo de otimismo já não me atingia mais.

Eu estava a caminho de Huston, no Texas, para mais uma entrevista na qual eu deveria estar animada, mas tudo que eu conseguia sentir era arrependimento por ter esquecido meu cantil em casa. Que eu não me sentia realizada há bastante tempo era fato e isso era notório. Só não me recordava de quando havia começado a não sentir mais nada.

Eu gostava de escrever. Gostava não, eu amava!

Escrever, para mim, era como o vôo para as aves: Libertador e necessário.

A cada verso, sentia-me viva como plantas na chuva, era como se minha existência, minha essência, dependesse daquilo. Escrever era meu respirar, o meu pulsar. Todavia, já fazia algum tempo que as palavras me escapavam do laço.

"Um escritor é a soma de suas experiências", disse um pensador que me foge o nome.

E eu? Bom, eu já não tinha mais nada para contar.

Meu coração não estava partido, não havia nenhum amor desgraçando ou iluminando minha vida – o que era até bom – e não estava bêbada em algum lugar luxuoso ou nostálgico.

Nada de grandioso me acontecia.

O fato é que um escritor só consegue transpassar com maestria aquilo que sente ou já sentiu, e por um longo período, eu senti muitas coisas.

Felicidade, amor, tristeza, mágoa, raiva.

Por um bom tempo pude contar a todos sobre as flores que brotaram em meu peito, falei sobre o cheiro das gardênias e a delicadeza de suas pétalas, e também pude dissertar a dor dilacerante de ver o jardim sendo pisoteado por brutais pés. Também espalhei esperança de que novas flores viessem a brotar e todas essas coisas sentimentais que nos movem.

Só que de tanto semear as flores, vê-las brotar cheias de beleza e, por consequência, vê-las sendo pisoteadas, aos poucos o jardim foi se entristecendo, o solo perdendo a saúde.

Eu fui cansando de sentir.

Se toda vez que eu sentia algo, no final, eu me resumiria a lágrimas, meu coração por legítima defesa decretou que daquele outono em diante, não sentiria mais nada. Foi então que ocorreu em mim uma ditadura poética, as palavras se calaram em protesto, da caneta não saia nenhum verso, nenhum manifesto.

Cheia de ego e vazia de alma.

A criatividade se esvaía feito água corrente pelos meus dedos.

- Maldições... – Rangi os dentes resmungando, quase rosnando, ao ver a fachada envelhecida da editora que haviam me encaminhado para a tal entrevista.

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⏰ Última atualização: Aug 29 ⏰

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The Last Coffee (book version)Onde histórias criam vida. Descubra agora