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ℂ𝕒𝕡í𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟘𝟙: Coincidências.

Qual o poder da colisão de dois corações desatentos?

| Geladeira do tempo, anavitoria

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O cheiro do café recém-coado tomava conta de todo o cômodo do apartamento de Mariana, enquanto estava apoiada no balcão apenas aguardando uma ligação ou o som de uma notificação no celular, batia os pés freneticamente e puxava as cutículas da unha da mão esquerda. A pouca luz do ambiente, contrastava com a escuridão da noite que já passava das sete. A única fonte de iluminação era a tela do notebook em cima da mesa da cozinha, onde a silhueta de Mariana se destacava na luz branca.

Era um momento importante em sua carreira como jornalista. Há anos ela trabalhava como freelancer, construindo sua reputação com matérias independentes e reportagens, mas nunca havia tido a chance de cobrir um evento de proporções tão grandes como as Olimpíadas. Inclusive, houve uma vez em que tinha se arriscado e se passou por alguém de um veículo da imprensa apenas para conseguir informações exclusivas com atletas que estavam envolvidos em escândalos de apostas, um risco que quase resultou em um processo.

Mariana almejava por ter um espaço seu no jornalismo esportivo, quando vi que seus ex-colegas formados haviam conquistado a carreira dos sonhos era como se ainda faltasse algo para ela alcançar também. Essa inquietação a levou a uma madrugada acordada, há quase dois meses, quando decidiu que faria tudo ao seu alcance para cobrir os Jogos Olímpicos em Paris.

Listou em ordem alfabética os contatos de mais de cinquenta estações de rádio, emissoras de TV e jornais impressos da região, parecia que os remédios para ansiedade tinham criado o efeito contrário e estava mais despertada do que nunca. Quando amanhecia, ela já tinha enviado seu portfólio com uma carta, resumidamente, ela se apresentava como uma jornalista que estava disposta a ir para Paris cobrir os jogos de uma "maneira que ninguém nunca viu". Mariana sabia que não seria fácil, pois a maioria das redações já tinha uma equipe de cobertura completa.

Enviou e-mails, fez ligações, e até bateu na porta de algumas redações para mostrar que estava preparada e que merecia o cargo, chegou a dizer que pagaria todos os custos, mas ninguém queria assumir a responsabilidade por uma jornalista iniciante. O que ela não imaginava era que seria notada por um canal no Youtube que havia conseguido os direitos das transmissões. A última reunião com a equipe fora ao início do mês e hoje ela deveria receber o e-mail confirmando sua participação.

Até que o celular apitou e ao terminar de ler a mensagem, suspirou alto levando as mãos na boca enquanto os olhos lacrimejavam. Mariana Santos Castellani agora é uma das responsáveis pela cobertura das Olimpíadas de Paris 2024. E com o coração aquecido e a sensação de dever comprido, Mariana se deixou cair no sofá, ainda processando tudo o que havia acontecido. Ela estava prestes a embarcar na maior aventura de sua vida e sabia que cada momento em Paris seria uma loucura, como poderia ir para um país que não conhece? Uma língua que não fala? Em que momento achou que isso seria uma boa ideia?



| Aeroporto, 08h37

No aeroporto, Mariana arrastava uma mala de rodinhas cheia de equipamentos e seus itens pessoais. Procurava com olhar alguém da equipe de imprensa que ela "conheceu" apenas virtualmente nas reuniões que realizavam por vídeos chamadas e quando estava stalkeando o perfil dos novos colegas de trabalho. 

Seu olhar passava por todos os grupos de pessoas que encontrava, reconhecia os rostos de alguns jornalistas, mas ninguém parecia ser a pessoa que ela esperava. 

Sereia | gabriel medinaOnde histórias criam vida. Descubra agora