³

143 8 0
                                    

CHAPTER THREE;
⎯  Os holofotes cantam.




          Quando moleque a única vez que me senti nervoso, inquieto e ansioso foi a minha primeira apresentação na vida, que era uma música que iria cantar com a minha turma em homenagem a revolução Meiji.

Estava ao banco de trás de carro balançando minhas curtas pernas e mexendo nas cutículas de minhas unhas e sem olhar em um ponto fixo, além de que a cada cinco segundos suspirava longamente.

Toda mãe como boa observadora, ela não era diferente, olhou o retrovisor que era capaz de me ver e notou como eu estava.

"Está nervoso?" A voz era doce e sútil, podendo sentir a harmonização de tranquilidade querendo ajudar.

"Não" Como toda criança eu não confirmei, querendo transparecer que isso não era nada de mais.

"É normal ficarmos nervosos, isso é algo natural do humano. Traga esse sentimento e o transforme, repita na sua cabeça 'eu consigo, eu consigo, eu consigo'. Você é incrível, meu filho, eu sei disso e sei que consegue"

Ela sempre foi boa em me entender, primeira e única em toda a minha existência até agora, foi graças a ela que consigo ser como desejo.

Eu consigo;
Eu consigo;
Eu consigo.

Mas ele fodeu tudo.

A plateia ansiava aos gritos porquê o jogo logo iria começar, faziam um coro de música dos times que torciam, e isso deixava todos os jogadores ansiosos.

Quase todos;

Menos eu, Satoru Gojo.

Mas o meu time estava ansioso, sentados com as pernas inquietas e sentindo o coração congelando por dentro. Já jogaram muito antes, mas nunca na semifinal para o jogo internacional e ainda mais para um público que estava dez vezes maior de pessoas.

Estava no chão fazendo abdominais para me aquecer e não causar uma tragédia de dor no corpo. A minha cabeça não parava mais do que nunca quieta, mil pensamentos e vozes turbinando como um tiro de uma arma branca.

E especialmente aquele de cabelos pretos; totalmente inesquecível, e isso me trazia uma agonia imensa. Sim eu tento não relembrar, mas é inexplicavelmente impossível.

Ao som de fora era audível ver que era a hora de entrar na partida. Todos do time se levantaram ficando em fila em suas numerações e fomos para a quadra.

A luz forte do estágio que bateu diretamente nos meus olhos fizeram fechar pouco pela a ardência. Isso faz lembrar que sinto falta de meus óculos.

Os gritos de encorajamento e os cânticos de torcida preenchem o estágio, criando uma atmosfera elétrica. Bandeiras, cartazes e faixas são agitados freneticamente, exibindo mensagens de apoio e fotos dos jogadores favoritos ⎯ haviam muitas fotos minhas ⎯ a metade estava vestindo camisetas, bonés e cachecóis que representam as cores e o espírito pelo meu time. Estava magnífico.

Quando nos destacamos ao meio, as luzes eram radicalmente fortes, foram feitas para não perder um movimento qualquer a um jogo, conseguindo ver cada centímetro e milímetro. Ao todo do jogo a minha posição é o pivô que atua mais próximo a cesta inimiga, tanto na defesa, quanto no ataque; minha altura é graciosamente alta pela a função.

Eu receber a bola é fundamental para ganharmos, assim como Rui ao todo como Armador principal, o cérebro e o plano de tudo.

Aos meus ouvidos sentia meu coração bater forte, a visão filtrada no chão que reflete tudo em volta.

Por achar que está alucinando pelas as luzes fortes seria uma loucura, sim?

Mas a vida é uma constante mudança de planos.

Olhando para frente eu vi o homem dos cabelos comprovados serem macios, não estava do lado como todos nas arquibancadas, mas na quadra, na minha frente.

Me tocando agora, não notei que fomos a casa dele, tendo uma noite na própria casa dele e não me tocando na decoração como um sinal, um alerta.

Um alerta que seria ele.

Ele me olhou e por um segundo eu desejei que ele não me olhasse, porque a expressão dele era neutra, fechada, não conseguia compreender.

Ele acenou com as mãos no ar, mas não para mim e sim ao público, como se não ligasse. Passar pelas pessoas enquanto elas olham e encaram.

Faça seu show.

Faça seu show rápido, antes que a partida comece.

Então esse é código.

Há de ter uma razão, tem a tensão que estamos tendo um com o outro. E ele está tentando ser amigável e agir na forma legal.

Mas ele tem que entender que está agindo como tosco; isso é tosco, e provavelmente o jogo mais difícil que terei na vida.

O som da partida foi solto e tudo se agitou mais ainda, eu pulei no automático já não conseguindo trazer a bola para o nosso lado, porque ele foi mais rápido.

Uma, duas, três e batidas e ele passou para o próximo.

Meu corpo agia como um carro no  automático, sem pensar antes de agir e só ia de acordo quando ele se mexia, a ausência dele no mesmo lugar estava mexendo comigo. Louco, mas é assim que as coisas são.

Milhões de pessoas vivem sendo inimigas, mas talvez isso não seja tarde demais para aprender amar e se esquecer de como odiar.

Sinto saindo dos trilhos como um trem. Escutei os holofotes, os barulhos dos tênis, a bola sendo rebatida sobre o chão. Apenas assistindo eles avançarem, e vendo aquele que não tinha certeza se sabia que estava me controlando de cabo a rabo.

E eu sei que as coisas estão dando errado. Preciso pensar; preciso, preciso, preciso.

Ao fim eles marcaram a cesta fazendo a loucura em volta dos mares de gritos.

"Vamos Gojo, preste atenção!" Gritaram me fazendo focar na realidade, preciso disso, preciso focar.

Eu consigo;
Eu consigo;
Eu consigo;

"Eai gato, curtindo o jogo?" Ele não me respondeu; estávamos frente a frente e desta vez a bola se mantinha em minha mão pingando freneticamente enquanto ele tentava acompanhar.

Nesses segundos eu reparei em seus olhos, aquela íris totalmente roxa como flores de lavanda, que pode ser transmitido um aconchego e paz pra dentro de si, mas ele não transmitia isso, seus olhos só estavam focados na bola, na partida, em atacar.

Ele avança, mas sou rápido em passar entre as pernas dele e correr adiante a frente quase chegando a cesta.

Nos tornamos herdeiros da guerra fria, é isso que nos tornamos, herdando encrenca.

Estou mentalmente entorpecido.


A.

SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora