Eu amo a raposa

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Fico no banheiro um tempo e não escuto barulho na casa. Nick aparentemente saiu, então resolvo sair também. Demorei um tempo para entender a história dele e aceitar a realidade. Foi um choque, confesso, mas não estou brava com isso. Na verdade, talvez eu já esperasse por algo assim.

Desde jovem, sempre ouvi falar que um macho de outra espécie, para ter interesse em fêmeas de outras espécies, precisaria ter um fetiche estranho. Não imaginei que fosse verdade.

Engulo meu orgulho e começo a procurar por ele pelo pequeno quarto, querendo tentar conversar novamente. Sem contar que a gravidez me deixou bem mais sensível; se fosse a antiga Judy, com certeza tentaria resolver isso de uma maneira mais racional.

- Onde ele foi? - pergunto a mim mesma, olhando ao redor.

Saio do quarto, olho para o corredor e escuto vozes baixas. Caminho em direção ao som e percebo que é a voz de Nick, que parece estar abafada. Ando mais um pouco e paro em frente ao apartamento ao lado. Quem diria, Nick interagindo com os inimigos.

Pego coragem e bato na porta. Eu tinha visto meus vizinhos poucas vezes e sempre os achei esnobes e metidos. Se o Nick não estiver lá, será mais um motivo para eles se fofocarem sobre mim.

- Toc, toc - bato na porta novamente

Um kudu aparece. Não costumava ver muitos por aqui.

- Oi... eu...

- Ah, você é a vizinha? - ele pergunta, sorrindo e abrindo a porta. Através das patas dele, consigo ver o interior da casa e vejo Nick sentado com as orelhas baixas. Ele parece preocupado e está conversando com alguém.

- Desculpe atrapalhar. Estou procurando aquela raposa... - digo timidamente, apontando na direção. Saber que eles ouviram nossa conversa íntima me deixa inquieta e envergonhada.

- Pode entrar - diz ele, simpático, enquanto abre a porta.

- Com licença - respondo, entrando e segurando uma das minhas orelhas. Meu desconforto é evidente.

Assim que entro devagar, Nick percebe minha presença e se levanta rapidamente.

- Judy - ele diz, indo até mim - você está bem? - Sua preocupação é clara.

- Sim... eu queria falar com você - digo, olhando timidamente em volta - em particular. - Dou ênfase na palavra "particular".

- Claro - responde Nick. - Mas antes, gostaria de te apresentar o Bucky e o Pronk. Eles são seus vizinhos. É até engraçado fazer isso - ele completa, rindo amarelo.

- Desculpe atrapalhar vocês - digo, olhando agora para os dois tipos que se assemelham a cervos à minha frente.

- Tudo bem, menina - diz o que me recebeu na porta, parecendo bem mais sociável do que o outro.

- Prazer, meu nome é Judy. Vocês já me conhecem, aparentemente - digo, sorrindo timidamente e colocando a mão sobre a minha barriga já aparente, tentando evitar olhares curiosos.

Eles percebem meu comportamento, e Nick me observa de canto.

- Você já jantou? - pergunta Pronk, estendendo a mão para mim. - Venha. - Ele me puxa gentilmente até a mesa. Estava morrendo de fome, então não recusei.

Sento-me e como em silêncio. Nick ainda conversava com Bucky na poltrona atrás de mim. Eu estava um pouco desconfortável. Minha mãe sempre dizia que, quando uma fêmea engravida, as coisas ficam estranhas, e estar cercada por muitos machos talvez estivesse me deixando ansiosa.

Ouço uma cadeira sendo arrastada perto de mim e vejo o kudu se sentar. Ele abre um sorriso.

- Então, a comida está boa?

Minha cenourinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora